"Somos anjos duma asa só e só podemos voar quando nos abraçamos uns aos outros."

Pensamento de Fernando Pessoa deixado para todos os que estão na lista abaixo e àqueles que passam sem deixar rasto. Seguimos juntos!

OS AMIGOS

DEGRAU DE POESIA

Este é o meu outro olhar sobre o mundo que se revela por entre as rimas e prosas. Chamo-lhe poesia por não encontrar outro adjectivo que melhor a descreva, mas não pretendo que me julguem poetisa, apenas, como um ser humano perdido na imensidão da vida mas encontrado pela luz de Jesus...




BARRAFLORES03A 
NOVO AMANHECER…

Dissipam-se as vestes da noite
Que por tantos dias me revesti
Restam as sombras que num açoite
Deixam a nu as penas com que me cobri

Com o romper da nova aurora
Rasgos de luz riscam o infinito
Adormeceu a lua, que sem demora
Levou  em silêncio o som do meu grito

Ó dor que dói, sem  que  a veja
Pesar que mói onde quer que esteja
Divagando  entre a lucidez e a ilusão

Mas já lá vem um novo amanhecer
Tecendo na alma um entrelaço de saber
Apagando os porquês de cada questão


BARRAFLORES03A
HÁ EM TI...

Há em Ti um sol poente
Um rio que nasce e corre até mim
E minh`alma sedenta
Enlaça a Tua corrente
Na ânsia de ser foz, margem ou nascente
Tudo o que quiseres ser em mim...

BARRAFLORES03A 
TRANSPARÊNCIAS


Da varanda do meu olhar
Toco um pedaço de céu
Que de cinza se pintou
Retoco o silêncio, num arrepio...
E na transparência deste sentir
(Num deslize suave e leve)
Caem gotas como neve
Inundando o espaço vazio
Cingindo o meu "tudo" num doce convergir...

BARRAFLORES03A

MARESIA

Hoje o mar não dança
Com brandos sapatinhos de espuma…
Contorce-se por entre novelos cinzentos
Num rugido de gemidos trazidos como lamentos…
Cheira a sal, a maresia…
E para lá do trepidar da janela
O mundo passa veloz.
Correm e choram as nuvens
Vergam-se os galhos
E até o sol parece rendido
À mesma dimensão
Que me silencia a voz…
Arrepia…
Ó dialecto desnorteado
Onde norteio o meu pensar…
Como se amolga e mirra a minha alma
Diante da grandeza da natureza
Da força do seu pulsar...



BARRAFLORES03A

OLHAR SOBRE A VIDA

Presentemente
Despida do presente
Sem me debruçar no futuro
Suspendi as lembranças
Para me defender…
Um dia…Um dia hei-de lá voltar
Quando não me fizerem doer…
Entretanto …
Busco forças num olhar que não me reconhece
Mas que se abre num sorriso.
E enquanto as minhas mãos
Repetem gestos de cansaço
O meu coração é como um vulcão
Prestes a eclodir…
Não sei mais quem sou
Se "filha" ou mãe…
Inverteram-se os papéis.
Para ti
Sou apenas alguém que se abeira do teu leito
Que te cuida e te abraça
Enquanto abafa no peito todo este sentir
Mas que inventa mil e uma chalaça
Para se “alimentar” do que te faz sorrir…


BARRAFLORES03A
CORCEL ALADO

Borbulham em mim as palavras…
Espuma lavrada num mar de silêncio
Onde guardo e desprendo
Pedaços meus…
Escorrem como lava ardente
Abrasando as mãos vazias
Incendiando a folha em branco…
Talvez não passe de ousadia,
Refúgio, reflexo do que me habita
Dependência exagerada
Sede doentia…
Luz poisando sobre mim
Mas quando as palavras se instalam no papel
Sou corcel alado
Planando na pradaria
E minha alma bebe
Do que não sei se é poesia…


BARRAFLORES03A
GOTAS DE POESIA

Trago nas mãos gotas de poesia
Libertas dum lago que (em mim) extravasa
Pingos que reparto com a folha vazia
E a enchem à medida que a minha alma vaza

