"Somos anjos duma asa só e só podemos voar quando nos abraçamos uns aos outros."

Pensamento de Fernando Pessoa deixado para todos os que estão na lista abaixo e àqueles que passam sem deixar rasto. Seguimos juntos!

OS AMIGOS

terça-feira, 30 de novembro de 2010

3º DIA DO ADVENTO

“Esta é a voz daquele que grita no deserto; preparai os caminhos do Senhor, endireitai as Suas estradas. Todo o vale será aterrado, toda a montanha e colina serão aplanadas; as estradas curvas ficarão rectas e os caminhos esburacados serão nivelados. E todo o homem verá a salvação de Deus” (Lc 3, 4).

Quais são os nossos desertos? Como poderemos faze-los florir?

Neste 3º dia de Advento não venho sozinha, trago Maria para caminhar connosco. Maria que ao firmar o seu compromisso com Deus se despojou de tudo e se dispôs a cumprir o Seu plano permitindo ser ponte entre o céu e a terra para que chegasse até nós a salvação. «Faça-se em mim segundo a Sua Palavra». Lc1,3
Maria que quando anunciou a vinda de Jesus o fez com alegria e com ela proclamou a Sua grandeza; «A minha alma proclama a grandeza do Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador». Lc 1,46-47

À semelhança de Maria recebamos com alegria responsável este Advento, encarando-o como uma graça oportuna e valiosa para mergulharmos num confronto interior tendo em vista objectivar os pontos que devemos mudar ou melhorar. 
Nem sempre passamos em retrospectiva os nossos actos, perdendo assim a oportunidade de nos auto-avaliarmos e consequentemente, nos corrigirmos.
É muito fácil cair em erro e consequência da nossa condição humana de pecadores, a emenda é dolorosa.
Sempre que deixamos que a nossa indiferença se sobreponha ao acto de agir; sempre que nos fechamos no nosso mundo, preferindo ignorar o que nos rodeia; sempre que não seguramos a mão que para nós se estende para dar ou receber; sempre que a Palavra ou o testemunho ficam retidos na boca que se cerra por falta de coragem de os gritar, sempre que nos rendemos à inércia e ao comodismo/facilitismo, estamos relegando para segundo plano o plano de Deus em nós, impedindo que ele se concretize.
Destes, alguns reconheço-os como meus, são os buracos do caminho que preciso aplainar para melhor acolher Jesus. São eles que me impedem de fazer silêncio e escutar a “voz que grita no deserto” impossibilitando que floresça a Sua palavra em mim, e à semelhança de Maria, ser “ponte” entre Deus e o meu próximo.

No evangelho de hoje* Jesus incita-nos a deixar o nosso “barco na praia” para O seguir.
Tendo a luz que já acendemos como estímulo, peço que ela incida nos nossos corações, incendiando de amor e gestos de coragem os nossos actos. Que esta oferta de Jesus seja aceite por todos nós.
Vamos espera-l`O, seguindo-O confiadamente.

— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós. 
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
— Glória a vós, Senhor.

*Jesus andava à beira do mar da Galileia, quando viu dois irmãos: Simão, também chamado Pedro, e seu irmão André. Estavam lançando as redes ao mar, pois eram pescadores. Jesus disse-lhes: «Segui-me, e farei de vós pescadores de homens». Eles deixaram as redes e seguiram Jesus. Indo mais adiante, Jesus viu outros dois irmãos: Tiago e João, filhos de Zebedeu, consertando as redes. Eles deixaram imediatamente a barca e o pai e seguiram a Jesus. Mt 4,18-22

- Palavra da Salvação.

- Glória a vós, Senhor.

