"Somos anjos duma asa só e só podemos voar quando nos abraçamos uns aos outros."

Pensamento de Fernando Pessoa deixado para todos os que estão na lista abaixo e àqueles que passam sem deixar rasto. Seguimos juntos!

OS AMIGOS

quinta-feira, 30 de junho de 2011

TRAVO A FEL...




Há lutas inglórias com um travo a fel…
Existem mesmo casos com desfechos indesejáveis.
O que me custa?
Não é o tempo perdido, nem o dispêndio de energia, nem as horas nem as palavras gastas na esperança de que façam eco dentro de quem as ouve, mas sim a frustração por ter que aceitar que não consegui travar um passo errado de alguém de quem gosto.
A minha frustração pessoal só é sobreposta – para além do facto consumado – pela tristeza de saber que o inevitável acontecerá, é tudo apenas e só, uma questão de tempo.
E por mais que me tente consolar com a ideia de que fiz tudo o que estava ao meu alcance; desde  um abraço, um afago ou até uma sacudidela mais enérgica na esperança de a despertar, não consigo deixar de sentir este travo a fel…


Para trás ficam os despojos de tantas batalhas; para a frente - a avaliar por este sabor amargo - a certeza de que não me conseguirei desprender desta luta. Ficarei, ainda que seja apenas na retaguarda. Só Deus saberá o "para quê" de não sermos poupados de certos erros. Talvez porque ficam marcados com dor e por isso se torne uma lição inesquecível...

Nas Suas mãos entreguei tudo desde o inicio, agi segundo a leitura que fiz das Suas coordenadas e por tantos momentos especiais em que o Senhor me fez sentir a Sua presença, acreditei que tudo pudesse ser evitado. Assim não aconteceu…


Qual foi o meu papel? Doravante como será?
Talvez seja o de tentar manter esse fio de luz, essa chama quase apagada...Talvez o Senhor me queira como Sua ponte de acesso…Talvez tenha que continuar lançando as sementes sem me deixar derrotar com a ideia de que tudo é infrutífero…Talvez…talvez tenha que ser assim...


Sem "talvez" é a certeza de que os meus braços, o meu coração, a minha casa, estarão sempre abertos para ti, assim como o meu ombro para te acolher...


Dulce Gomes



domingo, 26 de junho de 2011

REDES PRONTAS



Barco de velas içadas ao vento

Cavando sulcos nas ondas exaltadas
Sente o sopro que lhe sopra o tormento
E desliza na brandura duma paz santificada

Para trás o deserto é já miragem
Que não dói nem lamenta e aos poucos se apaga
A linha do horizonte traça a viagem
Definida pela esperança ao sabor duma vaga


E no imenso lençol salpicado
Mergulha expectante no tapete de espuma
O presente liberta a mordaça do passado
O futuro é de luz na cinzelada bruma.


Nesta moldura descreve em arco
O desfecho colhido em cada ida
Sara os rombos marcados no casco
Preparando as redes para o mar da vida


Dulce Gomes



(Para uma amiga...)



quinta-feira, 23 de junho de 2011

LUZ NO CAMINHO

"Se em meio à escuridão da noite decidires caminhar, ao teu encontro virá a luz do dia. Mas, se esperares a claridade para só então te pores em marcha, vislumbrarás tão-somente luzes fugidias. Não há transformação sem fé, nem encontro sem busca."
Do livro: "A luz dentro de ti"


Caminhei profundamente nesta reflexão e não me foi difícil sinalizar alguns medos que tantas vezes nos impedem de caminhar. O medo de falhar, o medo do desconhecido, o medo do "dedo apontado", o medo do compromisso...medos e mais medos que estrangulam e incapacitam o raciocínio, paralisando e se sobrepondo à nossa vontade.
Por muito forte e determinada que seja uma pessoa, há sempre um momento, uma situação, uma fase, em que nos sentimos terrivelmente frágeis perante os nossos medos. Caímos nesse buraco negro onde nada se vislumbra: nem luz nem caminho. Onde temos a tendência para agigantar os nossos problemas fazendo deles o epicentro da nossa vida.
Na última terça-feira, no caminho que faço até minha casa quando venho do lar depois de estar com os meus "meninos" idosos, refleti um pouco em tudo o que foi aquela tarde...desde o terço rezado em conjunto até à partilha duma canção ou oração; ou no simples acto de dar um abraço a quem está sedento dessa aproximação e calor humano. 
Os meus problemas, ao relega-los para segundo plano, mirraram e eu...vim cheia de luz para o meu caminho.
Tivesse eu cedido aos meus medos e não teria aceitado tal compromisso e hoje estaria empolando apenas o meu "eu", vislumbrando apenas luzes fugidias, tão fugazes como a busca inconsistente quando subjugada pelo poder dos medos. 