Correm as linhas salpicando segredos
Que por prudência preferi guardar
Mas quando sei, as pontas dos meus dedos
São uma extensão deste lago por partilhar

Desisto de obstruir a sua passagem
Que se alastra para lá de cada margem
Enchendo o vazio das minhas mãos que se agitam

Poisando nas palavras outrora escondidas
São como gaivotas desabridas
Dançando no silêncio das rimas que gritam


BARRAFLORES03A 
PARABÉNS MANA

Somos ramos da mesma árvore
Hastes que se amparam quando as tempestades nos assolam.
Em conjunto…
Cuidamos das nossas raízes (as que nos deram o ser)
Cuidamos dos nossos rebentos, direccionando-os para a Luz.
Em conjunto…
Vimos partir alguns galhos
Que cavaram cicatrizes que nunca irão desaparecer.
Ancoramos nesse desnorte tantas vezes
Quantas as que nos erguemos…
Sim, somos ramos da mesma árvore
Irmãs de sangue, coração e Caminho
União frutuosa com sabor a Verdade.
Um ramo sozinho perece, mas agarrado ao tronco
a seiva não morre, resplandece de Vida...


BARRAFLORES03A
O MEU CAMINHAR…

O meu caminhar?
É feito de silêncios confidentes
Anónimos, invisíveis
Como o vento que se sente e não se vê…
Sigo de mansinho
Rumo à Luz crescente
Num esforço para aceitar
Todo aquele que não crê…
E vou assim na tormenta agitada
Dum cabo difícil de dobrar
E no intervalo de cada passada
Repouso suavemente
na certeza do Teu olhar


BARRAFLORES03A
ROUBA-ME…

Rouba-me o que julgo ser meu
E a trave que não me deixa enxergar
Implanta-me na alma que tudo é Teu
Até o ar que me deixas insuflar

Que me admita como um pequeno nada
Que não cresce nem floresce se não souber
Que preciso de luz, de água e ser dotada
De humildade para o reconhecer

Rouba-me a ousadia improcedente
De que por respirar e ser gente
Adquiri sabedoria para tudo decifrar

Como se eu não soubesse, de antemão
Que não basta ver uma luz na escuridão
Tenho que ser capaz de a alcançar 


BARRAFLORES03A
SILÊNCIOS AGRAFADOS

Quando calo, escrevo...
Quando escrevo,
agrafo os meus silêncios às palavras...
E lavo-os numa corrente de
ondas batidas à força
num caudal que engrossa
 levando para longe todas as mágoas.
Nas águas do meu contentamento, reinvento.
E neste rio sem margens para pernoitar
vagueio no tempo sem cansaço.
Risco traços de luz nas águas cristalinas
 que me alucinam o sentido
gravando no papel cada gemido
 que não consigo sequer sussurrar...


BARRAFLORES03A


RESISTIR…

Às vezes preciso parar.
Parar sem cruzar os braços
Tampouco para desistir
Mas para observar todos os ângulos do meu caminho
Incluindo o que ficou para trás
E nesse balanço retrospectivo
Vi que nunca estive só
Há sempre um ombro amigo
Uma palavra,
Uma luz na penumbra do meu sentir
E se há tempestades que me sacodem a fortaleza
Paira cá dentro a certeza
De que uma força maior
Me mantém de pé
E me ensina a resistir…


BARRAFLORES03A
COISAS DE OUTONO…

Tal como as árvores que se despem sem pudor
Ou as aves que mudam de veste sem se cobrir
Vou jogar fora as penas gastas já sem cor
Junto com a folhagem ressequida do meu sentir

E assim como um rio fluindo sem se deter
Nos obstáculos onde poderia pernoitar
Vou dizer ao Outono que pode chover
E se quiser leve o sol para lá do mar

Porque já dancei à chuva com um sorriso
Já me perdi entre tormentas e o paraíso
Ri como quem chora, gritei como quem emudece

Que importa se o Outono se veste de cinzento
Se me açoito como tintas ao sabor do vento
E me pinto e revisto dos tons que mais me apetece


BARRAFLORES03A
SALPICOS...