Amanhã visitaremos a casa da Gisele e iremos reflectir juntos o 4º dia do Advento

(
Dulce Gomes

sábado, 27 de novembro de 2010

RUMO: ADVENTO


O caminho da fé faz-se andando. Tal como todos os caminhos tem etapas que se podem revelar diferentes na sua conjuntura. Umas serão mais facilmente transpostas, outras deixam-nos as marcas dos seus obstáculos e trilhos, mas todas elas tem apenas um só propósito: Chegar mais e melhor a Deus!
Estimulante não é? Este desafio que nos desinstala da nossa rotina, que nos incomoda (no bom sentido), que nos estimula a reagir, a ir mais além dentro e fora de nós mesmos, a conhecermo-nos e a pormo-nos à prova enquanto cristãos. E este avançar é tão gratificante que nem o facto de chegarmos ao fim duma etapa reconhecendo que poderíamos ter feito mais e melhor nos derruba. Pelo contrário, compramos umas sandalinhas novas e fazemo-nos de novo ao caminho cheios de alegria, de esperança e gratidão por mais uma oportunidade que o Senhor nos dá para nos aperfeiçoarmos e renovarmos de forma a que transpareça e transborde para os outros a chama que nos ilumina. A minha luz é muito ténue mas junto às vossas brilhará mais...
Por isso vamos caminhar neste Advento com 21 luzinhas acesas pela luz maior e única: A do nosso Salvador, nosso Senhor Jesus.

Ordem das nossas pegadas:
Utília
http://demaosdadasnacaminhada.blogspot.com/
Teresa desabafos-Teresa
http://teresa-desabafos.blogspot.com/
Degrau de Silêncio-Eu
http://degraudesilencio.blogspot.com/
Gisele Pontes
http://giselepontes.blogspot.com/
Maria Luiza
http://sentidomaior.blogspot.com/
Regina
http://.reginamurbach-renascer.blospot.com/
Mer
http://retirodoeden.blogspot.com/
Ailime
http://rotasdiferentes.blogspot.com/
Joaquim
http://queeaverdade.blogspot.com/

http://partilhas-em-fa-m.blogspot.com/
Felipa
http://cristo-sempre.blogspot.com/
Sandra
http://teologar.blogspot.com/
Canela
http://marcomcanela.blogspot.com/
Sónia
http://paineisdeaveiro.blogspot.com/
Cassola Marques
http://sobre-a-vida.blogspot.com/
Arco Iris-Maria
http://www.arcoirisnoceu.blogspot.com/
GiraGirassol-Catarina
http://giragirassol.blogspot.com/
Hysterical-Cecília
http://givenmehysteria.blogspot.com/
Pe. JAC
http://caritasdei.blogspot.com/
Sara Amaral
http://estradadejerico.blogspot.com/
Lucinha
http://lucinhasdreamgarden.blogspot.com/

Unidos na espera e na esperança de renovação em Cristo Salvador
Que o Espírito Santo nos ilumine!




quinta-feira, 25 de novembro de 2010

JÁ COMPRARAM AS SANDÁLIAS?

Vamos caminhar de mãos dadas no Advento?
Do que é que estão à espera? Eu já comprei umas sandálias novas. O preço? É simbólico, basta a vontade de viver o Advento com os olhos postos na vinda de Jesus. Advento é tempo de espera, de reflexão, aprofundamento da Palavra. É partilha e crescimento. É peregrinar na fé com muita esperança em Jesus Salvador.
O Padre Jac fez-nos o desafio e à semelhança do ano passado, vamos afirmar o nosso "SIM".
Esta é a mensagem no seu blog:

"Olá amigos
Eis que chega mais um Advento, mais uma oportunidade que Deus concede para continuarmos a peregrinar e a caminhar rumo ao amor e à bondade do Seu coração.
Poderíamos, a exemplo do ano anterior, comprometermo-nos a fazer uma caminhada virtual, consentida e com sentido. Quantos mais se quiserem associar melhor, maior riqueza, maior diversidade...
Por isso: Aceitam-se peregrinos e caminhantes com blogue…
O esquema diário poderia ser à volta disto:
Um texto bíblico
Uma oração
Uma intenção comum para rezar
Uma imagem"


 

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

DESALENTO


Rebusco cá dentro
A minha força, a minha fé,
Como antídoto ao desalento.
Mas hoje perdi o pé.
E meu caminhar lento
não me deixou prosseguir…
Retrocedi sem desistir!
Apenas fiquei presa
Na prensa que me esmaga.
E assim triste e tensa,
Procuro-Te…
Mas meu pensamento divaga.
E oscila entre as graças que me dás
E a mágoa que o dia me trás…
Hoje estou desanimada.
Mas apesar de tudo, quero dizer-Te:
"Meu Jesus, obrigada.
Porque sem Ti, nada valho.
Sou nada!"