Reflito nesta terapia:
Este acto de ajudar a carregar a cruz dos outros é um abraço de amor em comunhão com Deus. E na volta sentimos esse abraço na alegria da alma e na leveza da nossa cruz.


Dulce Gomes

sábado, 18 de junho de 2011

SEM INSPIRAÇÃO


Apetece-me...
Escrever só por escrever
Deixar a tinta correr
Alastrando a folha vazia
E num desfile preguiçoso e lento
Sejam meus dedos rebentos
Brotando sem grafia.
Escrever só por instinto
desnudada de pretensão
Sem ter em conta linhas ou pontos
Rimas ou frases elaboradas
Sem me importar se estarão 
as vírgulas bem ou mal aplicadas...
Sem me indignar 
Nem reclamar sobre o que escrevo
muito menos me interrogar
Sobre se devo ou não devo...
Quero só que flua ao acaso
Como quem esparge
Sementes de existência
Sentindo que o meu coração reage
a cada nova reticência...


Dulce Gomes


(Há dias cheios de reticências...)


quarta-feira, 15 de junho de 2011

COMO ÁGUIA...

" É insondável a Sua sabedoria. Ele dá forças ao cansado e enche de vigor os fracos. Até os adolescentes se cansam e se fatigam e os jovens tropeçam e vacilam. Mas aqueles que confiam nos Senhor renovam as suas forças. Têm asas como a águia, correm sem se cansar, marcham sem desfalecer." Is 40, 29-31

Foi com esta Palavra que os meus olhos ainda meio adormecidos, despertaram.  Há lá melhor maneira de acordar do que receber uma mensagem de esperança? 

Quantas vezes a fadiga dá lugar ao esmorecimento e a vontade de fazer muito me dá a sensação de que nada faço. 
Bem sei que esta penalização pessoal é a consequência das minhas tentativas de me superar; bem sei que quanto mais o faço maior o foco de luz que incide no ser imperfeito que sou e é aí que derrapo no "desfalecer" que me rouba o impulso de me erguer. Por breves momentos - e digo breves porque são pequenos - baixo os braços e fico inerte, entregue à semi-derrota. Revisito as minhas ações, as minhas palavras, gestos e quase sempre acho que poderia ter sido ou feito melhor. 
Há muito que esta contenda deixou de ser apenas e só, entre a minha pessoa e Deus. 

O caminho é evolutivo, trouxe-me uma progressão a todos os níveis. Os primeiros passos foram de descoberta eufórica e de confirmação - primeiro a mim, depois "gritando" aos outros - de que Jesus está vivo, existe dentro de mim, de ti, de cada um de nós; Aninhei-me nessa constatação  saboreando o amor incondicional de Deus; provando a segurança, a confiança desse amor; absorvendo esse alimento que de tão intenso me enche dum sentimento que transcende tantas vezes o razoável, o explicável... 
Porém, tal como bom pai, chega uma hora em que o convite é arrepiar caminho, incentivando a remover as trancas da clausura a sós com Deus e encetar novos voos fazendo uso das nossas asas. 
Abraçar este repto é acatar esta "ordem" de prosseguir ciente de que há que ultrapassar a fase do "eu e Deus" para ser: Eu e Deus para os outros e através dos outros receber Deus em mim.  
É saber inverter o meu sentido de marcha, se for necessário, para chegar onde Deus quer que chegue ou fazer o que Deus quer que faça.
É saber que nada sou nem sei, mas sou de Deus e a Sua sabedoria é insondável.
É saber que sou fraca, vacilo, tropeço, mas sou de Deus e Ele renovará as minhas forças.
É saber que quero confiar tanto...mas tanto, até que as minhas asas sejam como as da águia que correm sem se cansar e marcham sem desfalecer...