Às vezes sou onda com salpicos de vida
Seixo que rebola e se esmerila nos tombos…
Areia onde espraio a minha dor despida
Sol desbotando a cor dos meus rombos

Sou o sal grosso donde retiro
O tempero mediador que me amansa
No mesmo chão agreste onde me firo
Rasgo de alegria em passos de dança

E num bailado de alva espuma
Deixo cair pedaços de erosão
Que se reduzem a coisa nenhuma

Miscelânea que quando me agita
Renova o bater do meu coração
Num novo pulsar que a viver me incita


BARRAFLORES03A
RAZÕES

Hoje não vou deixar impune

As razões que me doem

Vou enfrenta-las de alma afiada

Com as armas das minhas mãos...

E deixar que a ponta dos meus dedos

Sejam laminas contundentes

Fragmentando sem piedade

Todas as razões da minha razão

BARRAFLORES03A
Antevisão

Um dia...
Serei lembrança fugaz e espaçada
Flutuando na memória do tempo
Obra escondida que de tão acovardada
Ancorou no cansaço que agora invento

Serei ampulheta que a vida encravou
Pondo fim ao toque ousado dos meus dedos
Prosas e rimas que Deus me segredou
Sucumbiram à força da mordaça e do medo

Um dia...
Não serei mais verso batendo no charco
Nem folha em branco onde demarco
Os inquietantes silêncios do meu "eu"

Serei ponto final, última linha
Dum livro que se fecha, vida minha
De pontos e vírgulas que o mundo esqueceu


BARRAFLORES03A

SER MÃE...
Quando te vejo e por te ter
Sou coração de mãe a bater de enlevo e ternura
Coração que se derrete no toque do teu abraço
Num enlaço onde a minha alma se enfeita
Com pozinhos de essência pura.
Amo-te filha e por ti
Visto o meu olhar de esperança
E choro como quem ri…
Sou forte e brava quando fraquejas
Abraço as tuas feridas no silêncio
Saro-as, sem que saibas ou vejas.
E dos fragmentos da tua dor, faço o catalisador
Onde me transcendo e robusteço…
Tal como leoa exacerbada
Amordaço o medo para aparar-te cada tropeço
Ser mãe…
É pulverizar as tuas noites escuras
Com fios de sol, pedacinhos de lua
É ser trunfo, ter fórmula de alquimista
E vibrar a cada conquista
Como se fosse sua...
Ser mãe…
É voltar a ser criança
Na menina que há em ti
E sorrir para a vida
Quando a vida para ti sorri...

BARRAFLORES03A

SILÊNCIOS AGRAFADOS
Quando calo, escrevo...
Quando escrevo,
agrafo os meus silêncios às palavras...
E lavo-os numa corrente de
ondas batidas à força
num caudal que engrossa
 levando para longe todas as mágoas.
Nas águas do meu contentamento, reinvento.
E neste rio sem margens para pernoitar
vagueio no tempo sem cansaço.
Risco traços de luz nas águas cristalinas
 que me alucinam o sentido
gravando no papel cada gemido
 que não consigo sequer sussurrar...

BARRAFLORES03A

OLHAR ATRAVÉS DA ALMA

Frágeis os comandos do coração.
Movem-se numa complexa engrenagem
que se ligam e desligam
Conforme a emoção…
Reactivos,
Rendem-se aos caprichos da mente.
A ambição desmedida de tudo querer
O ego levantado
O orgulho assoberbado
Que enche a boca de tudo poder dizer
O egoísmo…
São elos que se desgastam
E arrastam a nossa essência sem prudência
para a força incontrolável das mágoas
Afogando-a nos obstáculos
Em vez de os contornar
À semelhança da sabedoria das águas…
Em desequilíbrios contraproducentes
Assentes em mil razões
Quebram-se correntes
Dessecam-se nascentes
Abatem-se pontes e cortam-se caminhos
E só depois deste frenesim
De rédeas soltas e desgovernadas
Se arquitectam novas estratégias
E tudo se reinventa
Porque os corações endurecidos acabam sozinhos
E a essência dilacerada
Grita aos comandos que esta “máquina” se alimenta
 De pequenos/grandes nadas