Dulce Gomes

(Hoje estou cinzenta...Mas irá passar...)

sábado, 20 de novembro de 2010

2Oº DIA DE ORAÇÃO


UM PEQUENO TESTEMUNHO

Vou falar-vos duma mulher, esposa e mãe dedicada que traída pela sua mente acreditava que estava sempre doente. Vivia atormentada por sintomas que acabava por sentir. Os familiares habituados a deitar por terra todas as doenças inexistentes com idas ao médico e exames, foram um dia colhidos de surpresa quando lhe foi diagnosticado um angioma cavernoso na cabeça, inoperável e sem tratamento. O prognóstico era arrasador. Poderia viver muitos anos mas o seu estado iria piorar progressivamente. Viriam as dores, perderia a locomoção, deixaria de se alimentar normalmente e de reconhecer a família.
O regresso a casa, já acamada foi um das maiores provação da família, constituída por marido e três filhas que tiveram que se unir e conjugar esforços para tratar dela 24 horas por dia.
De início, a sua perturbação obrigava a que se mantivesse amarrada para evitar quedas da cama e as noites eram de permanente alerta para quem estava de turno.
Estou a falar-vos da minha querida mãe.
Perante este cenário triste e quase incontrolável, nós entregámos confiadamente a Deus todo este calvário de sofrimento, sem nunca pôr em causa a Sua presença nem o Seu amor por e em nós. Vivemos um dia de cada vez, dando graças pelas pequenas/grandes vitórias, desde uma colher de sopa que a custo engolia até um sono mais tranquilo que nos deixava dormitar.
Reconhecendo a importância da extrema-unção, (que ao contrário do que muitas pessoas pensam, não é para ser dada apenas na hora da partida mas sim quando a pessoa está doente, necessita ou quer) falámos com um Padre amigo que de imediato se prontificou. A minha mãe quando o viu, olhou-nos e sorriu, rezou serenamente connosco e deixou-se repousar nos braços de Deus.
A partir dessa altura as correias que a amarravam e as grades da cama nunca mais foram necessárias. A minha mãe encontrou a paz. O seu olhar inquieto, tranquilizou e o seu sorriso desarmava o nosso cansaço. Nunca a ouvimos maldizer o seu infortúnio. Sabíamos que esta travessia, que durou cinco anos, seria uma purificação do seu espírito, uma preparação da sua alma para o seu encontro derradeiro com Deus. Hoje confirmamos que através do seu sofrimento e do seu exemplo de fé e confiança os laços familiares se reforçaram. Através do sofrimento da nossa mãe encurtámos a linha que nos separa de Deus num caminho que continua árduo mas gratificante. Sei que a minha mãe está sorrindo…
Contrariamente às previsões dos médicos sempre nos reconheceu e passou a alimentar-se com uma sonda apenas quinze dias antes da sua partida e já no hospital. Quando chegou a sua hora, aceitámo-la suavemente e agradecemos em conjunto a sua ida. Louvamos a Deus com lágrimas mas também com cânticos, perante o olhar surpreso dos presentes.
Apesar da carga emocional que está patente nesta partilha, não é escrita com pesar mas com muita gratidão em nosso Senhor Jesus Cristo pela oportunidade que nos dá de fazermos uma purificação enquanto mortais. Mas a morte não é nada! O corpo morre, o espírito não. É semeado corpo animal, mas ressuscita corpo espiritual"1Cor15,44
Como escreveu Santo Agostinho: "Eu não estou longe, apenas estou do outro lado do Caminho…"

Graças sejam dadas a Deus que nos dá a vitória por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. Assim queridos irmãos, sede firme, inabaláveis, fazei continuamente progressos na obra do Senhor, sabendo que a vossa fadiga não é inútil no Senhor”” 1Cor15,54-58

Sem fadiga continuemos esta obra pelos que estão do outro lado do caminho, não descurando os que estão a caminho, nós incluidos, e precisam de oração para preparar a sua ida.
Continuemos sem nos fatigarmos.

