TESTEMUNHO

Na terça-feira, como habitualmente, rezámos o terço na Capelinha do lar com os nossos "meninos". Durante uma hora cantamos, rezamos, lemos a Palavra e, acima de tudo, deixamos que o improviso nos tome de assalto sem lhe fazer resistência, para não quebrar a vontade de Deus em nós.

Depois de os levar para o seu lanche habitual passámos à 2ª fase da nossa missão, ir em busca dos que não se conseguem deslocar. 

Os nossos passos levaram-nos a um quarto onde uma senhora estava sozinha, ligada ao oxigénio e ainda assim respirando com extrema dificuldade. Cercámos-lhe o leito e reparámos que tinha dois terços pendurados na sua cama e  uma imagem de nossa Senhora de Fátima ao seu lado, embora fora do alcance da sua vista. Num diálogo apenas respondido com acenos de cabeça confirmou que queria que rezássemos e lhe mostrassemos Maria. Assim fizémos. Por tempo indeterminado assim permanecemos e vimo-la reagir à contemplação de Maria, às nossas orações onde nem faltou o Ave Maria cantado muito baixinho mas com muita emoção. Pedimos acima de tudo que nossa Senhora a assistisse quando chegasse a hora de se desprender da vida terrena. Saímos lentamente, sem palavras... mas à frente numa outra salinha já outros amigos nos esperavam com os sorrisos tão abertos quanto os braços que sempre nos acolhem, para a animação habitual. Respirámos fundo para nos recompormos e entrámos. Por momentos deixámo-nos absorver pela calorosa e habitual recepção e embalámos na sua alegria.

Mas no regresso, quando o caminho até casa se faz silêncio, tudo regressou à mente, ao coração e confirmámos que trouxemos cravado por dentro aquela senhora; o seu olhar suplicante, o seu aceno afirmativo à fé e por fim, o seu semblante tranquilo à nossa partida.

Ontem, apesar de não ser dia de voluntariado, o apelo foi maior e voltámos. Queríamos dar-lhe mais do mesmo conforto, dizer que Jesus a espera de braços abertos para a receber, que Maria a levará, mas ela já não estava. Havia partido.

Por momentos assaltou-nos a frustação de não termos chegado mais cedo, mas logo uma paz nos tranquilizou e foi-nos posto no coração a certeza de que tudo tinha sido feito conforme vontade de Deus. Entendemos o porquê de a termos "trazido" connosco. Ela necessitava das nossas orações. Chamo-lhe o "trabalho de casa". 
Nem sempre o tempo que damos chega para fazer o que o Senhor tem para nós, então, o Senhor alarga-nos esse "trabalho" quando quer e por tempo indeterminado.

Hoje, neste dia em que Maria se despediu dos pastorinhos, entrego todos os que se despedem desta vida. Peço à nossa Senhora que os leve a contemplar a luz da vida eterna.