"Somos anjos duma asa só e só podemos voar quando nos abraçamos uns aos outros."

Pensamento de Fernando Pessoa deixado para todos os que estão na lista abaixo e àqueles que passam sem deixar rasto. Seguimos juntos!

OS AMIGOS

sábado, 17 de julho de 2010

PARA TI PAI


Hoje olhei-te pai.
Mas não com o olhar com que te olho todos os dias, não com aquele olhar vago e inquieto que levo quando te visito, objectivando apenas o saber se estás bem para poder voltar para casa tranquila e com a sensação do dever cumprido.
Não! Hoje olhei-te mesmo!
Tirei a névoa da pressa que não me deixa descortinar para além do que está visível e olhei-te com o coração...
Do teu metro e meio, os teus olhos eram dois faróis de ternura a olhar-me, como se quisessem reter-me para sempre dentro deles e foi nesse momento que os meus te fitaram.
Agarrei as tuas mãos com o pretexto de te perguntar por elas mas só queria afagá-las. Trémulas e deformadas, são a narrativa fiel duma vida dura pela qual lutaste com todas as tuas forças e empenho e há qual nunca renegaste. Pelo contrário, contas todos os seus episódios com o orgulho de quem a viveu intensamente e com muita honestidade. Elas falam de como atravessaste os temporais da tua existência, da bravura com que enfrentaste o mar, aquele que tanto amas, de onde tiraste o sustento mas que não te isentou de perigos... Contam os detalhes de como não deixaste que esse mesmo mar te engolisse, nas várias tentativas que fez para te arrebatar e da forma como o fintaste num dia de Maio, quando ele medindo forças contigo pôs à prova a tua destreza de "lobo do mar" e a tua fé. Nessa luta desigual, ganhaste. Puseste a salvo a tua vida e a de todos os homens que de ti dependiam, levando para bom porto aquele barquinho que mais parecia uma casca de noz ao sabor dos seus caprichos. Eu, a tua menina, fiquei de olhos arregalados na amurada como se estivesse à janela a viver um pesadelo, esperando o pior desfecho.
Tantas estórias têm as tuas mãos para contar...
Foram elas, outrora fortes, que me ensinaram a nadar e que me abraçavam logo pela manhã quando eu fugia da minha cama para me aninhar nos teus braços em busca de protecção...
As tuas mãos pai, eram o meu porto de abrigo e as tuas sensatas palavras eram o bálsamo para todos os momentos difíceis. Lembro que nesses momentos o medo se evaporava. Eras o meu paizão.
Ó pai e eu tenho sempre tanta pressa...
As nossas mãos ainda se agarravam e os teus olhinhos pequeninos, cheios de carinho razaram de lágrimas e foi nesse momento que tomaste a inciativa de me abraçar...perdi a pressa pai. Ficámos ali que nem dois tontos pronunciando palavras salteadas mas que ambos conhecemos de cor...
Sabes pai, no meu regresso a casa perdi a pressa. Agora sou eu que quero reter para sempre este abraço, sou eu que quero registar para sempre o teu olhar carregado de amor por mim em dois braços que frágeis e trémulos me enlaçaram.
Não quero mais sentir a pressa que me afasta de outros abraços, porque não sei quantos mais teremos oportunidade de dar.



Obrigado meu "Almirante das histórias"!

Da tua menina...

22 comentários :

  1. Logo bem cedinho neste Santo Domingo de Deus, deparo-me com este lindo, belo e sensível texto.
    Estou comovida por duas coisas...pela vida dura dom "Lobo do Mar" e sua família...e pela ternura de filha e pai...aquela ternura que já escasseia nos dias de hoje.
    Obrigada por este belo momento, neste começo de dia...
    Forte abraço
    Mer e família

    ResponderEliminar
  2. Dulce
    Que lindo este texto
    Que ternura, faz-me lembrar que nunca é tarde para amar com amor verdadeiro, e em cada fase da vida.
    Que os pais são pais sempre, e os filhos os seus meninos toda a vida.
    Um pai maravilhoso uma filha maravilhosa.
    Gostei muito
    Louvado seja Deus
    Abraço em Cristo

