A LUZ DE DEUS

Há fases da nossa vida em que nos parece que o mundo é nosso, que nada de mau nos pode atingir e sentimo-nos assim como que, quase imortais. É a fase da juventude. Somos protegidos por pais, irmãos, o mundo gira mais ou menos à nossa volta e então há quase em nós um sentimento de poder.
Com o tempo tudo muda, já adultos caem-nos em cima as responsabilidades. De filhos protegidos passamos a filhos protectores e quando começamos a desempenhar o papel de pais, então aí o nosso mundo fica literalmente de pernas para o ar.
Eu chamo a essa transição “O despertar para a vida”. Só aí tomamos consciência do que é realmente viver e por vezes essa consciência é muito dura, tão dura que nem sempre se consegue conviver com determinadas situações e sair vitoriosos.
Depois e ao longo do nosso percurso de vida vamos sentindo que afinal não somos assim tão fortes, que as coisas negativas não acontecem só aos outros e muito menos somos inatingíveis. É a fase das”provações”. É chegado o momento da aprendizagem, mas a doer. Quem nunca se sentiu assim como que, num beco sem saída? Que a cruz estava tão pesada que se sentiu a curvar perante o seu peso? Quase como se o mundo fosse desabar como um castelo de areia… De repente, deixamos de nos sentir donos da situação, nada controlamos e nossas mãos cheias de tudo, são nada e impotentes perante tão grandes provações. Que fazemos nesses momento? Lançamos um s.o.s., um pedido de socorro! A quem? A Deus, a Jesus, à nossa Mãe do céu, claro! Como último recurso e em desespero, quando tudo está cinzento e parece perdido, é a tábua de salvação, a luz ao fundo do túnel pronta para nos iluminar e guiar. Pois bem, deixemo-nos ir, sem medos, sem recuos, sem reservas, porque essa é a luz de Deus.
Vou-vos dizer que muitas vezes e ao longo da minha vida, lancei e lanço, pedidos de socorro e também vos digo que a partir do momento em que entregamos com fé e confiança tudo o que nos consome, o problema pode até não desaparecer mas o seu peso diminui substancialmente. Não mais me senti desamparada, perdida, nem esquecida por Deus. Sinto-o presente em todos os segundos do meu dia nas grandes e nas pequenas coisas, só preciso estar atenta aos sinais por mais pequenos que eles sejam.
Deus é o meu confidente, o meu companheiro de todas as horas, o meu protector, aquele amigo fiel que nunca falha. A Ele entrego tudo o que sou. Nas suas mãos deposito a minha vida o meu ser. Entrego-lhe aqueles que Dele mais necessitam, os que ainda não o descobriram, os que Nele não acreditam, os que estão perturbados ou confusos, à deriva, os que já partiram e os que estão a chegar… Entrego-lhe as minhas provações, as minhas falhas, o que tenho de menos bom, pedindo-lhe humildemente que faça de mim uma pessoa melhor, limando as arestas bicudas, aquelas que podem ferir-me ou ferir alguém.
Mas entrego-me como pedra viva do seu Templo e peço-lhe que a mova conforme a sua vontade. E a cada dia que passa sinto-me mais peça do seu puzzle que se encaixa aqui e ali a seu desejo. Sempre que tal acontece há no meu coração uma alegria imensa que me faz quase saltar e minha boca só pronuncia:”Louvado sejas Senhor!”

Dulce Gomes

(Reflexos dum encontro de duas amigas que a vida afastou e Deus uniu. Obrigado Conceição.)