"Somos anjos duma asa só e só podemos voar quando nos abraçamos uns aos outros."

Pensamento de Fernando Pessoa deixado para todos os que estão na lista abaixo e àqueles que passam sem deixar rasto. Seguimos juntos!

OS AMIGOS

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

CONVERSAS DE PAI






Já aqui falei muito do meu pai. Homem curtido pelo salgadiço do mar e coração doce, fruto de muitas vivências que ele soube arrecadar e usá-las para seu crescimento enquanto ser humano. Esta mistura dá-lhe um toque temperado e genuíno que transparece sempre nas suas atitudes e palavras.
Hoje fui com ele ao hospital para que lhe fosse feito um exame. A sala estava repleta de gente mas o silêncio era ensurdecedor, quebrado apenas pela televisão que todos fingiam ver e pelo tilintar do chamamento electrónico que nos faz levantar da cadeira como autómatos. Ao nosso bom-dia foram poucos foram os que retribuíram. Sentamo-nos e o meu pai – como é hábito – não demorou muito tempo até quebrar o gelo silencioso do ambiente. Começou com uma frase circunstancial endereçada para mim, mas rodou um olhar extensível aos presentes, numa espécie de convite à conversa. Um senhor olhou-o atentamente e sorriu e depressa se deu aquele contágio falante tão peculiar na sua presença. 
O meu pai, agora já encorajado pela adesão, voltava as atenções para os mais renitentes e o silêncio foi substituído por uma acesa troca de experiências de vida onde não faltou a emoção.
Ele é um contador das histórias que fazem morada na sua própria história. Conta-as com uma simplicidade que lhe é característica onde não cabe nem vaidade nem receio, muito menos alguma espécie de azedume ou complexo pelo que foi ou é.
Calmamente passeou pela sua infância e adolescência; pela sua experiência enquanto filho e enquanto pai. E foi precisamente neste último patamar que os seus olhos ficaram marejados e olhando para mim disse: “as minhas filhas são a melhor coisa que Deus me deu”
Olhei para o lado tentando disfarçar…
É que o meu pai raramente se refere a Deus como um dador de graças, até aqui dizia o mesmo mas referindo-se à sorte como sua aliada e isto comoveu-me...
Sim, somos uma graça de Deus. E veio de Deus a graça de ter um pai assim...
Com tudo isto escusado será dizer que quando nos despedimos a sala ficou de conversa bem implementada e a despedida do meu pai foi feita um por um como se conhecesse todas as pessoas desde sempre. 

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

ONDE COMEÇAM E ACABAM OS NOSSOS LIMITES?






Onde começam os nossos limites?

Formamos opiniões sobre quase tudo e temos atitudes que de tão iguais e repetidas, não passam duma retórica de gestos sincronizados. Receamos destoar das maiorias o que nos leva a aceitar os limites dos outros num encaixe do “socialmente correcto”, rejeitando à partida tudo o que fuja do “dito normal” sob pena de sermos censurados ou excluídos das maiorias.
Um limite é tantas vezes apenas uma barreira invisível sinalizada pela nossa mente que se apressa a arrematar com um ponto final parágrafo o que deveria ser um ponto de interrogação.
 Se há lição que aprendi é a de que o meu limite tem que ser um reflexo do que Deus dita no meu coração e não o que a minha mente me impõe sobre coação ou influência.  
Se o meu coração se dilata para aceitar e entender as diferenças, se revolta contra as injustiças, se chora de tristeza, se ri de alegria; se recebo o alerta com as directrizes que mais me tocam, não posso abafá-las nem ficar cativa pelo receio de ser rotulada de qualquer coisa. 

No confronto com as diferenças existe um desafio de superação e renega-lo, é não me conceder a oportunidade de exceder os meus limites que podem ir: desde quebrar a indiferença em relação a algo ou alguém, até um uma meta que se atinge porque tivemos a coragem de dar mais um passo.

