"Somos anjos duma asa só e só podemos voar quando nos abraçamos uns aos outros."

Pensamento de Fernando Pessoa deixado para todos os que estão na lista abaixo e àqueles que passam sem deixar rasto. Seguimos juntos!

OS AMIGOS

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

MEU COMPLEMENTO

PARA TI MANA QUERIDA

Suavemente te escuto
num silêncio profundo e absoluto.
Fecho meus olhos
deixo-me ir ao teu compasso sem resistir...
Absorvo as palavras que soltas como mel
que depressa entranham em meu ser,
em minha pele…

Deixo escorrer a sua doçura.
Lembra-me uma tela e um pincel, nas mãos dum pintor
inspirado por Deus de amor, numa linda pintura…
Minhas mãos recebem as lágrimas que não enxugo
e neste orar de divulgo, a força de Jesus transparece
na mensagem que fluí, quando ensaias uma prece…
Cá por mim, ficava assim por tempo indefinido,
bebendo em tua casa de coração em brasa
num aceitar permitido.
Nesse calor quase lume, que persiste e perdura
e abafa o queixume dum coração sofrido, que pede cura…
Que mais direi?
Que o teu discurso me ensina e inspira
num complemento que necessito.
Mas que não sou capaz de traduzir o que me dás,
por mais que escreva bonito…
Que quando tu me abraças meu espírito de luz,
O teu amor me trespassa, sinto uma divina graça
nesse abraço colectivo…contigo
e com JESUS…

Da tua mana caçula
Dulce

(Há pessoas a quem Jesus entrega um luz especial, dota-as da "Sua" própria luz, para nos apontar o caminho. Assim como farol em noite escura.
A minha irmã ISABEL é um desses  faróis! Sempre aceso e incançável.
Obrigado minha querida Mana por tudo o que és para mim. Quantas vezes me acho em Jesus através de Ti...
Obrigado Jesus, por me dares a graça de ter uma família como a minha)

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

7º DIA DA QUARESMA

«Se uma mulher tem dez moedas de prata e perde uma, será que não acende uma lâmpada, varre a casa e procura cuidadosamente até encontrar a moeda? Quando a encontra, reúne as amigas e vizinhas para dizer: ”Alegrai-vos comigo! Encontrei a moeda que tinha perdido”. E Eu declaro-vos: os anjos de Deus sentem a mesma alegria por um só pecador que se converte». Lucas15,8-10


Esta parábola de Jesus surgiu como resposta à crítica que os fariseus lhe fizeram, pelo facto Dele se ter sentado à mesa dos pecadores.

A atitude de Jesus despojada de orgulho e plena de humildade, aponta-nos o caminho da conversão ao mesmo tempo que nos dá uma lição sobre a forma de como, através da Sua palavra e das nossas atitudes, poderemos levar outros irmãos a voltar-se para Deus e a abrir-lhes o coração.
A CONVERSÃO
Jesus convida-nos a não desistir de O acreditar, de O seguir e de O anunciar. Convida-nos a converter-nos e a converter. Convida-nos a escutar a Sua palavra, pô-la em prática e testemunhá-la.

Reconhecendo a minha fraqueza, relembro como já me senti “moeda”, perdida algures num buraco feito à minha medida e onde nada mais parecia caber.

Foram tempos em que enchi o peito de mil razões e questões, gritei bem alto frases pré-concebidas em forma de contestação. Tempos em que ergui uma barreira à minha volta, sem ponte nem escada que lhe desse acesso e a qual eu também não queria transpor. Todo este comportamento mais não foi do que tentativas ( goradas), para me ilibar do facto de não me querer comprometer nem assumir Jesus.

Seguir Jesus implica coragem, determinação e até luta para O anunciar. Não me achando corajosa, pensei não ser capaz. Esqueci que a partir da altura em que se abre o coração a Jesus, Ele preenche todas as lacunas que possam existir.
Resgata-nos, molda-nos e envolve-nos.

Alegra-me acreditar que os anjos se alegraram quando mergulhei no Seu amor.

Alegro-me na esperança de que os testemunhos e reflexões de que é feito este caminhar conjunto, sejam sementes plantadas nos corações ainda indecisos ou fechados. E que mais tarde possam dar bons frutos.

Alegro-me! Porque ainda que apenas um coração se converta, os anjos estarão em festa e haverá alegria no céu.