BARRAFLORES03A

PEDRADA NO CHARCO

A folha permanece vazia
Tal como as minhas mãos, Senhor
Que se abrem devagar para Te receber…
Num contraste
Contorce-se o meu coração
Que de tão cheio quase explode
Mas que se fica
Por nada dizer…
Ainda não desprendi todas as correntes
Nem desatei todos os nós
E ao fitar a Tua Cruz de frente
A emoção embarga-me a voz…
Tu sabes Senhor
Como por vezes contesto
Sem nexo nem tom…
É que a Tua Palavra
É como uma pedrada de Luz
Caindo no charco das minhas trevas.
E nem sempre sigo no Teu silêncio
Pelo caminho por onde me levas…
Não é fácil imitar-te, Jesus…
Dar a outra face, seguir os Teus passos
Não é fácil pedir perdão, saber perdoar
E cortar pela raiz
Tudo o que Te impeça de me moldar…
Mas eu quero.
Tu também quiseste…
Abraçaste a Cruz por Amor ao Pai.
Para congregar os que andavam dispersos
Carregaste-a para nos salvar
E foste perdão
Até para as mãos que se ergueram
para Te apedrejar…
Perdoa-nos Senhor! 

BARRAFLORES03A

NA PALMA DAS TUAS MÃOS 
Como gosto de saber Senhor
Que me guardas nas Tuas mãos
E que à sombra das Tuas asas me refugio…
Sabes Senhor...
É nelas que descanso do cansaço
E me endireito de cada amasso que o dia me trás
Só em Ti me ergo e renovo
Depois de tantos trilhos escorregadios por onde me movo...
Sem Ti, não seria capaz…
Sozinha... 
Foge-me a compreensão, a tolerância
E sufoco nos laços que me apertam
Sozinha, perco o fio da consonância
E desencontro-me da Tua rectidão
Que são como abraços que me libertam…
Sei que me sondas
E perscrutas todo o meu ser
Mas como gosto – Senhor – de saber
Que tens a minha imagem gravada
Na palma da Tua mão…

BARRAFLORES03A

SENHOR, ENSINA-ME A AMAR A CRUZ

Aos poucos Senhor prendo o meu olhar na Tua Cruz…
Percorro as estações do Teu Calvário
Revejo os Teus passos
Estremeço a cada chicotada…
Sustenho a respiração a cada queda.
A dado momento Senhor, queria ser Cireneu
Para poder valer-Te
Erguer-Te…
Dizer-Te o quanto lamento
Porque o peso que carregaste também é meu.
Mas afogo as palavras no leito do meu pejo
E vergo os joelhos de pudor…
É porque eu, Senhor
Arqueio como vara seca 
ao jugo da minha cruz
Deixo que o meu egoísmo a agigante
Ao ponto de me ser difícil de suportar
Como se a levasse sozinha 
E não tivesse os Teus ombros para me aliviar…
Perdoa-me Senhor.
Ensina-me a alargar o meu espaço
A amar a minha cruz
A abraça-la e a fazer dela uma ponte
Para melhor chegar a Ti…

BARRAFLORES03A

Procurei-te…
Nas cinzas do fogo que se extinguiu

Na réstia de esperança que me corre nas veias
No grito de solidão que ninguém ouviu
Nas minhas estradas onde te passeias

Procurei-te…
Nos restos perdidos da noite lenta
Nas palavras abafadas que não disseste
E no fundo da minha alma cinzenta
Soltei a escrita que jamais leste

Procurei-te…
No porão onde encovo as minhas lembranças
Nos desperdícios de goradas tentativas
Nos vislumbres infundados da perseverança
E até neste exercício de busca a que me obrigas

Procurei-te em toda a parte em qualquer lugar…

Encontrei-te no meu desajeitado jeito de amar.
Nas minhas juras despejadas com fulgor
Nos gestos espontâneos que não te prenderam
Até que um dia…
O vento secou o sal da minha dor
E dispersou as sementes que de secura, pereceram

BARRAFLORES03A


PEDRA ANGULAR
Esculpida pela vibração da vida
Polida à força pelos vendavais
Sou como seixo que o bater lapida
Quando colide contra os corais

Tal como um diamante em bruto
De brilho desprovido, ainda assim…
Pego neste exíguo tributo, dou-to
Molda-o como barro, forra-o a cetim

