Os gemidos levaram-nos a apressar o passo pelo corredor. Quando chegámos junto à cama um corpo frágil e curvado permanecia quase imóvel mas pedindo socorro através de palavras agitadas. Reconhecemo-la. Uma amiga/irmã de fé e presença assídua na capelinha do lar todas as terças-feiras. Levávamo-la na cadeira de rodas sempre com o cuidado de não esquecermos a malinha com os seus pertences. Havia piorado.
O sofrimento estava estampado no seu rosto… dores e comichão insuportável; sede (apesar de ter uma garrafa ao seu lado) e solidão…muita solidão...
Fomos cedendo aos seus pedidos e cuidadosamente voltamo-la na tentativa de a pôr mais confortável. Ela soltava frases por entre as queixas…
“Almas de Deus…mãos que curam…duas santas que Deus enviou…estão tocando em toda a parte que me dói…minhas queridas…pedi tanto que viesse alguém…obrigada queridas amigas…Tenho pedido tanto a nossa Senhora…porque é que Deus me deu esta doença?"
Deixámos que as nossas mãos percorressem todo o seu corpo como se estivessem sendo guiadas…
A seu pedido, envolvemos-lhe o corpo de pó de talco e coçámos cada recanto inacessível para ela, massajamo-la, demos-lhe o lanche…e rezámos com e sobre ela.
Pouco-a-pouco a agitação deu lugar à serenidade e a sua cabeça foi pendendo rendida pelo cansaço e pelas tréguas da ajuda divina. Calmamente fez um pedido a nossa Senhora para que se um dia, nós estivéssemos na mesma situação que ela, a nossa Senhora nos viesse ajudar como o havia feito nesse momento…
Forçámos o fecho dos seus olhos, ajeitamos o lençol e ela ficou tecendo palavras de gratidão.
“Tente dormir minha querida” e saímos de mansinho sem conseguir articular algo…
Encostámos a porta devagarinho e sem tempo para nos recompormos, suspendemos a emoção com um nó na garganta.
Entrámos com um sorriso noutros quartos…noutras salas, onde outros rostos, outros olhares com outras necessidades, nos esperavam. Soltámos palavras, rimas de esperança, acordes de alegria.
Pequenos nadas do pouco que somos e temos, mas que se transformam em tudo para quem pouco recebe.
À saída, voltámos ao mesmo quarto, abrimos a porta do quarto da nossa amiga e ela dormia profundamente.
Louvado seja Deus!
Palavras da minha irmã Isabel. Faço minhas as tuas palavras querida irmã.
Por vezes o confronto com o sofrimento abafa-nos! A mistura de sentimentos é tão forte, tão intensa, tão sentida, que enquanto sofremos nem conseguimos definir os nossos sentimentos, "apenas" sofremos e imploramos, sentindo o nosso coração permanecer em estado de súplica dirigida para o Céu. Graças a Deus que o sentimos por mais que nos custe. Ser solidário na dor e no sofrimento é o que faz a diferença de um Cristão e o que mais importa para nós é estarmos presentes, porque para eles a nossa presença é como uma bênção.
GRAÇAS A DEUS, PORQUE BEM SABEMOS QUE SEM DEUS NADA SOMOS, MAS COM DEUS TUDO PODEMOS NO AMOR.
E assim foi a nossa tarde no dia internacional da mulher…
Dulce e Isabel Gomes
Comovente relato seu e as palavras de sua irmã, Dulce e mais comovente ainda foi o pedido feito à Nossa Senhora para vcs. Dom lindo esse de derramar-se ao sofredor! Beijão, minha amiga querida!
ResponderEliminarMuito linda esta partilha, e são estes pequenos milagres que vão dando Força e coragem a quem cuida e quem é cuidado com a graça de Deus
ResponderEliminarObrigada ás duas manas
Beijinhos
Utilia Ferrão