A luz que me ilumina o dia, a alma, o caminho; que me faz inspirar de alegria e louvar a Deus, pode surgir do meio do nada, de alguém a quem o mundo esqueceu e a sociedade ignora, mas para isso tenho que me curvar, ficar ao seu nível sem deixar que as correntes da sociedade me prendam a acção.  
Quem se deixa formatar pelo mundo não é livre.

Liberdade é deixar que os nossos limites estiquem na vontade de fazer, dar e chegar mais além; é ter o arrojo de ser mais tolerante, mais amigo, mais humano; é não me coibir de dizer em voz alta que aspiro mais às coisas do Alto do que às terrenas.
Faz-me bem olhar para trás e ver que, no lugar de muitas barreiras outrora intransponíveis fui capaz de construir pontes para as ultrapassar. Embora tenha sempre presente esta sensação de que poderia ter derrubado muitas mais...

sábado, 20 de agosto de 2011

ASAS DE SILÊNCIO




Sou…
Pouco mais de nada
Não trouxe comigo estrada
Nem caminho delineado
E como gota de água
Fluo nesta corrente
Diluída num mar de gente
Tantas vezes encrespado…

Sou filha da maresia
Permeável em cada filamento
Por mais longa que seja a travessia
Não desvanece nem perece
a tocha e a rocha 
onde me sustento

É na tormenta mais atroz
Quando tudo se parece finar
Que a Palavra se faz chão e céu
Alma e voz...
e nas asas deste silêncio 
 há um tudo em mim, a renovar...

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

DE VOLTA...

Cá estou! 
Foi curto o interregno mas deu para apanhar novos ares...
Fica a partilha sintetizada de cinco dias, divididos entre ciclismo, caminhada e a descida de slide - por acaso o maior do mundo - em Ribeira de Pena, com a extensão de um quilómetro e leva um minuto a descer.
Foi bom sentir o vento na cara e olhar o mundo do alto...





quinta-feira, 11 de agosto de 2011

VOU ALI E JÁ VOLTO...

Alguém ouviu este grito? Não? Esforcei-me tanto...
Bom, mas alguém ouviu:))
E antes que me descabele vou respirar outros ares noutros lugares, por - alguns - "mares" nunca dantes navegados... 
Vou ver o sol doutro ângulo, sentir novas brisas, sem olhar para o relógio...
E...devo chegar tão ou mais cansada do que estou agora, mas espero que, de bateria carregada para recomeçar.

Se acharem a minha falta é porque de certa forma ocupo uma pontinha do vosso espaço. Creiam que todos esses têm um lugarzinho no meu:)))

Vou ali e já volto. Fiquem com Deus no coração. Também O levo comigo. Ou será Ele que me leva?...
Até breve.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

FOLHAS RESSEQUIDAS



Senhor
Que cada tempestade que se abate sobre mim
Arranque pela raiz as folhas ressequidas
Do orgulho, da vaidade,
Do meu “eu” insuflado…
Vaticinando esse fim
Seja a Tua Palavra o arado
Lavrando o chão onde jazem inertes.
Transmutando a matéria caída
Numa ceifa onde colho
Sementes renovadas de vida...

domingo, 7 de agosto de 2011

APROFUNDAR


Para nos conhecermos temos que mergulhar profundamente em nós e fazer um trabalho construtivo de dentro para fora, no âmbito do nosso crescente progresso enquanto seres humanos. Buscamos a nossa essência, o que temos de mais valioso e emergimos com esse tesouro – agora descoberto – para o pôr a render no nosso dia-a-dia em todas as vertentes que a vida nos apresenta.

Porém, não nos podemos limitar a este exercício de busca interior. Também temos que ter a capacidade de nos despirmos da nossa própria pele, neutralizando a parcialidade pessoal que temos para connosco e vermo-nos como se não fossemos parte intrínseca de nós. Este isento e novo olhar sobre a nossa pessoa, sinalizará – quase de certeza – arestas por limar que ignoramos ou por comodismo, ou porque – simplesmente – as reconhecemos como insignificantes. No entanto, elas podem fazer toda a diferença no nosso relacionamento com os outros e na forma como nos vêem.
Não que seja demasiado importante o julgamento alheio, mas quando uma apreciação depreciativa nos é feita, temos que avaliar se tem ou não fundamento.