    ResponderEliminar
  3. Dulce, há textos seus que me fazem ficar com a lagriminha ao canto do olho...e este é um deles e que me tocou imenso....
    Acabo de vir de Sines e de estar com os meus pais mas...o meu paizão é o outro homem da minha vida, nos seus 89 anos também eu e ele procuramos nos olharmos com muita intensidade e muito amor, pedindo a Deus para nos dar tempo para nos podermos OLHAR com a mesma intensidade e falar...falar..
    Eu sei que a conversa por vezes vai têr às netas e ao futuro delas, mas eu compreendo-o... também aí, essa preocupação ,é uma forma de mostrar o AMÔR que tem por mim .
    Também eu digo obrigado por seres meu pai, e pela pessoa que ÈS.
    Bjs Paulinha

    ResponderEliminar
  4. ai amiga , só tu mesmo para me deixares com uma lagrima no canto do olho , ai valha-me deus ...
    parabéns por esta homenagem tão sentida ...

    ps - quando puderes passa lá no meu cantinho , tens um miminho á tua espera ...

    beijinhos do coração ..

    ResponderEliminar
  5. Minha titi,
    aproveita todos os momentos que puderes para abraçares o teu pai (meu avô do coração). Sinto falta de abraçar o meu pai, de me aninhar nos seus braços, de me sentir protegida... se pudesse trocava anos da minha vida por um abraço dele, mas isso é impossível...

    Um bjinho da xubinha

    ResponderEliminar
  6. Amiga,

    que bom sentir essa ternura. Muito lindo !!! São as nossas raízes... Ser grato a quem nos cuida e nos deu a oportunidade de estarmos aqui. É tão maravilhoso sentir esse carinho em família. Não há nada mais recompensador... mesmo o meu Pai já ter partido. Sempre lembro dele a todo momento...das suas preocupações comigo e com a minha irmã, como Ele nos educava. São tão vivas as lembranças que até hoje (mesmo nestes 13 anos de ausência)não penso na sua partida como algo triste, ruim... pois suas lembranças são muito vivas em nós... e isso nos conforta muito, principalmente pelo jeito que Ele vivia a vida: com muita alegria e com a certeza de que tudo passa,


    beijinhos no coração,

    obrigada,

    Gisele

    ResponderEliminar
  7. Amiga Dulce,
    Como tudo o que vem de ti, também esta linda homenagem ao teu pai, cheia de ternura e muito amor, me satisfez . Cada vez que me despedeço do meu pai ,ou da minha mãe penso como tu, nunca sei quantas vezes mais o poderei fazer.(pois são rapazinhos da mesma idade).
    Gostaria tanto que os nossos jovens, nos vissem de outra forma, esta vida de corre-corre, deixa muitas lacunas, muitos beijinhos e abracinhos por dar e não entendem o quão saúdável é, mesmo de pois de um contratempo ou discórdia, o abraçinho da PAZ.
    "É da idade", costumo dizer...que o Senhor os ajude a olhar para os pais com outro olhar, como tu muito bem o fizeste.
    Beijinho do coração
    Conceiçao

    ResponderEliminar
  8. Amiga Dulce,
    Que linda confissão de ternura entre dois seres que se amam e cujos laços foram cimentados ao longo do tempo no infinito Amor de Deus.
    Bem-haja, amiga, por este tão belo momento e grande exemplo de amor filial.
    Um beijinho com a minha amizade e admiração.
    Ailime

    ResponderEliminar
  9. Muito lindo mesmo.

    Feliz dia do amigo pra você amiga de longe kkkk.

    Abração.

    ResponderEliminar
  10. Isto não foi a lágrima ao canto do olho o que me aconteceu,depois desta leitura simplesmente maravilhosa,foi o rolar das lágrimas, umas atrás das outras sem conseguir parar.
    Como a sobrinha aqui disse, eu dava anos da minha vida para voltar a abraçar o meu pai, mas desta vez não iria nunca mais TER PRESSA.

    GRANDE HOMENAGEM que faz a um GRANDE HOMEM que é o seu pai,através da escrita com tanta sensibilidade muita ternura e muito amor.Abençoados por essa união tão forte de pai e filhas.

    Amei o que li, e fico muito grata á Dulce por estes segundos de tanta emoção, e ter-me feito recordar o meu querido pai, que tanta saudade deixou.

    Um abraço bem apertadinho.
    Ana

    ResponderEliminar
  11. Mer, obrigado pelas palavras e pelo abraço que retribuo com todo o carinho.

