O meu sogro com 92 anos bem conservados foi ontem operado a uma catarata.
Então, todos nós (eu, minha irmã e nossos maridos) temos andado numa roda-viva, dividindo tarefas e revezando-nos para lhe dar assistência e cuidar da minha sogra que ficou em casa e sofre duma aterosclerose, já avançada.
Ontem, dia da sua operação, foi a minha vez de ficar com ela, tratá-la, levá-la ao centro de saúde para fazer um curativo numa perna e ficar a dormir em sua casa para que não ficasse sozinha.
Quando chegou ao fim do dia, eu estava extenuada, pois levei todo o dia tentando convencê-la a comer, a fazer a higiene, enfim, o normal. Por fim chegou a noite e comecei a prepará-la psicologicamente para o facto de estar na hora de dormir, pois eu não via a hora de finalmente sossegar para descansar de um dia agitado e desgastante.
Fui com ela para o quarto e munida de mais uma boa dose de paciência, observei-lhe os movimentos: fez e desfez a cama, vestiu e despiu o pijama, foi três vezes à casa de banho e tudo isto, sem querer que eu ajudasse, até que lá se deitou. Eu dei-lhe um beijinho de boa noite e preparava-me para lhe voltar as costas para sair do quarto, quando a ouvi chamar por mim e levantar-se.
Frustrada, pensei: “ainda não é desta”.
Olhei-a e ela já estava de pé e disse-me:
-“Anda cá filha”
Eu voltei e aproximando-me disse-lhe:
-“Diga lá mãe, o quer mais”
Ela abriu os braços pequeninos e disse:
-“Quero um abracinho de amiga, filha”
Perplexa, olhei-a e sentindo uma ternura enorme, apertei-a num abraço, beijando-lhe os cabelos brancos, sentindo aquele corpo frágil e tão curvado pela idade todo aninhado em mim.
Durante o tempo que durou aquele abraço, tive tempo para que o meu pensamento divagasse num misto de sentimentos. Senti-me arrependida por querer que o meu dia chegasse ao fim, por ao longo do dia ter momentos de menor paciência e por desejar que ela fosse deitar-se, rapidamente.
É que afinal, ela atrasou a sua ida para a cama, só para me dar um abraço…
(Hoje estou emocionada, sinto-me egoísta e peço a Deus que faça de mim uma pessoa melhor, mais tolerante e mais paciente.)
Dulce Gomes
Lindo... quando nos damos mais por amor que por dever há sempre algo que nos traz consolo, e é verdade que nestas coisas pequeninas estão coisas muito nobres, também é verdade que tudo isto pode ser desgastante mas no fim há a nossa consciência que fala mais alto que nós e diz-nos fizeste bem.
ResponderEliminarNo entanto penso que também é necessário cuidarmos de nós para podermos cuidar melhor dos outros.
Desejo-lhe muita força para continuar a ser o que é com muito amor
Grande abraço
olá dulçe,,,
ResponderEliminarlinda partilha que aqui nos deixou , nao se sinta egoísta pois pelo que li aqui é coisa que vosse não é ,
e é normal com o desgaste nós perdermos um pouco a paciencia , mas deus como sabe o bom trabalho que vosse está a fazer, lá lhe vai dando força ,
um beijinho de muita força e coragem,
e que o seu sogro recupere rapidamente .
Olá;
ResponderEliminarSó agora tive tempo, de vir fazer a visita de cortesia.
Fiquei surpreendida, pela belissima partilha da Dulce.
Sempre que nos sentimos no nosso limite, N. Senhor "abraça-nos" e toma-nos no Seu colo de Pai Amoroso.
Que Deus N. Senhor derrame em si e nos seus, o Dom da paciência, da Força, da Fé e do Amor, para que possam cumprir a vossa missão, cansativa e desgastante, mas maravilhosa aos olhos de DEUS!
Um beijinho fraterno
Quantas vezes desanimamos...mas quando ouvimos:-FILHA!nosso coração enche, renova-se... e cá estamos nós para um novo dia.
ResponderEliminarBem te compreendi Dulcinha.
Este episódio teve um final feliz,naquele abraço ia o calor humano a solidariedade e o amor,que foi como calmante para uma noite de descanso da senhora sua sogra.
ResponderEliminarNão foi egoismo, só quem passa por essas situações a compreende.Todos temos um limite.
Não a conheço mas tambem sei que é uma pessoa bondosa e com muito amor para dar,este texto é suficiente para prová-lo.
Força amiga Dulce,tudo vai terminar bem.
Com carinho da Ana