Alegra-me, que apesar dos tropeços do caminho e ainda que, não isentos de erro, nossos pés continuam firmes e constantes e nossos olhos seguem a luz da vida: Jesus!

Dulce

( Amanhã a reflexão estará a cargo da Teresinha no blog Teresa-desabafos )

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

PERDOA SENHOR

RESTAURA-NOS, Ó DEUS.
FAZ BRILHAR A TUA FACE E SEREMOS SALVOS!



Perdoa, Senhor, se duvido
das certezas que me dás
perdoa, se inconstante decido
virar costas, voltar atrás.

Perdoa as minhas fraquezas
a minha falta de oração.
a palavra que não leio
o meu constante receio...
Senhor, peço-Te perdão!

Perdoa se não me dou
quando isso esperas de mim.
Perdoa ser como sou
Tu sabes: eu sou assim…

Perdoa se não Te escuto.
Se cruzo os braços e não luto
se não vejo os Teus sinais.
Perdão quando Te peço
e depois não Te agradeço...
Perdoa uma vez mais.

Tu sabes os meus segredos
perdoa Senhor os meus medos
que paralisam o meu avançar,
em cada momento incerto
dá-me força, fica perto,
Contigo quero caminhar!

Senhor da misericórdia
de amor, paz e concórdia
tem misericórdia de mim.
Tu conheces meu coração
dá-me senhor o Teu perdão...
Perdoa por ser assim…

( Senhor, nesta  Quaresma, ajuda-me a descobrir qual o meu lugar, ensina-me a saber estar na retaguarda e a caminhar  com os pés assentes no chão, nunca em bicos de pés)

Dulce Gomes

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

QUARESMA

Hoje é o primeiro dia da Quaresma.

smileys falando

Na Quaresma, Jesus faz-nos um convite. A que nos deixemos tocar por Ele. Lança-nos um apelo à conversão e à oração, ao mesmo tempo que nos dá o espaço/tempo suficiente para nos olharmos e nos penitenciarmos.
A Quaresma é o tempo ideal para tirar a venda dos nossos olhos, para jogar fora a capa suja e gasta com que nos revestimos, a fim de ocultar o que não queremos expor. É hora de deixar de lado o nosso orgulho, de aceitar com humildade o nosso lugar, seja ele qual for. É hora de aprender a intervir como filhos de Deus. É tempo duma tomada de consciência dos nossos erros. É a altura propícia para baixarmos a guarda do “eu sei tudo” e chegarmos à conclusão de que nada sabemos nem somos, se não tivermos a mão de Nosso Senhor Jesus Cristo como suporte.
Com confiança na Sua infinita misericórdia e sem receio de que nos aponte o dedo, vamos abrir os nossos braços, escancarar o coração e dizer-Lhe :
«Senhor, eu estou aqui! Mostra-me qual o caminho para chegar até Ti!»
Seja para iniciar ou para continuar seguindo o Seu trilho, obrigatoriamente, temos que reconhecer que nem sempre agimos de acordo com a Sua vontade, falhamos!
 Reconheçamos que aqui e ali não fizemos ou fomos o que queriamos fazer ou ter sido.

Nesta Quaresma, Senhor, aponta-me o dedo. Agita o meu mar.  Porque estranhamente, enquanto navego neste mar que me agitas, apesar de aflorar a minha pequenez e sentir-me um ser minúsculo perante a Tua grandiosidade, não me sinto naufragar. Mas sim, fortalecer à medida que renasces no meu coração. E sei que quando ultrapassar esta cadência de ondas, vou assentar os meus pés em terra firme sentindo-me mais limpa e digna de Te receber.
Sentirei a paz no meu coração inundado por um desejado sentimento invasor: "A alegria".

Dulce

À semelhança da caminhada que fizémos no Advento, também hoje, 1º dia da Quaresma, demos o 1º passo da preparação conjunta que nos levará a reflectir e orar, para melhor e mais conscientes recebermos Nosso Senhor Jesus Cristo ressuscitado.
Fica o convite para caminharem connosco, com verdade, fé e acima de tudo, alegria, porque o Senhor venceu a morte.

Ficou assim ordenado:
1º dia. AMOR DE DEUS
2º dia. MÃOS DADAS
3º dia. CANELA
4º dia. JOAQUIM
5º dia. GISELE
6º dia  FÁ MENOR
7º dia.  DULCE (eu)
8º dia. TERESA
9º dia. MALU
 Que Deus nos ajude!