    ResponderEliminar
  12. Utília, sim minha amiga nunca é tarde para dar e receber. Nem sempre vemos com "olhos de ver" e quando nos apercebemos estamos cometendo o erro de não aproveitarmos o amor que temos para receber e retribuir.
    Abraço grande

    ResponderEliminar
  13. Olá Paulinha.
    Tal como você também as conversas com o meu pai deslizam para o assunto: netos. É normal e salutar. E como é bom ter com quem falar dos nossos filhos, alguém nos entenderá melhor que o nosso pai?
    Que nós percamos tudo o que nos apressa para escutá-los e aprendermos, porque os nossos pais, pelas suas vivências são um poço de lições.
    Obrigado Paulinha por também deixar aqui o seu testemunho.Beijinho

    ResponderEliminar
  14. Teresinha, desculpa a lagrimita, tá?
    e obrigado pelo teu miminho. O selinho é lindo, queceu-me o coração tal como o teu blog.
    Bjinhos no coração doce de morango

    ResponderEliminar
  15. Amiga Gisele, quem a gente ama nunca morre, apenas parte para junto do Pai, não é? Tenho esse sentimento em relação à minha mãe que já não está fisicamente mas que sempre a sinto perto e bem presente.
    Abraço em Cristo minha amiga

    ResponderEliminar
  16. Querida xubinha. Sabes que deixas o meu coração apertadinho com as tuas palavras porque as entendo. Mas, de onde o teu pai está certamente te abraça muitas vezes...
    Beijo grande minha querida da titi

    ResponderEliminar
  17. Sãozinha, j´tivémos oportunidade de falar pessoalmente sobre o tema e reforço com o seguinte: a idade traz-nos a maturidade e a sensibilidade para aproveitar melhor os sentimentos que nutrem por nós. Vai de encontro ao que pensas? sei que vai. estás sempre a dizer:"é da idade"loool

    Abraço amiga

    ResponderEliminar
  18. Minha amiga Ailime, que saudades de a receber. Espero que as suas férias tenham sido de amor e paz.
    Na verdade é uma confissão das minhas falhas como filha que nem sempre sabem dar tempo a quem precisa, perdendo com isso a oportunidade de receber um amor incondicional como o de um pai.
    Abraço amigo em Cristo

    ResponderEliminar
  19. Ana, tal como disse à Ailime, tinha saudades da sua presença aqui neste humilde cantinho. Ele faz-se das nossas participações enquanto seres humanos activos e com vontade de partilhar. Só assim tudo faz sentido e por esse motivo deixo escorregar aqui os meus sentimentos, sejam eles virtudes ou defeitos, porque todos os temos.
    Agradeço a Deus ter amigos que tal como a Ana, tem a paciência de me ler e ainda por cima gostar. Peço desculpa pelas lágrimas, mas elas também são parte integrante de nós, conseguindo por vezes lavar não só a nossa cara, como a alma.
    Ana, eu ainda tenho o meu pai comigo, mas entendo perfeitamente o seu sentimento para com o seu, porque o sinto em relação à minha mãe...não é fácil, mas quando cremos em Deus, acreditamos que Ele acolhe quem nós amamos.
    Beijo muito grande em Cristo e Maria

    ResponderEliminar
  20. Artur, um abraço para você e que Deus o abençõe

    ResponderEliminar
  21. Olá Dulce
    Tenho estado de férias e só agora pude voltar a deliciar-me com a sua escrita.
    Como eu a compreendo. O amor dos nossos pais é a melhor coisa do mundo. Eu perdi os meus cedo, então a minha mãe tinha 37 anos, uma jovem e ainda hoje raro é o dia que não penso nela com saudade.
    Mas o que conforta é saber que estão em paz. Também li o artigo sobre a sua amiga de infância e infelizmente revi o comportamento de muita gente que esquece rapidamente o quanto devem a quem lhes deu a vida e a criação.
    Que mundo estranho este em que vivemos!
    Um abraço para si e continue a escrever tão bem como sabe. Para mim é um prazer visita-la
    Biba

    ResponderEliminar
  22. Olá Biba. Como sempre digo, recebê-la aqui é motivo de alegria para mim. Saber que me lê com prazer, estimula esta necessidade de pôr no papel o que vai cá dentro.
    A respeito das duas postagens, elas tem as discrepâncias que tem a vida: os sentimentos diferentes/opostos, que não se cruzam. Fico pensando que: nascendo nós da mesma forma, em qual fase da vida se perdem nos corações de algumas pessoas os laços que nunca deveriam quebrar nem mesmo com a morte...
    Beijinho grande Biba e obrigado por me fazer reflectir mais um pouco

    ResponderEliminar

As palavras de amizade e conforto podem ser curtas e sucintas, mas o seu eco é infindável.
Madre Teresa de Calcutá