Esta avaliação só será verdadeira se nos despirmos de nós, sem a tendenciosidade que nos está impregnada com o intuito de nos desculpabilizarmos.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

DIÁLOGO DE DESENCONTRO





Abri a porta e depressa identifiquei a mesma pessoa que há uns dia atrás me havia entregue um livrinho que aceitei educadamente. Na altura, juntei a minha indisponibilidade à falta de vontade de o escutar.
O senhor é uma testemunha de Jeová.
Desta vez e depois dos cumprimentos cordiais resolvi dar-lhe um pouco de “tempo de antena”. Chamem-lhe curiosidade ou apenas a vontade remota de – no fim – poder confirmar com alegria que entre pessoas de fé não existe um fosso assim tão grande a separa-los.
Ele fingiu que não viu o meu terço ao pescoço; eu não demonstrei que tinha identificado a sua religião.
O diálogo começou de mansinho e durante largos minutos trocámos passagens da Bíblia Sagrada adequando a Palavra à fluidez da nossa conversa, que, diga-se de passagem, até estava a correr bem.
Foi quando resolvi agita-lo com esta pergunta:
“O senhor acredita que nossa Senhora apareceu aos pastorinhos de Fátima?”
Ele mastigou a resposta com evasivas dizendo que reconhecia nossa Senhora com mãe de Jesus e ponto. 
Formulei a pergunta com mais firmeza e ele disse-me que não…
Foi quando eu lhe disse:
“ O senhor já reparou que sou católica?”
Ele abanou a cabeça, meio desolado.
Continuei:
" Acho que está perdendo o seu tempo comigo porque eu sou devota de Maria, acredito na sua intercessão e creio que Ela como Mãe de Jesus, nosso Salvador, pode ajudar-nos a chegar melhor e mais perto de Seu Filho, único Caminho, Verdade e Vida. Está falando com um cristã que há seis anos vai em peregrinação a pé a Fátima. Quer continuar a conversa?”
Aí estalou o verniz. Ele olhou para mim com outra expressão no olhar e disse-me de dedo apontado:
“Vim aqui trazer-lhe a salvação. Esforcei-me para que a Senhora entendesse que só existe uma única organização aprovada por Deus: Somos nós, testemunhas de Jeová. Somos como a arca de Noé e quem estiver fora, não se salva. Se a senhora não entra está perdida.”
A conversa estava irremediavelmente estragada…
A prepotência e a certeza que empregou nas palavras mexeram comigo…despedimo-nos de forma cordial e seca. Fechei a porta e por momentos fiquei estática…
Se dissesse que já tirei todas as ilações deste diálogo, mentiria. Até porque a conversa teve muito mais pelo meio, desde um ataque cerrado à minha igreja e tudo o ela representa, até ao golpe fatal dado de forma directa à minha pessoa enquanto cristã…
Segundo ele, o Espírito Santo apenas se manifesta no meio da sua organização...
A máscara caiu definitivamente quando falámos sobre a fome no mundo. Defende que não adianta matar a fome a alguém porque nunca conseguiremos acabar com ela. 
Foi muito difícil manter a serenidade perante esta afirmação. Mexeu com tudo aquilo em que acredito e luto; os valores pelos quais me rejo e esforço por pôr em prática: o estender de mão a quem precisa, sem olhar a quem.
Tenho muito para pensar, mas já cheguei a uma certeza: esta tentativa de diálogo e escuta com o objectivo de poder confirmar que não existem tantas divergências entre os seguidores da Palavra, infelizmente, é uma utopia…

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

AMO-TE FILHA



É bom ver-te chegar
Trazes o sorriso da saudade
Que esforço por abafar…
E um abraço selando no infinito
O eco dum grito
Num coração de mãe a transbordar…
A ausência não mata nem desata
este laço que nos une...
E se em cada partida indesejada
Uma lágrima se verteu
Há vida em cada chegada
No retorno de um pedaço
Que de mim se desprendeu…