Dulce Gomes

segunda-feira, 13 de junho de 2011

HOJE...

Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?
Fernando Pessoa


Cruzando datas!
(Hoje celebramos 32 anos de casados. Fernando Pessoa nasceu a 13 de Junho de 1888)

Grata pelo amor e pela vida que nasce a cada novo amanhecer.
Dulce Gomes

domingo, 12 de junho de 2011

ESPÍRITO SANTO





«Mas ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerás sobre vós. Então, sereis Minhas testemunhas em Jerusalém, e até aos confins da terra» Act 1, 8


Esta frase reporta-me a um momento único de comunhão e intimidade com Deus: A efusão do Espírito Santo.

Nem sempre consigo transpor entre as linhas duma folha em branco tudo o que o Deus me desenhou por dentro; São riscos e rabiscos demasiado disformes, incompletos, diferentes; ora registam sentimentos vagos e apressados que parecem não permanecer; ora intensos, marcados a ferro em brasa. Desenham-se a vários tons e formas nem sempre perceptíveis para mim por ser tão limitada de sabedoria. 
No entanto, todos eles vivificam como sementes adormecidas em terra fértil, se regadas, florescendo e dando imenso fruto. E até quando por falta de entendimento me passaram ou passam despercebidos, há-de haver um momento - o certo - em que encaixam e passam a fazer sentido, redesenhando e completando o "puzzle".
Colho aos molhos desta mutação desejada, sentida e consentida ao receber e sentir esse "abraço do céu" que me renovou, purificou e operou no meu interior uma profunda mudança. Este "abraço" intenso veio acentuar capacidades inexploradas e dotou-me de outras que nunca ousaria almejar. 
Este é o poder do Santo Espírito de Deus que santifica, liberta e fortalece; que nos purifica e renova; que nos instruí e faz obra no nosso interior, abrasando o coração com o fogo do amor de Deus.


Dulce Gomes


Espírito Santo
Forjai-me, moldai-me
Enchei-me e usai-me como Vosso instrumento.
Eu me ofereço para revelar o Vosso Amor
e a Vossa Misericórdia...
Eu Vos agradeço, Espírito Santo
pela Vossa presença em mim.
Obrigada porque sois meu amigo
meu consolador, meu advogado, meu santificador...
Vinde Espírito Santo!


segunda-feira, 6 de junho de 2011

RETALHOS DE EXISTÊNCIA (O MEU PAI)

Olhar esta foto (tirada no domingo de Crisma da minha sobrinha) foi o arranque para reviver uma história entre eles – avô e neta – há três anos atrás.


Revisitar os retalhos da vida do meu pai é como trazer para o presente, pedacinhos vivos da sua/nossa existência que continuam prontos para ser reciclados de modo a aproveita-los para receber deles verdadeiras lições de amor sempre atuais e das quais não me quero despegar muito menos esquecer.
O meu pai foi fumador desde os seus tempos de criança. Durante toda a sua vida foram várias as tentativas para deixar esse vício e todas elas saíram infrutíferas.

