"Somos anjos duma asa só e só podemos voar quando nos abraçamos uns aos outros."

Pensamento de Fernando Pessoa deixado para todos os que estão na lista abaixo e àqueles que passam sem deixar rasto. Seguimos juntos!

OS AMIGOS

segunda-feira, 26 de julho de 2010

QUE FAZEMOS NÓS DA NOSSA VIDA?



Que fazemos nós da nossa vida?
Ou, que deixamos nós que a vida nos faça?
Há quem defenda que os melhores amigos são os que trazemos da infância, com os quais repartimos o nosso crescimento e dividimos as nossas primeiras emoções.
Há dias cruzei-me com uma amiga de infância que desde os dezassete anos está viver num outro País. Por força dessa circunstância, apenas nos encontramos, na melhor das hipóteses, uma vez por ano. Trocamos conversas vagas e despedimo-nos. Este ano, cruzámo-nos numa noite amena, num dos passeios à beira-mar e a conversa foi um pouco mais além do habitual. Eu escutei, escutei, pouco intervi, mas fiquei terrivelmente impressionada pela forma expressa, dirigida aos que  cá deixou: Os seus pais.
O discurso frio, parecendo desprovido de sentimentos com que os “brindou”, levou-me à conclusão de que os anos apagaram do seu coração os elos de ligação para com os seus progenitores, levando à quebra dos laços que deveriam ser indestrutíveis e à prova de distância e que a sua vinda é quase um presente envenenado. Fiquei pensando nos seus pais, na forma como eles a pouparam do trabalho a que eu não fui poupada, que com treze anos já trabalhava no único empregador da terra: uma fábrica de conservas. Mas que nunca me deixou nem traumatizada, nem complexada. Pelo contrário, serviu para aprender que a vida custa, é dura, passei a entender muitas das frases dos meus queridos pais. Amadureci mais depressa.
A mãe dela era minha colega de profissão, pessoa muito trabalhadora com a qual muito aprendi e por quem tenho muita estima. A partir desta conversa, para além da estima que por ela nutria acrescentei a admiração e as minhas orações. Fiquei imaginando como se sentirá aquela mãe que apesar das dificuldades passadas, ainda hoje faz “das tripas, coração” para continuar a tratá-la como uma princesa nos poucos dias em que pode desfrutar da sua companhia. Dias em que apesar de a ter fisicamente perto a sente ausente e de quem recebe como recompensa apenas migalhas, consequência da indiferença dum coração endurecido.
Olhei-nos às duas. Pouco ou nada já temos em comum. A vida tratou de nos modificar através das vivências desiguais de cada uma. Caminhos diferentes levaram-nos a traçar rumos que cavaram um abismo entre nós.
Hoje, somos apenas duas pessoas que se cruzam esporádicamente, mas as nossas vidas falam linguagens opostas. Para dizer a verdade a minha língua ficou presa na tristeza e sem capacidade de resposta, mas o meu coração continua sufocado pelas palavras que lhe poderia ter dito mas não disse(porque não era o momento certo)e também porque não me achei com esse direito.

Tiro de tudo isto três lições:
1º-Temos que vigiar permanentemente os nossos corações, para que não percamos a sensibilidade de olhar os outros e a capacidade de os amar.
2º-Derrubei de vez com o estigma dos “amigos de infância”. Cultivo alguns, os verdadeiros. Mas as experiências vivênciadas ensinaram-me que os amigos são todos aqueles que aparecendo em qualquer altura, acrescentam em nós algo de válido, nos levam por bons caminhos e seguem em paralelo connosco em todos os momentos.
3º- Nós, somos na vida aquilo que de melhor lhe extraímos. As nossas atitudes são o espelho da nossa aprendizagem diária connosco e com quem nos rodeia. E como é demasiado fácil escorregar e assimilar aquilo que não nos enriquece, há que estar vigilante, saber fazer uma triagem de tudo o que a vida nos mostra adquirindo a capacidade de dizer um “NÃO” ao que não nos interessa.