Porque sem Ti, sou obra sem arte
Que o escopro da vida estilhaçou
Abandonado em qualquer parte…

Contigo, sou pedra angular
Rejeitada, que a Tua mão cinzelou
Com um esmeril de luz, até a diamantizar

BARRAFLORES03A
 VIVER POR INTEIRO
Não me arrombes a entrada
Nem me tranques a saída
Sou como terra lavrada
Pelo arado da vida

Quero colher frutos aos molhos
Sentir o mar aos meus pés
Acender a estrela dos meus olhos
Percorrer o céu de lés-a-lés

Rejeito viver pela metade
Como fogueira meio ateada
Ser um meio-termo de vontade
Semi-vazia, meio apagada

Quero vibrar a cada avanço
Arauto da minha raiz
Beber o mosto do que alcanço
E ser mais do que meio-feliz


BARRAFLORES03A

NOITE CALADA
É minha noite calada, um rio
Roçando as margens dos meus sentidos
Na aguagem silenciosa, leva os gemidos
Que se perdem no vácuo, escuro e frio

Dormente caudal onde me navego
Insónia dos meus encontros, guarida
Afogo a madrugada entorpecida
Com ela, os espólios do desassossego

Quase dia, num chegar leve
Um incolor filamento de neve
Desliza na janela do meu olhar

Não sei se é a raiz do meu pranto
Se fruto da Luz do meu encanto
Mas é tão salgado como o mar…


BARRAFLORES03A

ENTARDECER DA VIDA

O olhar embranquece no tempo que lhes foge…
É vago, triste,
E esfumaçasse nas paredes alvas, sempre iguais.
São vidas ancoradas à força
Como barcos encarquilhados e velhos
Esquecidos num cais…
A esperança não existe.
Foi ao fundo.
Tal como a memória
Que risca a negro retalhos gastos das suas histórias…
Débil é o fio que os prende à vida.
Cheiram a terra envelhecida pela erosão
A seiva morna e lenta
Que espera o fim anunciado e desejado
do tic-tac do seu coração.
Mas algo persiste e insiste
Em perdurar
Algo que não envelhece, nem embranquece
Não morre e se eterniza…
Algo que não perde o foco e ilumina muito para além
Do entardecer da vida…
Algo que descerra as grades onde hibernam as sementes
Irrigando todos os canais, que sobram
do que resta da sua condição de ainda ser gente.
Um “algo” que se chama amor.
Amam num trémulo e carente abraço;
Num sorriso que se esforçam por inventar
E calam a dor, silenciam o pranto
E amam até os que se esquecem ou não os sabem amar…

BARRAFLORES03A

PISTA DE LUZ
Em toda a encruzilhada há sempre uma pista de luz que foge aos mais desatentos.
Há que procura-la para além do olhar baço; Para lá da penumbra pardacenta do fraco entendimento; Para lá do curto horizonte a que nos impomos como limite.
Não há impossíveis para quem – verdadeiramente – crê.
Há que rasgar a bandeira desfraldada da nossa rendição e avançar…
Avançar para a Luz que dá a vida e que existe para além do que o nosso olhar vê.
Luz intensa, forte,
Capaz de varrer para longe os despojos da nossa inacção; Capaz de exterminar o marasmo e o medo que nos alberga; Capaz de nos traçar o rumo, soprando-nos em Sua direcção.
Transformando o curso da nossa encruzilhada num só caminho de chão firme, nossa verdadeira estrada.
E se alguma força violenta nos atentar, seja a Cruz de Cristo o nosso escudo. A pista de Luz que nunca devemos subestimar...


BARRAFLORES03A

EQUAÇÃO
A felicidade
Não nos grita ao ouvido
Numa fonética perfeita e previsível
Soprando o sonho que se almeja
Como se estivesse de antemão definido…
Não é uma equação aritmética extensível
Onde se ligam parcelas de passos perfeitos
Nascem ambíguos, tortos, indecisos
Resultantes de trilhos nem sempre direitos.
Dividem, quando queremos multiplicar
Subtraem contrariando o nosso somar
E nesta adição
O resultado é uma previsão
Da qual não temos o dom de adivinhar…