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

(D)ESCREVENDO


Apetece-me escrever para ti!
Apesar do risco de não expressar o que sinto
ainda que receie perder-me
entre as linhas tortas e vagas
deste meu coração/labirinto...
Prossigo.
Quiçá, irei divagar ou
talvez chegar à conclusão,
que apenas saiu um turvo rabisco,
inconclusivo e sem sentido,
da minha mão.
E tal como nuvem que o vento arrasta
irei consentir que se vá e se perca,
como caligrafia desbotada,
saída duma caneta meio gasta...
Mas também pode acontecer
que igual a poeta inspirado,
dos meus dedos desvairados
jorre um poema de amor...
Fidedigno e narrador da chama que ainda arde
e onde, ainda que peque por tarde
pouco ou nada fique por dizer...
Mas supondo que assim não seja
pensas que acaso o lamento?
Claro que não!
Porque se estiveres atento
Vais sentir bem no fundo, no “teu dentro”
Que minha alma beija o teu coração.

Dulce Gomes

domingo, 14 de fevereiro de 2010

" QUERO-TE TANTO"

Pois claro! Esta vai directamente para o meu maridinho, com quem namoro há 34 anos.





Por mais que a vida nos agarre assim
Nos troque planos sem sequer pedir
Sem perguntar a que é que tem direito
Sem lhe importar o que nos faz sentir

Eu sei que ainda somos imortais
Se nos olhamos tão fundo de frente
Se o meu caminho for para onde vais
A encher de luz os meus lugares ausentes

É que eu quero-te tanto
Não saberia não te ter
É que eu quero-te tanto
É sempre mais do que eu te sei dizer
Mil vezes mais do que eu te sei dizer

Por mais que a vida nos agarre assim
Nos dê em troca do que nos roubou
Às vezes fogo e mar, loucura e chão
Ás vezes só a cinza do que sobrou

Eu sei que ainda somos muito mais
Se nos olhamos tão fundo de frente
Se a minha vida for por onde vais
A encher de luz os meus lugares ausentes

É que eu quero-te tanto
Não saberia não te ter
É que eu quero-te tanto
É sempre mais do que eu sei te dizer
Mil vezes mais do que eu te sei dizer.

Mafalda Veiga

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

SEM PALAVRAS...

Há uns dias atrás escrevi sobre “saber escutar”. Hoje, pergunto-me a mim própria se o saberei fazer.
Ontém as palavras ficaram recolhidas num qualquer recanto de mim, presas entre o choque e a tristeza.
Gostaria de ter pronunciado a palavra certa e adequada ao momento, aquela que quando bem escolhida levanta as muralhas do desalento e dota a quem as escuta duma força capaz de mover montanhas.
Gostaria de ter tido a capacidade de dar um conselho que conseguisse mostrar uma luz, um caminho...
Queria ter dito que a Deus nada é impossível, que Deus tudo pode, que tudo se resolve com fé e persistência... mas não disse...Não me ouvi! Quanto muito, balbuciei meia dúzia de palavras desajeitadamente.
Ao chegar a casa, rebobinei o tempo e fi-lo andar para trás. Numa tentativa de me entender rebusquei na memória aquele quase monólogo, tentando ver em mim um olhar que falasse mais do que o meu silêncio. Não me consegui visualizar. Porém, recordei meus braços, que se abriram num abraço de amparo e protecção, como que colmatando o vazio deixado pelas palavras que não fui capaz de dizer... 
Analisando, mas sem querer desculpar a minha inércia, não deixo no entanto de ter a perfeita noção, de que não basta erguer as nossas mãos para Deus apenas e só em momentos de aflição. Ao longo da nossa existência Deus toca-nos das maneiras mais variadas, mas dá-nos o livre arbítrio de escolha.
Convida-nos a segui-lo mas não se impõe. Mostra-nos o caminho mas não nos força a trilhá-lo. Fala-nos, mas cabe-nos a nós não fazer “orelhas moucas”. Deus bate à nossa porta, mas não arromba a fechadura.
Quando se leva uma vida de costas voltadas para Deus, negando quase a Sua existência e de repente se desperta, não há como passar uma borracha nas decisões do passado, nada se resolve com um “estalar de dedos”. Há sim os efeitos/consequência desse passado que doem como feridas abertas. Só com uma plena entrega de tudo nas mãos de Deus, aos poucos deixará de sangrar, porque Deus tudo cura.