Dulce Gomes

16 comentários :

  1. Olá Dulce
    Este artigo é muito pessoal,mas todos sabemos que infelizmente também é verdadeiro.
    Nem sempre os pais souberam mostrar aos filhos as suas limitações de lhes dar aquilo que eles gostariam de ter, nem tão pouco os ensinaram a dar valor às pequeninas coisas que vão adquirindo.
    Nunca escondi aos meus filhos as dificuldades diárias e que todos tínhamos de colaborar para que nada faltasse.
    Recordo a revolta do meu filho quando em 92/93 via meninos no colégio com notas de cinco mil escudos para comprarem bolos.
    Sei que na altura lhe disse:
    É mais fácil o pai dar-lhe dinheiro do que dar-lhe amor.
    Tu tens o pai e a mãe ao pé de ti e dão-te o que precisas e alguns desses teus amigos ficam lá no colégio até à ultima hora. Os pais não têm tempo para eles.
    Mais importante do que dar é saber dar e valorizar tudo quanto temos.

    ResponderEliminar
  2. Amiga Dulce,hoje finalmente apareci no seu precioso cantinho.Confesso que gostei desta postagem e quanto ao assunto,infelizmente ás vezes é duro ,é terrivel,quando menosprezam aqueles que as puzeram no mundo e os seus bons ensinamentos.Como essa sua amiga de infância,infelizmente vêem-se muitas.Parece que esquecem quem foram,a quem pertencem.No fim,eu muitas vezes concluo,que no fundo são elas realmente as pobres de espirito.Dá uma revolta, mas não adianta dizer muito mais.
    Beijinhos amiga Dulce. Da Zézinha C.

    ResponderEliminar
  3. Obrigado Dulce por mais um bonito e significativo texto que escreveu dessa vivência com a sua amiga.
    È a realidade , a vida dá-nos maturidade e valores que depois sabemos escutar e tirar conclusões que ,também acabam por sêr importante para nós.
    Um beijinho
    Paulinha
    (Nota:) a sua irmã Isabel conhece o meu pai...será que a Dulce também conhece ?

    ResponderEliminar
  4. Amiga Dulce.
    Este teu texto deixou-me confusa e a olhar para dentro de mim.
    Sem criticar pais nem filhos penso que os valores familiares são preciosos, duma importancia enorme.
    Há laços que não se desfazem.
    Também tenho filhos, estão longe sinto a falta deles fico feliz quando os vejo.
    Obrigada Dulcinha, deu para pensar
    Beijinhos
    Utilia

    ResponderEliminar
  5. sabes amiga , por muito que tente não compreendo como é que á pessoas que perdem os vínculos com os pais ..
    talvez porque amo muito os meus pais , não consigo entender , mas enfim ..

    gostei do texto , mil beijinhos , do coração é clarooooo .....

    ResponderEliminar
  6. Com que encanto visito sua página, e fico maravilhada como descreve situações de vida tão valorosamente, sem tirar o sabor do amor de Deus em suas palavras.
    Eu quero agradecer por seguir minha página, da qual nada tenho, porque sou tímida com o mundo da internet.
    Seu texto evidencia altos valores, que infelizmente se perdem nos dias de hoje, onde o material absorve as mentes menos ágeis.
    Abraço fraterno.
    Alda

    ResponderEliminar
  7. Assim é Luís. São erros que se pagam demasiado caros. Os meus pais, ainda que quisessem jamais me poderiam ter dado o que eu já consegui dar à minha filha. Porém, sempre com a contenção e verdade sobre toda e qualquer situação. Só assim se tornam pessoas responsáveis e adultos conscientes.
    Abraço em Cristo

    ResponderEliminar
  8. Olá Zézinha. Tens razão a pobreza de espírito está bem patente...mas tal como dizes, mais palavras para quê?
    Beijinho amiga e as melhoras

    ResponderEliminar
  9. Paulinha, que bom recebê-la mais uma vez aqui.
    Sabe, tenho só uma filhota, que está fora de Sines, mas jamais estamos separadas de coração. Os elos de ligação são muito fortes e apesar da distância, as vidas não correm separadas.
    Como gostaria que todos os pais e filhos nunca quebrassem essas amarras, mas infelizmente cada vez é mais o que acontece.
    Paulinha, eu conheço o seu pai, sim! Porque a minha irmã Isabel me disse quem era. Conhecia-o mas não sabia que era seu pai.
    É rapazinho assim da geração do meu não? O meu pai tem 85 aninhos. Belas idades:)
    BEIJINHO GRANDE

    ResponderEliminar
  10. Utília, minha amiga, lamento dizer-te mas há laços que se desfazem, sim. Basta para isso que algum dos dois puxe a guita e desfaz.
    Infelizmente minha amiga assim é!
    Também estou longe da minha filhota mas sentimo-nos sempre perto, mas nem sempre é assim.
    Beijinho amiga

    ResponderEliminar
  11. Teresinha, é dificil entender porque seriamos incapazes de desprezar quem nos criou com amor, mas existem pessoas que para além de não serem gratas, perdem o carinho pelos pais...
    Beijinhos do coração amiga

    ResponderEliminar
  12. Olá Alda. Benvinda a este meu cantinho. Visito o seu blog e gosto das suas escolhas. Obrigado pelas palavras endereçadas às postgens. Fico sempre com a sensação de dever cumprido quando o que escrevo encaixa de alguma forma em quem lê.

