Acordei decidida a rabiscar na primeira folha em branco que me aparecesse pela frente. Viajei em busca duma ponta solta, algo que sobressaísse do novelo emaranhado de conteúdos que me abalroam e abrangem de forma tão absorvente.
Este processo fácil choca com o travão mental que funciona como uma triagem a tudo o que me paira por dentro e que – se eu permitir – se desprende e desliza na folha duma forma inata.
Mas travo. Corto as asas das minhas mãos e peço-lhes tréguas.
Este conflito provoca-me uma penumbra confusa que reduz o meu intelecto a réstias dispersas que não se encaixam entre si.
A palavra rendição bate forte e trás impressa uma sensação amarga de derrota.
Estarei manipulando e mutilando as minhas asas refugiando-me por detrás da muralha da comodidade, por medo?
Asas… Asas de silêncio, de albatroz… alma com asas… sempre asas: uma metáfora tão descritiva como palpável, por quantas vezes as minhas mãos são o voo da minha espiritualidade; arreigadas e insubmissas perante a minha pessoa, debatendo-se furiosamente contra o meu agachamento, repelindo o controlo que quero exercer sobre elas…
E quando me apercebo estou eu própria asfixiada no espaço que não lhes dou, sucumbindo ao meu próprio nó… pairando no vazio da desobediência, apenas por medo…
O receio de dar asas às minhas asas apavora-me. Porque me faz sair da minha concha protectora e me expõe; porque exige de mim coragem e capacidade de encaixe para saber lidar com o retorno dessa exposição e fico vulnerável perante a análise que possa ser feita à minha pessoa.
No entanto cá dentro, algo me diz que a ordem é para folgar o cordel do meu voo e deixar-me embalar ao sabor dos ventos que sopram, rumo: Até onde queres que vá!?...
Dulce Gomes
Pedindo a luz para um decisão. Senhor, ilumina as minhas decisões.
As "asas" estão indecisas? Faz parte da trajetória do caminho. Gosto de seguir a tua...
ResponderEliminarBeijinhos