Dulce

domingo, 7 de fevereiro de 2010

NA CORDA BAMBA

Quem não gostaria de saber de antemão qual a decisão mais correcta a tomar perante as indecisões? Todos nós! Eu incluída. Não me considero corajosa nem tampouco arrojada nos pensamentos e atitudes, no entanto, como todos, sou obrigada a tomar decisões das quais à priori não sei quais as consequências. E se é verdade que as recebo como uma progressão nesta escalada/vida, não é menos verdade que por vezes ela se faz de lágrimas e dor, de recuos e investidas, poderei mesmo dizer que continuo com “dores de crescimento”.
Cada passada dada é recheada de lutas e dispêndio de energia, quer pelo passo em si, quer pela reacção que suscita. As consequências levam-me a ficar suspensa como se estivesse numa corda bamba e na eminência de cair, então paro, readquiro a firmeza e prossigo.
Mas prevalece uma certeza, ainda que os meus passos sejam vacilantes, cheios de erros e o meu coração nem sempre me fale sem interferências, ainda que na corda bamba, sei que tenho uma rede que me ampara se eu desequilibrar ou cair: JESUS!
Jesus é a minha rede. Aquela, que por ter malhas apertadas serve de escudo protector, atenua as minhas quedas mas também filtra e depura todos os meus passos, não deixando passar sem correcção os meus erros ao mesmo tempo que invade o meu coração de alegria depois dum passo correcto.
Hoje revejo principalmente os errados e são tantos que senti como minhas as palavras de Simão quando caiu aos pés de Jesus, dizendo: «Afasta-te de mim, Senhor, porque eu sou pecador!»
Hoje sinto-me caída aos pés de Jesus, peço-Lhe perdão pelos passos errados mas também por aqueles que não dei. Peço-Lhe perdão pelas vezes em que deixei que o medo vencesse a minha/Sua vontade e também por aquelas em que deixei que o comodismo me travasse. Peço-Lhe perdão, pelo abraço que ficou retido na intenção, pela palavra que não se soltou e por aquela que deveria ter guardado. Peço-Lhe perdão acima de tudo, porque nem sempre consigo deixar a minha barca na praia para segui-Lo, como fez Simão.
Mas hoje e apesar de caída, solto lágrimas de alegria, porque se Jesus me tocou desta forma é porque está vivo e activo no meu coração, dizendo como disse a Simão: “Não temais

Dulce

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

APENAS UM SORRISO

Entrar, ajoelhar ou simplesmente ficar imóvel no banco da minha igreja ainda que nada diga, é uma necessidade para mim. É como se recebesse um afago e vou ficando como um passarinho que chega ao ninho e se aconchega debaixo das asas dos seus progenitores e fica ali só saboreando a sua protecção. Curiosamente, apesar de só, não estou sozinha.
Outras, apesar da igreja estar repleta de gente, sinto falta de calor humano. Falta a interacção entre irmãos, a entreajuda, a mão que não se estende na hora do Pai-Nosso, sobra a vénia imposta como regra em substituição do abraço da paz, ou apenas um sorriso aberto. 
E se não salvaguardasse o que descrevi atrás, mais o facto de Deus me rodear de pessoas de muita fé e com as quais eu sigo ao compasso numa caminhada sólida, onde umas vezes puxo e outras sou puxada, certamente faria esta pergunta: que faço aqui? Onde as pessoas se atropelam em busca de protagonismo, onde não se encontra uma palavra de apoio, onde esbarro em regras que me prendem os movimentos/sentimentos e onde por muita boa vontade que tenha em entender, nem sempre consigo arranjar atenuantes para as atitudes e palavras duras que doem de injustas.
Desencanto! Talvez seja esta a palavra certa.
O que me confortou hoje? Um sorriso dum amigo de longa data que encontrei em mais uma das minhas visitas ao lar. Ao passar pelo corredor, ouvi chamar: menina...Olhei para o lado, numa cadeira de rodas estava um idoso sorrindo. Perante aquele sorriso esbocei um também tentando descobrir quem era, até que o reconheci. Trabalhámos juntos. Na altura eu era uma adolescente no meu primeiro trabalho, ele uma pessoa bem mais velha com uma capacidade de trabalho tão grande como o seu coração e com uma simplicidade que continua bem patente no seu olhar. Ficámos ali recordando e falando de tudo um pouco, escutei as suas tristezas, vi os seus olhos rasarem e despediu-se da mesma forma com que me chamou, com um sorriso.
Foi o meu ganho de hoje. Obrigado Senhor!
É deste calor humano que falo...