Decorria o ano de 2007 quando ele foi vítima duma paragem cardíaca que o obrigou ao uso dum pacemaker. Saiu do hospital com a advertência sobre o uso do tabaco e a sua proibição. Durante uns tempos conseguiu privar-se mas aos poucos e conforme se ia restabelecendo, recomeçou a fumar à socapa até que um ano depois foi surpreendido por mais um incidente que o levou ao coma. Mas Deus quis dar-lhe mais uma oportunidade e ele, contra todos os prognósticos recuperou e veio para casa.
Todos, incluindo ele, sabíamos que se voltasse a fumar estaria a assinar a sua sentença de morte e se não fosse capaz de se agarrar à vida, mudando os seus hábitos, poderia não resistir.
A minha sobrinha Ana Lúcia, que nunca conheceu os avôs paternos e a quem a vida já levou o pai e a avó materna, foi a sua casa e surpreendeu-o desta forma:
Olha “Joquenito”, se não quiseres parar de fumar por ti, fá-lo por mim – tua neta – pensa que eu já perdi o meu pai, a avó e não me apetece nem está nos meus planos perder-te também a ti. És o único avô que me resta e se não parares de fumar perco-te também e eu não quero de forma alguma, perder-te.
Surpreso com esta atitude da neta, o meu pai ficou sem capacidade de resposta. Acabaram os dois num afectuoso abraço e entre lágrimas.
A partir desse dia, o nosso “Joquenito” nunca mais fumou e depois de refeito deste embate confessava que nunca pensou que a neta fosse capaz de lhe falar daquela forma.
Falar-lhe daquela forma foi o “tratamento de choque” como lhe viria a chamar a minha sobrinha, que o levou a superar um vício que até então não tinha conseguido erradicar. Conseguiu-o por se sentir extremamente amado pela neta, o que o levou a superar-se e a retribuir com o mesmo amor que recebeu.
Olhando-os, dei por mim a reflectir que se o amor não saísse vencedor, esta foto não existiria.
Louvo por estes pedacinhos de existência que Deus nos proporciona: são eles o oxigénio que nos fazem respirar e acreditar que vale a pena investir e preservar os valores familiares - tantas vezes rotulados fora de moda - e deixar que as nossas ações e gestos diários sejam movidos por eles.


Dulce Gomes


“Agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e o amor; mas a maior de todas é o amor.” Cor 13, 13

domingo, 5 de junho de 2011

CRISMA. EM ALTO MAR...

Hoje na Igreja Matriz de Sines irá ser celebrado o Sacramento do Crisma sobre 25 pessoas.
A minha querida sobrinha Ana Lúcia fará parte desses escolhidos para receber o Espírito Santo e renovar os seus votos de fé.

Partilho com alegria o texto que escrevi há algum tempo, quando uma amiga me pediu para o Crisma da sua filha. Hoje, mais uma vez estará numa pagela para ser distribuida por todos como recordação dum momento especial.
Que o Espírito Santo os ilumine para todo o sempre!























Parabéns a todos e em especial para a minha querida "xubinha". Estaremos em peso para partilhar contigo esta benção de Deus.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

CONFIAR, CONFIAR!


O confronto com certas realidades da vida é tão penoso que por vezes me deixa sem reação exterior, mas cá dentro as emoções rascunhadas são dolorosas e atropelam-se umas às outras, não dando margem para me debruçar individualmente em cada uma. E então, saltito de margem para margem, tentando decifrar a extensão do malefício que elas me provocam e paralelamente, arranjando maneiras de contornar ou dar a volta aos sentimentos que, como consequência, são mais difíceis de digerir.

Esmiuçar e tornar entendível todas as vertentes deste meu raciocínio seria tocar em pontos que não me dizem respeito apenas a mim – por isso camuflo – mas nos quais por vários motivos estou incluída.
Esta inclusão obriga-me a um dispêndio de energia com o intuito de tentar atenuar ou resolver algo. Essa ajuda é tanto diversa quanto a diversidade de situações o que me provoca um desgaste e me força vezes sem conta a bater em retirada para me reerguer.

É no silêncio que busco a serenidade para entregar, ainda que de forma desalinhada e sem pré-tratamento, tudo a Deus. Com a confiança de que só Ele saberá descodificar a imperceptibilidade dos meus pensamentos que não são mais do que preces desordenadas, lançadas por vezes de forma abrupta e cheias de pontos de interrogação como pedidos de socorro para o Alto.
Sem ponto interrogativo é a confiança que deposito no Amor infinito do Pai que vem sempre em meu auxílio e jamais falha. Isso mesmo vou comprovando a cada passada por mais atribulada ou dolorosa que seja.
Por isso a "receita" é só uma: Confiar na Sua misericórdia Divina!

A nossa alma espera no Senhor;
Ele é o nosso amparo e o nosso escudo.
Nele se alegra o nosso coração
e em Seu nome Santo confiamos.
Venha sobre nós, Senhor, o Teu amor
pois depositamos em Ti a nossa confiança.
Salmo 33, 20-22

(Hoje entrego a Deus a Fatinha e a Virginia. Que Deus as ajude nesta fase decisiva das suas provações...)


Dulce Gomes