BARRAFLORES03A

DO PROVÉRBIO 3,1-12
Senhor
Que não se afastem os meus olhos
Dos teus preceitos
E se agrave cá dentro esta busca
De Te querer conhecer.
Ata como adorno ao meu peito
O sentido da Tua palavra
Ainda que nem sempre a consiga entender…
Que nas Tuas veredas, examines
Se o meu rasto pisa o chão do Teu caminho.
És bom Pai.
Se acaso me perder
Aceito a Tua correcção
E o meu coração será celeiro e lagar
Que se encherá de trigo
E transbordará de bom vinho

BARRAFLORES03A

O MEU SILÊNCIO COM DEUS
Eu, silêncio profundo
Mar onde mergulho sem temor.
Sustento da minha alma que lateja em remoinho,
ninho onde me aninho, num misto de alegria e dor...
Afloram sentimentos que se apossam de mim,
extravasando como rios de frases teimosas,
percorrem meu leito, fervilhando em frenesim
e desaguam em minhas mãos que esperam, ciosas.
Este é o meu mundo, onde o silêncio impera!
Mas não estou só!
Este silêncio és Tu, Jesus, é a Tua voz
metamorfoseada em gritos mudos que escuto e ouso escrever.
Este silêncio é a Tua palavra que da minha boca não lavra
por não A saber enaltecer...
Este silêncio...
É a fusão entre a escuta e a escrita
Entre a Tua voz e a minha mão.
Este silêncio que só acontece
quando a minha alma grita
o que escreves no meu coração.

BARRAFLORES03A

OLHAR O MAR...
Olhar o mar…
É deixar que ele desenhe com precisão os traços da minha vida. Escutar o marulhar das ondas, das ventanias e o encadeado dos mares de leva em tempos de maresias…
Olhar o mar…
É transportar-me ao céu nas asas duma gaivota, perder-me na bruma, poisar no revelim e de respiração suspensa escutar o som profundo do seu bater nas rochas enegrecidas, enquanto os barcos de pesca assomando na linha do horizonte, traziam o sustento, que calavam os silenciosos lamentos das misérias de tantas vidas…
Olhar o mar…
É fechar os olhos e repisar a praia onde cresci, sentir o ranger da areia fina debaixo dos pés e rever as pegadas diminutas de uma simples e vulgar menina. Corria, bebendo o vento da alegria como se fosse uma estrela-do-mar beijando os recantos mais profundos do seu mundo. E só parava, quando perdia o pé no vaivém da alta maré, onde uma mão forte, calejada pelos ventos do norte, a segurava.
Olhar o mar…
É sorver o cheiro a bolachinha americana, a batata frita, a bola de Berlim, sabores inconfundíveis e tão tatuados num mar de recordações sem fim.
É lembrar a exactidão com que contava cada tostão bem arrecadado numa velhinha carteira, comprada a muito custo numa banca da feira. E de mãos cheias, este pedacinho de gente, atravessava a areia quente em bicos-de-pés e aterrava na toalha pesada de tão molhada , saboreando o sol e o sal do mar a cada dentada.
Olhar o mar…
Faz-me sentir grata, abençoada e de bem com a vida.
Neste mar estão as marcas das minhas tempestades dissolvidas. Em cada onda batida leio histórias presas às minhas memórias sem espaço, tempo ou idade.
E um dia, quando os meus pés já não alcançarem a areia fina; quando encalhar a gasta carcaça em qualquer canto, sei que correrei de novo como menina, e navegarei até encontrar o mesmo mar que me fez sonhar e ser feliz, mas também se misturou, tantas vezes, com o sal do meu pranto.