( Não sei se me desviei um pouco da nossa trajectória enquanto missão, mas senti necessidade de trazer e reforçar a importância da extrema-unção)

Dulce Gomes

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

PAI, PERDOA-NOS


Chuto sempre para o lado quando se trata de julgar os outros, porque não me sinto no direito de o fazer e porque cada um terá o livre arbítrio para opinar e decidir sobre si próprio.
Isto não quer dizer que me demita da minha opinião ou que a minha postura seja passiva e morna, não defendendo o que acredito. E eu acredito em Deus! Com todas as minhas forças e fraquezas, com todo o meu coração apesar das suas falhas e com toda a minha alma, embora eu e ela por vezes nos “desentendamos”.
Esta postagem é a consequência das “coincidências” que de há um tempo a esta parte teimam em bombardear-me, tanto, quanto eu teimo em ignora-las para não lhes dar protagonismo.
No entanto é difícil tapar os olhos quando à minha volta constato a trajectória definida por pessoas que conheço e gosto.
A variedade é muita. Há os que simplesmente não acreditam que Deus existe, os que ainda não O descobriram, os que O receiam, os que não tem coragem de O assumir, e por aí… E até aqueles que vivem com um pé em cada margem, bastando um empurrão para se deixar cair para um dos lados…
Ontem, um amigo fez questão de que me fosse entregue em mãos um texto escrito pelo Padre Anselmo Borges a propósito do lançamento do livro “Caim” de Saramago, onde ele foca a sua admiração pelo livro em questão e sublinha excertos de outros textos sobre o ateísmo. Não vou fazer considerações sobre o artigo e muito menos ao livro, que por opção não li, embora lhe conheça o conteúdo. Por respeito à pessoa que o escreveu remeto apenas para mim a minha opinião sobre ele. Mas debruço-me sobre a frase  que à luz do entendimento do escritor descreve Deus. Diz ele: “Deus é o silêncio do universo, e o ser humano o grito que dá sentido a esse silêncio”. Esta frase é considerada como a mais bela descrição de Deus, segundo o Teólogo Juan José Tamavo e veio devidamente sublinhada por este amigo para que eu reflectisse sobre ela.

Ora bem, depois de reler este artigo fixei-me na famosa frase…Fiz silêncio.
Um silêncio que me elevou à oração por todos aqueles que deixam que a sua vida seja governada pelas energias da moda e buscam fora de Deus a força para as suas provações. Silêncio por aqueles que olham os cristãos como se estivessem perante pessoas diminuídas de intelecto. Silêncio pela facilidade com que se idolatram e seguem pessoas como se fossem Deuses e se elevam os seus escritos ao patamar da doutrina. Silêncio sobretudo por todos os ateus que já partiram. Este silêncio é oração e apelo à Divina Misericórdia de Deus pelos que erradamente nada fizeram para a salvação das suas almas enquanto na vida terrena. Silêncio para pedir perdão pelas blasfémias proferidas.
Mas...não por esta famosa frase. Porque nela eu vejo Deus, Supremo, Grandioso, que faz com que, até aqueles que n`Ele não crêem O vejam no universo e O admirem e também porque ela(esta frase) acaba por ser o catalisador que leva muitos cristãos a rezar pelas suas almas!”

Tudo é de Deus e no universo do meu ser quebro o silêncio com este grito:
Deus, silencia o coração dos homens, fá-los escutar-Te. Abre-lhes o espírito à Tua luz, mostra-lhes o caminho da verdade, o único que é só um: o Teu!
"Perdoa-lhes Pai, porque eles não sabem o que fazem"
Curiosamente esta passagem da Bíblia foi distorcida pelo autor até à exaustão. Acredito na Misericórdia Divina e acredito que à sua chegada Deus o envolveu num apertado abraço e perdoou...
E perdoa-nos Pai a todos nós, cristãos, pela inércia a que nos entregamos quando preferimos assobiar para o lado...
Perdoa-me Pai quando o faço!

