E se a vida fosse uma linha recta, igual a uma estrada larga com boas escapatórias e de excelente visibilidade? Onde o nosso campo de visão fosse de tão largo espectro, que houvesse sempre tempo de reacção suficiente, para receber do cérebro as coordenadas certas para evitar uma colisão? Parece-nos uma fórmula perfeita...
Mas a vida não é uma linha recta, não tem bermas largas, nem o nosso raio de visão é suficientemente amplo para enxergarmos muito além. O nosso caminho é feito de curvas, contra-curvas e precalços, que constantemente põem à prova a nossa perícia. E o sair ileso ou não, tem que ser sempre um ponto de reflexão e posterior aprendizagem.
Se olharmos uma estrada deparamo-nos com vários sinais. Cada um informa, proíbe ou adverte-nos para algo, numa tentativa de nos precavermos para os mais diversos perigos.
Será que os respeitamos na íntegra? Ou preferimos ignorá-los na ânsia de que seja feita apenas e só a nossa vontade?
É certo que comparando a nossa vida a uma viagem composta de várias etapas, vemos que pelas caracteristicas de cada uma nem sempre escapámos incólumes em todas elas. Colidimos, magoamo-nos e sofremos as consequências. Também é verdade que nem sempre encontramos uma justificação apoiada num erro crasso. Aparentemente, cumprimos todas as regras, e eis que de repente vemo-nos a “braços” com uma situação que parecendo surgir do nada, abana toda a nossa estrutura, que julgávamos à prova de embate. Sentimo-nos abalroados na nossa imperfeita tentativa que atingir a perfeição.
De assalto, chegam à nossa mente todos os “porquês”, opomos resistência a enxergar o “para quê”, receando que a provação seja tão dolorosa que se torne insuportável, e erramos em deixar que sentimentos como a descrença e a revolta tomem o lugar da fé e da confiança.
Jesus disse a Tomé: “ Não sejas incrédulo, mas crente”Jo 20,27. Quantas vezes tomamos a mesma atitude de Tomé, acreditando só depois de ver?
Em vez de interpelar constantemente Deus, abramos o nosso ser aos Seus sinais, ainda que não perceptíveis na sua totalidade. Façamos deles o bálsamo que atenua a dor, a luz na penumbra, a estrela que nos guiará até ao final do trajecto.
Há que confiar que tudo tem um propósito, nem sempre claro à partida. Iremos concluir que as curvas da nossa estrada foram desenhadas pelas mãos dum Mestre, para que tenhamos a oportunidade de aperfeiçoar a nossa condução. E as pedras que nos fizeram tropeçar, foram cuidadosamente dispostas por Ele em sítios estratégicos para que adquiríssemos a capacidade de cair e nos levantar. Nesse erguer, infalivelmente, está sempre a Sua mão vigorosa que nos segura e endireita. É nesse momento que, ainda que cansados da jornada, sobressai a fragilidade da nossa condição humana, surge o admitir que “o nosso tudo é tão pouco”, mas afloram em nossos poros a fortaleza dum ser quase renascido das cinzas.
No momento de chegada, o mesmo Mestre gravará a luz sobre o vazio escuro e inóspito superado, todos os "para quês", tudo ficará claro e límpido como a água mais pura e só nos resta pedir perdão porque não confiámos cegamente.
«Acreditaste porque viste. Felizes os que acreditam sem terem visto».Jo 20,29
Que o Senhor nos dê o a fortaleza, o ânimo, para ultrapassar as curvas e pedras do nosso caminho sem cair na tentação de achar que Ele nos abandonou.
Deus é Pai e ama-nos incondicionalmente.
Deus é Pai e ama-nos incondicionalmente.
Dulce Gomes