Dulce

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

ESTRELA-DO-MAR

Esta é mais uma história do meu
"Almirante das Histórias"



A idade já pesava um pouco embora os seus passos apressados não a denunciassem.
Naquele dia, tal como acontecia quando os ventos sopravam de feição e o mar repicava a seu jeito, pegava numa cana de pesca e vigorosamente caminhava em direcção ao seu mar. Ia aos sargos. Essa, era uma pesca que requeria da sua parte a escolha da cana apropriada para o efeito. Tinha que ser grande mas ao mesmo tempo robusta, para aguentar com as investidas de força desse tipo de peixe.Experimentado, tinha em casa várias canas escolhidas e apanhadas por ele  nas caniçadas da terra, que conhecia como as palmas das suas mãos.
Mas aquele dia iria ser especial.
Como sempre fez-se ao caminho como se estivesse atrasado, ao ombro a dita cana, na cabeça, o seu típico boné e na boca o seu amado cigarro que custou a deixar. Ao chegar às pedras levantou-as uma por uma para apanhar as minhocas que serviriam de isco. Como todo o bom pescador tinha no bolso das calças um canivete, que pela estima que lhe tinha jamais se separava dele. Havia-lhe sido ofertado pelo primeiro genro, o Ivo, genro esse que Deus já havia chamado para a sua companhia. Não só por isso mas também, tinha uma afeição muito grande por aquele objecto.
Começou a pescar e depressa se entusiasmou aviando o seu balde de peixe em pouco tempo, mas de repente a cana balançou de novo e pelo arco que descrevia anunciava peixe graúdo. Quando isso acontecia a perícia era fundamental, pois não queria partir a cana, mas muito menos queria deixar o seu peixe fugir. Encetou uma luta durante alguns minutos conseguindo finalmente trazer o peixe para cima das pedras. Contente, preparava o seu regresso. Mas eis que, quando numa volta inexplicável a sua faquinha aquela que ele tanto adorava, rolou pelas pedras e caiu ao mar. Impotente, viu-a afundar sem nada poder fazer. Desolado, chegou a casa muito triste, a mulher ao olhá-lo tentava perceber o porquê daquele semblante carregado, pois não condizia de forma alguma com a pescaria que trazia no balde. Até que ele lhe contou que havia ficado sem a sua faca, logo aquela que o seu querido genro lhe tinha dado e que tanto gostava. O seu ar pesaroso dava azo a que numa tentativa para o animar, as filhas dissessem que lhe compravam outra, mas todos se renderam: não iria ser a mesma coisa!
O tempo passou e ele continuou as suas pescarias, inevitavelmente quando voltava ao mesmo pesqueiro lembrava a faca perdida.
Tinha passado mais dum mês e lá estava ele de novo no mesmo sítio.  
Depois da rotina que antecedia o início da pesca, começou-a. Decorrido pouco tempo sentiu que a cana arqueava, num pulo pôs-se de pé para proceder às regras que sabia de cor para não perder o seu peixe. Só que, quando o que pescara ficou à sua frente, as pernas tremeram… os seus olhos não queriam acreditar no que viam e por momentos julgou tratar-se duma visão. Bem preso à sua cana, agarrada ao isco vinha uma estrela-do-mar que por sua vez carregava nas suas potentes ventosas, a sua faca. Por momentos ficou sem fala e preso de movimentos. Só depois e apesar de trémulo jogou quase a medo as suas rudes mãos àquele bem tão precioso, que ele julgava perdido para sempre. Passados uns minutos, já refeito do insólito acontecimento, olhou-a com uma alegria indescritível guardando-a cuidadosamente dentro do seu bolso. Os seus olhos pequeninos olharam a estrela-do-mar que contra a corrente de tudo o que é explicável, lhe havia trazido de volta aquela relíquia. Pondo um olhar carregado de meiguice, agarrou-a com suavidade e restituiu-a ao mar fitando o seu desaparecer como que a dizer-lhe, obrigado…
Regressou feliz carregando aquele tesouro que ainda hoje conserva como uma preciosidade.


(Esta é uma história verídica que se passou com o meu pai, que por ter contornos tão insólitos parece ter sido arrancada duma imaginação fértil)