A minha alma está unida a Vós
a Vossa destra me sustenta.
Quanto aos que procuram perder-me,
Cairão nas profundezas dos abismos,
serão passados  fio de espada
e serão pasto para os chacais.
O rei, porém alegrar-se-á em Deus.
Será glorificado todo o que jurar pelo seu nome
enquanto aos mentirosos será tapada a boca.
Salmo 62, 9-12


Aqui o artigo do D.N em questão
Saramago e Deus
 
Dulce Gomes

terça-feira, 16 de novembro de 2010

MAR DE AMOR


Vestes-Te de mar azul radioso
Para poder chegar de mansinho aos meus pés
Em ondas de amor, manso e glorioso
Sopras-me bonança na mutação das marés

Curvo-me na areia e o sabor a sal
Afaga meu rosto amassado no tempo
Como onda planando numa entrega total
Corro como rio na crista do Teu vento

Sou gota minúscula e sem expressão
Sou mísera partícula pairando na vastidão
Deste mar de amor em que navego

Porém, no Teu mar sinto que sou tanto
Ainda que frágil, tudo suplanto
Tão pouco sou, mas tudo Te entrego.

Dulce Gomes

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

NOITES...



Lá, onde se prendem as estrelas
Repousa o meu olhar.
Sigo o fio longínquo que me separa
Deste universo transparente
De sombras e luar...
Perco-me na imensidão.
De corpo ausente e alma alheia
Esfumaço os pensamentos
Que se alvoraçam como areia açoitada
Aos quatro ventos...
Quantos silêncios camuflados
Guarda a noite em seus segredos?
Fiel confidente
Onde mantém guardados
Os sonhos, as decepções, os medos
Que se amontoaram nos tempos.
Quantas vezes refúgio
Único albergue
Onde me desnudo da nostalgia
Tecto de luz onde me encosto
E enclausuro
E neste porto seguro
Fico até que a noite se faça dia…

Dulce Gomes

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

MAIS UMA HISTÓRIA DO MEU PAI

ALMIRANTE DAS HISTÓRIAS

Gosto de puxar pelas estórias do meu pai. Ontem já ao cair do sol fez-nos uma visita. Sabendo a sua propensão natural para rebuscar na memória as suas douradas vivências, eu e o meu marido estimulámos mais uma conversa amena que iria converter-se num momento único que guardarei para sempre, onde não faltaram as lagrimitas intercaladas entre os silêncios para repor a coragem de continuar.
Esta foi uma das que contou ontem.
Ainda na sua juventude, vivendo com uma madrasta/mãe como faz questão de mencionar e com um pai que lhes dava maus tratos, o meu pai, nessa altura já exímio na arte de pescar à cana e única fonte onde ia buscar o sustento no inverno, foi a caminho das rochas para pescar às salemas. Como sempre levava uma cana suplente não fosse o mar levar-lhe alguma ou partir-se.
Mal tinha começado a pescar e vê chegar o "Ti Pardina" com o filho ainda jovem. Iam à pesca dos burrinhos (um peixe que facilmente se deixava apanhar e que abundava por ali). O "Ti Pardina" era forneiro mas, para além de estar desempregado não tinha a perícia nem a destreza dos que como o meu pai faziam da pesca o seu ganha-pão.
O meu pai depois duma breve conversa chamou-o para junto dele e disse-lhe:
-“Ó Ti Pardina venha práqui homem, eu empresto-lhe uma cana e você pesca aqui comigo, aí você não apanha nada.”
O "Ti Pardina" depois de dizer que não sabia pescar lá aceitou a cana já emparelhada. A pesca fluiu e correu tão bem que nos dias seguintes voltaram ao mesmo pesqueiro e a pescaria ainda deu para vender.
Passou o tempo e o meu pai que entretanto começou a namorar a minha mãe e queriam casar, resolveu ir à tabacaria para começar a juntar tábuas das caixas do tabaco para fazer uma casinha (fiquei a saber que as casas eram feitas dessas caixas que depois de despregadas e livres de pregos, serviriam para com muita arte, fazer as paredes para as barracas existentes). Um dia e em conversa o meu pai disse ao "Ti Pardina" que tinha intenção de construir uma casinha. Dotado de boa vontade adiantou com toda a veemência que queria participar na sua construção. Quando chegou a altura o meu pai indeciso, não se sentia à vontade para o chamar mas receando ofendê-lo acabou por lhe dizer.
No dia marcado vê chegar o "Ti Pardina" com dois martelos e pregos na mão, pronto para trabalhar. A tarefa foi árdua para todos mas o empenho do Ti Pardina era notório. Pregou todas as tábuas das paredes. Quando chegou ao telhado foi ele que se prontificou para o construir. Quando acabaram olharam para a casinha erguida, orgulhosos da sua obra. O meu pai acercou-se do "Ti Pardina" (imagino eu de olhito brilhando) e quis saber quanto lhe devia por tanto trabalho, ao que o "Ti Pardina" lhe disse que o meu pai nada lhe devia e acrescentou:
-“ Eu é que te agradeço Joaquim: Lembras-te daquele dia que me deste uma cana, me chamaste para o teu pesqueiro e me ensinaste a pescar? Sabes porque é que fui à pesca mesmo sem saber pescar?”
Esticando a mão vazia, continuou:
-“Porque na minha casa havia tanto para comer como tenho aqui na palma da minha mão. Os meus filhos tinham fome e eu desesperado fugi para as rochas na esperança de apanhar alguns burrinhos. Graças a ti aprendi a pescar, matei a fome lá em casa e ainda vendi 10 salemas.”

