Então, o Espírito conduziu Jesus ao deserto, a fim de ser tentado pelo demónio. Jejuou durante quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome.
O tentador aproximou-se e disse-lhe:
«Se Tu és o Filho de Deus, ordena que estas pedras se convertam em pães.» Respondeu-lhe Jesus: «Está escrito: Nem só de pão vive o homem, mas de toda a Palavra que sai da boca de Deus.» Então, o demónio conduziu-O à cidade santa e, colocando-O sobre o pináculo do templo, disse-lhe:
«Se Tu és o Filho de Deus, lança-Te daqui abaixo, pois está escrito: Darás a Teu respeito ordens aos Teus anjos; eles suster-te ão nas suas mãos para que os Teus pés não se firam nalguma pedra.»
Disse-lhe Jesus: «Também está escrito: Não tentárás o Senhor teu Deus!»
Em seguida, o demónio conduziu-o a um monte muito alto e, mostrando-lhe todos os reinos do mundo com a sua glória, disse-lhe:
«Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares.»
Respondeu-lhe Jesus:
« Vai-te, Satanás, pois está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele prestarás culto.»
Então, o demónio deixou-O e chegaram os anjos e serviram-no.
Mateus 4,1-11
Propus-me nesta caminhada, basear as minhas reflexões no Evangelho diário. Quando soube qual o evangelho correspondente a este dia, estremeci...ter de falar sobre a tentação de Jesus... Depois sorri-lhe, sei que Ele me entendeu.
Durante largos anos da minha vida a palavra “demónio” foi interditada por mim. Fugia dela a “sete pés” da mesma forma que me mantinha de pé atrás em relação a Deus.
Temia os dois, embora – como é evidente – de forma diferente. Do primeiro tinha um medo arrepiante.
De Deus, o receio de me comprometer num desafio desconhecido, de não estar à altura para O seguir e cumprir na integra os Seus mandamentos e doutrina.
Até que um dia o chamamento foi mais forte e dei o passo em frente mais corajoso e bonito da minha vida: abri as portas do meu coração de par-a-par a Jesus e deixei-O entrar. Fiquei surpreendida com a sensação de liberdade e proteção, só depois compreendi que Jesus me libertou de mim própria, dos meus medos.
REFLEXÃO
Na Quaresma somos convidados a percorrer os passos de Jesus, a fazer com Ele a Via-Sacra e através do Seu exemplo e Palavra, colher os ventos de mudança que nos trazem as sementes de renovação, purificação e conversão.
À semelhança de Jesus – respeitada a devida distância – todos os que O seguimos e gravamos no coração os Seus mandamentos, à medida que mergulhamos e tomamos conhecimento da Sua Doutrina temos que nos preparar para as tribulações e inquietantes investidas do demónio. As “manobras de diversão” são tão subtis quanto maquiavélicas e tentam abrir brechas para nos corromper – isso mesmo nos é mostrado no Evangelho de hoje – e se desprevenidos, fruto da nossa condição de seres fracos, pecadores e insubmissos, caímos na teia da imprudência - que nos leva à desertificação da alma, desnudando-a e despojando-a de abrigo - ao não desembainharmos a espada que nos escuda e defende neste combate: A ORAÇÃO!
«Vigiai e orai, para não cairdes em tentação, porque o espírito está pronto mas a carne é fraca.» Mt 26,41
A aridez do percurso faz-nos sentir estranhamente sós e perdidos na intempestividade dos embates. E por pouco não perdemos as sandálias...Tão pequena se revela a nossa fé quando esquecemos que «Os olhos do Senhor estão sobre os que o amam; Ele é um poderoso protetor, um sólido apoio, um abrigo contra o calor, uma proteção contra o ardor do meio-dia, um sustentáculo contra o tropeção, um amparo contra a queda. Ele eleva a alma, alumia os olhos, dá saúde, vida e bênção.» Ben Sira 34,36-37
Perante esta certeza que mais nos faltará para crer no infinito amor e misericórdia do nosso Deus.«Mas, em tudo isto, somos mais que vencedores, graças Àquele que nos amou.»Rom 8,37
MEDITAÇÃO E ORAÇÃO
Senhor, neste quinto dia da nossa caminhada em Ti me
recolho em silêncio.
Medito na Tua firmeza. Nos meus “desertos”, que são tão ínfimos perto dos Teus, mas que engrandeço ao ponto de tropeçar nos meus próprios pés.
Medito na minha solidão apesar da Tua presença. “Estavas dentro de mim e eu estava fora, e aí te procurava... Estavas comigo e eu não estava contigo... Mas Tu me chamaste, clamaste e rompeste a minha surdez. Brilhaste, resplandeceste e curaste a minha cegueira”.S. Agostinho
Medito na segurança do Teu convicto “Não” às diabólicas investidas do demónio, que contrastam com o meu sussurro desordenado.
Medito na Palavra que interiorizo e planto, mas que morre por falta de rega.
Medito Senhor, na Via-Sacra, nos Teus passos marcados a sofrimento, nas Tuas tentações, no Teu sangue derramado em expiação dos meus pecados, na Tua Cruz...
E peço-Te perdão, perdão meu Jesus! Rendo-me à insignificância do meu ser, das minhas parcas obras, dos meus poucos feitos, perante a Tua grandiosidade. Encolho o que sou.
Senhor, esvazia-me de todos os sedimentos existentes que me poluem, para que a Palavra dê fruto e possas crescer em mim.
Meu Jesus, que travaste e venceste o combate às tentações e investidas do demónio, sopra-nos e enche-nos do Espírito Santo, que nos santifica, consola, guia e fortalece. Colocamo-nos sobre a Tua Cruz, cobre-nos com o Teu preciosíssimo Sangue. Envolve-nos na Tua luz e faz com que enxerguemos a Vossa grandeza, a Vossa Majestade, o Vosso Amor e a Vossa vitória a nosso favor.
«Fortaleço-me no Senhor, pelo Seu soberano poder; revisto-me da armadura de Deus, para resistir às ciladas do demónio; cinjo os meus rins com a verdade; revisto-me com a couraça da justiça; empunho o escudo com que apago todos os dardos inflamados do maligno; tomo o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus.»Ef 6,10-17
Santo nome de Jesus, defendei-nos!
Preciosissimo Sangue de Jesus, purificai-nos!
Coração de Jesus, acolhei-nos!
Dulce Gomes