    Alda, porquê a timidez? de certeza que terá muito a revelar, porque não transformá-los em testemunhos úteis e válidos para quem lesse. Neste intercâmbio de vivências crescemos juntos na fé e na Palavra de Deus.
    Abraço em Cristo

    ResponderEliminar
  13. Amiga,

    me fez refletir...são tantos caminhos que vamos traçando que muitas vezes nãos nos damos conta. Cada ser humano trás consigo a sua história, o seu jeito de viver. Pensamos sempre que estamos agindo certo no que estamos fazendo... mas com certeza há toda uma história natural desde a nossa infância e do como nos é apresentado o mundo. Não sei se estou sendo bem clara! muitas vezes o falar "sim" o tempo todo aos filhos e muitas vezes também falar o "não" levam a repercussões enormes em nossas vidas e de quem geramos que só vamos observar lá na frente... assim também como toda a trajetória de uma família (incluindo avós, pais, irmãos, primos...) é bem complexo. Há famílias que possuem um vínculo único. Se interessam, se preocupam um pela vida do outro... até mesmo com parentes bem distantes. Assim como a minha ( por parte da minha mãe). Apesar de vivermos longe sempre converso com meus primos, tias e vou em busca de notícias. Pois fomos criados TODOS dessa forma pelos nossos avós (maternos) que mantinham a casa cheia, envolta da fartura da mesa nos almoços de fim de semana. Ao contrário da família do meu Pai que mesmo quando Ele estava vivo pouco nos procurava. Você acredita que o meu padrinho que era sobrinho do meu pai faltou no meu batismo... Aí ele teve que substituí-lo como meu Pai e meu padrinho. E assim desde a sua morte a família do meu Pai ficou cada vez mais distante. Acredito muito que o que tenha influenciado foi a forma de como todos foram criados... É uma pena pois já em vida o meu Pai reclamava dessa distância!

    Desculpe por ter escrito tanto. Me fez recordar de muitas fases da minha vida,

    beijinhos

    Gisele

    ResponderEliminar
  14. Um belo e actual texto.
    Com a minha idade já não me espanta este tipo de sentimentos em relação aos filhos/pais e até se vê em pais/filhos...que fazem as suas vidinhas e ninguém quer saber de ninguém...
    Sofrem menos este tipo de gente...serão mesmo gente? questiono-me?!
    O certo, é que quem ama de verdade sofre e muito...mas antes quero sofrer e pertencer ao grupo sofredor...sou masoquista? pois que seja...mas antes quero ser assim do que ser insensível.
    Forte abraço e mimos especiais para quem ama de verdade.
    Mer

    ResponderEliminar
  15. Gisele, fui seguindo o teu raciocínio e fui meditando no quanto de verdade ele tem.
    Tens razão quando dizes que muitas vezes, certas atitudes, são a consequência da forma como a família se une desde logo, de pequenos. Se nos educarem mostrando-nos os valores duma família sempre unida, de certeza eles permanecerão nos corações, ou pelo menos será mais dificil apagar. Mas é tudo muito complexo sim, porque se vê exemplos de tudo, até daqueles bem formados e amados, renegando quem os ama. E nesses casos julgo que a dor é bem maior para quem é rejeitado e esquecido...
    Obrigado amiga por sempre acrescentares ao que escrevo um pedacinho de ti.
    Abraço em Cristo amiga

    ResponderEliminar
  16. Mer, entendo do que fala e sei que nesse assunto saberia chegar bem mais além do que eu. Vamos pedindo a Deus que una as famílias em torno do Seu grande amor.
    Abraço em Cristo amiga

    ResponderEliminar

As palavras de amizade e conforto podem ser curtas e sucintas, mas o seu eco é infindável.
Madre Teresa de Calcutá