Este foi o momento em que o silêncio pesou…o meu pai fez intervalo para arranjar coragem para arrematar a estória, enquanto nós olhávamos para o lado disfarçando a emoção.
Até que o meu Almirante rematou assim:
-“O Ti Pardina era boa pessoa e se ele não apanhasse nada levava os peixes que eu já tinha pescado!”

Quando ele foi embora veio-me à memória aquele provérbio chinês:
"Se queres matar a fome a alguém, não lhe dês o peixe mas ensina-o a pescar”
Lembrei também Jo 21,6
Estavam os discípulos cansados depois duma noite em que lançaram as redes ao mar sem nada pescarem e apareceu Jesus que lhes disse:
"Lançai a rede para o lado direito da barca e achareis peixe."
Obedientes, assim fizeram e a pesca foi abundante.
Jesus não lhes deu o peixe mas disse-lhes onde pescá-lo...
A primeira opção do meu pai também não foi dar o peixe mas ensiná-lo.
Dar: essa virtude que serve de base a tantas outras quando bem aplicada. Dar o que se tem e o que se sabe mas dar sem humilhar nem se enaltecer.
Quando "dar" é o fruto dum grande coração torna-se saboroso com mel e de inesquecível paladar...
Orgulho-me de ti, pai!


A tua filha caçula
Dulce

terça-feira, 9 de novembro de 2010

9º DIA DE ORAÇÃO PELAS ALMAS DO PURGATÓRIO


"Numa tarde o padre Pio estava em um quarto, localizado na parte baixa do convento, destinado para casa de hóspedes. Ele estava só e descansando sobre o sofá, quando de repente, apareceu um homem envolto em uma capa preta. O padre Pio, surpreso, ergueu-se e perguntou para o homem quem ele era e o que ele queria.
O estranho respondeu que era uma alma do Purgatório. "Eu sou Pietro Di Mauro". Disse-lhe então: "eu morri em um incêndio neste convento, em 18 de setembro de 1908. Na realidade esse convento, depois da desapropriação dos bens eclesiásticos, tinha sido transformado em uma casa de repouso para anciões. Eu morri entre as chamas quando eu estava dormindo, em meu colchão feito de palha, exatamente neste quarto. Eu venho do Purgatório: O bom Deus, deixou-me vir até aqui e lhe pedir que celebre para mim a santa missa de amanhã de manhã para o meu descanso eterno. Graças a esta Missa eu poderei entrar no Paraíso".
Padre Pio falou para o homem que ele teria a missa santa para a sua alma.. o Padre Pio contou: "Eu, queria leva-lo até a porta do convento para me despedir quando repentinamente para minha surpresa ele desapareceu. Eu seguramente percebi que havia falado com uma pessoa morta, na realidade, tenho que admitir que eu reentrei no convento bastante amedrontado. O Padre Superior do convento, Monsenhor Paolino de Casacalenda, notou meu nervosismo, e então contei-lhe o que havia acontecido . Ai então lhe pedí a permissão para celebrar a Santa Missa da manhã seguinte em voto daquela alma necessitada.
Alguns dias depois, Padre Paolino, despertado pela curiosidade foi até o escritório de registro de óbitos da comunidade de St. Giovanni Rotondo, e pediu a permissão para consultar o livro de registro de óbitos do ano de 1908. Após a consulta ele pode então verificar que a história do Santo Padre Pío era verdadeira, pois no registro relacionado às mortes do mês de setembro, Padre Paolino achou o nome, o apelido e a razão da morte: No dia 18 de setembro de 1908, no incêndio da casa de repouso morreu o Sr. Pietro Di Mauro."

Fonte:
http://www.eurooscar.com/padre_pio/pioapari1.htm


É grande a minha ignorância nesta nossa nobre missão. Neste seguimento ouso até partilhar com vocês que a minha empatia com este assunto começava e acabava apenas no acto de rezar em dias especiais por quem já partiu. No entanto e pelo facto de fazer esta caminhada convosco, as vossas postagens as orações e a minha busca têm contribuindo para que "olhe" de forma diferente este tema que outrora preferia não abordar.

Numa das minhas incursões pela viagem da descoberta encontrei esta narrativa do Padre Pio que me impressionou, sobretudo, a sua atitude ao ser confrontado com algo inesperado e que o amedrontou mas que não ignorou.
Reconhecendo que a minha fuga tem origem nos medos que me foram incutidos desde a infância (embora sem intenção) faço destas descrições e sinais, a força que está fazendo crescer a minha vontade de rezar pelos que já partiram, na esperança de lhes aliviar e encurtar a caminhada até à luz de Jesus. Presentemente não rotularei o que sinto como medo mas apenas com um enorme respeito e sentido de responsabilidade que me leva a pedir a Misericórdia para as almas que mais precisam. E assim, a negação foi dando lugar à aceitação, ao entendimento e hoje é entrega na oração num rosário de amor pelo desagravo dos seus sofrimentos...
ROSÁRIO DE AMOR PELAS ALMAS DO PURGATÓRIO
No Creio:
Dulcíssimo Jesus, pelo suor e sangue que derramastes no Horto das Oliveiras, tende piedade das almas do Purgatório!
Nas Ave-Marias:
Jesus, Maria eu Vos amo! Salvai almas!
No primeiro Pai-Nosso:
Dulcíssimo Jesus, pelas dores da Vossa crudelíssima flagelação, tende piedade das almas do Purgatório!
No segundo Pai-Nosso:
Dulcíssimo Jesus, pelas dores da Vossa coroação de espinhos, tende piedade das almas do Purgatório!
No terceiro Pai-Nosso:
Dulcíssimo Jesus, pela dores que sofrestes no caminho do Calvário, tende piedade das almas do Purgatório!
No quarto Pai-Nosso:
Dulcíssimo Jesus, pelas dores da Vossa penosíssima agonia, tende piedade das almas do Purgatório!
No quinto Pai-Nosso:
Dulcíssimo Jesus, pelas imensas dores que sentistes expirando na Cruz, tende piedade das almas do Purgatório!
Na Salve Rainha:
Dulcíssimo Jesus, pelas últimas gotas de Sangue do Vosso Coração transpassado pela lança, tende piedade das almas do Purgatório!

Assim seja a vontade de nosso Senhor Jesus Cristo.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

MEU NORTE



Meu norte aqui estou
Sei que sabes quem sou
Procuro-me na tua maresia
Imponente o que vejo
Neste meu Alentejo
Nesta tarde de invernia.

Minha praia de mar de leva
Onde o meu olhar sossega
Nas ondas cadenciadas
Ao longe uma gaivota
Sobrevoa na sua rota
As suas dunas douradas.

Oh meu mar revolto
Onde o que acorrento solto
Tantas vezes sem fim
Abro os braços ao vento
Misturo-me no seu lamento
Queria ficar sempre assim.

Semicerro os meus olhos
Nos meus pés os teus escolhos
De espuma branca prateada
Troco a tristeza que trago
Por um pouco do teu afago
Na tua água gelada.

Empatia tão sublime
Revejo como um filme
Como atravessas a minha vida
Acalmas o meu sentir
Fazes-me de novo sorrir
Devolves a criança em mim esquecida.

Espero o entardecer
Para ver o sol se perder
No horizonte do meu mar
Então na tua plenitude
Acalmo a minha inquietude
Sinto-me de novo serenar.

Dulce Gomes
 
(Este é um poema dedicado à praia do norte, a minha preferida e donde guardo boas recordações. Fui rebuscá-lo aos meus escritos quando vi esta foto tirada pela amiga Lena num destes dias de invernia.)
 

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

CAPACIDADE DE AMAR


Chegaram e sentaram dois bancos à minha frente. Eram eles, a mãe e um casal de filhos. O rapaz terá uns dez anos e a irmã uns 7.
Até aqui tudo normal, não fosse o silêncio e o bom comportamento dos dois que contrasta com outros exemplos que tenho presenciado na missa de domingo, onde por precaução e sempre que se trata de dois irmãos os pais tratam logo de separá-los com vista a controlar qualquer arrufo.
E tudo normal, não fosse o menino ser portador duma deficiência (de nascença).
Mas o que me chamou a atenção não foi nada do que conto atrás, mas sim o que viria a presenciar.
Mal sentaram a menina esticou o seu bracito ainda pequenino e com pouco alcance e enlaçou carinhosamente o irmão. Olhando para ele com uns olhitos carregados de ternura beijava-lhe a face, tirava-lhe os cabelitos dos olhos, ajeitava-lhe os óculos, até que suavemente encostou a cabecita no seu ombro e assim ficou... Ele por sua vez carregava nos gestos a alegria daquela proximidade aconchegando-se conforme podia. Cá atrás era impossível ficar indiferente. Comecei a engolir em seco (não fui só eu...) e a tentar abstrair-me, mas tornou-se difícil evitar a emoção. Pedi tanto por eles…
Na hora da comunhão e enquanto a mãe foi comungar, foi a vez dela com o seu ombro pequenino receber a cabeça do irmão que se encaixou como pode dada a diferença de tamanho. Assim, entre beijinhos e abraços, ela tão pequenina parecia dizer-lhe baixinho: “não temas, eu estou aqui para te proteger e nunca te vou abandonar pela vida fora…”
À saída e por acaso saímos ao mesmo tempo, afaguei-lhes os cabelos enquanto passavam por mim. A pequenita sorriu-me sem nunca perder o sentido de responsabilidade de ajudar o irmão no seu caminhar limitado. Troquei algumas palavras com a mãe (que conheço) e sei que ela teve a coragem de trazer ao mundo outro filho para que o 1º não ficasse sozinho.
Que lindo este plano e que abençoado foi por Deus...
Fiquei pensando no quanto se torna difícil tantas vezes carregar a minha cruz ao ter que chegar e estar presente daqueles que de mim dependem…a falta de paciência, a rejeição interior, o cansaço e pior que isso, até como interiormente me auto-vitimo e luto contra isso.
Esta menina nasceu com uma herança "pesada", veio ao mundo com um objectivo: Fazer a ponte entre o irmão e o mundo e salvaguardar uma presença e um amparo na sua vida quando a presença dos pais já não for possível.
Por tudo isto poderíamos detectar-lhe sentimentos de negação, de ciúme, atitudes extremas para chamar a atenção, mas não. Nos seus olhitos só se lê o amor enorme que nutre pelo irmão. Sentimento que lhe dá uma capacidade de entrega capaz de nos envergonhar e repreender pela  forma espontânea e natural com que o faz, fruto do amor que lhe tem.
Que lição me deram estes dois meninos...

Peço-te Senhor por todas as famílias que tal como esta sofrem tantas vezes a dor da descriminação e da falta de ajudas tão necessárias para atenuar o que só por si já é tão grande: o sofrimento que advém destas adversidades.
Senhor, de maneira especial entrego-Te estes dois irmãos. Peço-Te Senhor, que no meio daqueles abraços estejas sempre Tu, a reforçar os laços que os unem com o Teu amor.

Dulce Gomes