BARRAFLORES03A

PALAVRAS À TOA 
Solto as palavras à toa…
E por tempo indefinido pairam no branco imaculado da folha como um borrão disforme, sem encaixe nem compreensão…
Fogem de dentro de mim num perene sentimento que tem tanto de calmo e agitado, como de luz e escuridão.
As trevas do que não sei cerram as cortinas dos meus olhos.
Não alcanço, não vejo, só sinto.
Neste confronto aberto – quase surreal – vagueio pelas frases desconexas que almejo entender e rendo-me tantas vezes à evidência de nada ter e pouco ser…
Magoa a impotência que se alonga e engrandece à medida que reduz a minha insistência a um mero esforço que aos poucos perece.
E só quando exausta quase rendida, encosto à margem; Quando o deserto me faz tropeçar nas fendas ressequidas dos seus trilhos;Quando despida de raciocínio me aprisiono e me abandono ao rosto amargo do declínio, aceitando o fim da viagem…
Tudo acontece...
Cheira a terra molhada, a tapete de sementes vivificadas, a fragrância a lírios do campo, de mar em plena maresia.
Ante esta energia arrepia-me a alma…e sou tanto…
Acorrento-me à luz do entendimento que me agita, definindo o sentido.
E os sóis – meus faróis – tecem bordados reluzentes soprando ao meu ouvido…
Os meus dedos espezinhados balançam frenéticos de confiança. Ignorando as cicatrizes dançam agora felizes traçando um rasto de esperança.
E das palavras à toa a ferro e fogo lavradas
Permanece a certeza tão boa
De que elas são o “TUDO”
Dos meus insignificantes "nadas"


BARRAFLORES03A

EIS-ME AQUI SENHOR...
Eis-me aqui Senhor...
Aceita a minha presença
Ainda que nada te diga.
Passeia-Te em mim
Lê o meu coração
E a minha mente, suspensa...
De onde se desprendem palavras
 Como flocos de neve
Que por incompetência
Não consigo juntar...
De duração tão fugaz e breve
Que se desfazem antes de as conjugar...
Eis-me aqui Senhor...
Vazia, mas tão plena de certeza
De que o meu coração bate por Ti.
E que este fogo que me invade
É fruto da forte e suave saudade
De algo que experimentei
Quando Te conheci.
Eis-me aqui Senhor...
Entrego-Te o silêncio
Do meu coração contrito e mudo.
Que não traz como escrito
Frases feitas nem decoradas
Nem têm para Te apresentar
Apenas obras por Ti aprovadas.
Aqui estou Senhor...
Sou só eu.
Entorpecida pelo mundo e pela vida..

BARRAFLORES03A

RENDIÇÃO
O meu mundo...
é feito de páginas amarfanhadas pela rendição
Tão amachucadas como os anseios
 Sonhos e desejos
Escritos pela minha mão...
São como velas em riste
Onde me aventuro a esperar
 O toque do vento que insiste
Em não me querer manobrar...
Mas eu quero!
E neste tanto querer
Hasteio a bandeira da esperança
Num agitar quase dolente
E ainda que o meu barco não ande
A minha alma sente-se guiada
E empurrada, segue em frente...


BARRAFLORES03A

ALMA COM ASAS
Inerte na rocha, olhando o infinito
Embranqueço na espera da Tua vinda.
Não saio do mesmo lugar.
Não quero, não posso
Sei que não vais tardar
Porque sabes que espero
Nesta ausência que finda.
Qual albatroz
Bato as asas da minha alma
Chamando a Tua atenção...
Pássaro louco
Rasgando as grades do meu peito
para sobrevoar o Teu leito
Sem sequer sair do chão...
Não sei se Te chame
Céu ou estrada
Rio ou mar...
Chamo-te meu Tudo, porque conTigo
Sou alma com asas
Que permanece estática e calada
mas consegue levitar...
 E nesse momento sou foz
onde desagua a Tua Palavra/Voz
Reconstruindo o meu pensar...


BARRAFLORES03A

QUERIA...
Na ânsia de Te encontrar
Queria estar onde não estou
E ir onde não vou...
E nesta contenda interior
Vocifera o meu coração
Bramindo como louco
Mas o que a minha boca expressa
É pouco, tão pouco…

BARRAFLORES03A

CONCHA
Às vezes sou silêncio onde me escondo
Concha entreaberta para o mundo
Com receio de invasão…
Enrosco-me na carapaça
Cerro-me ao que abomino
E sem vergar ao suposto destino
Só me acorrento à minha libertação.
Lentamente e sem queixume
Desprendo-me do murmúrio
dos ecos acutilantes
Das palavras e dos gestos
Que numa pertinente insistência
Teimam pintar as paredes da minha alma
a negrume e carvão...



BARRAFLORES03A

ENTREGO A DEUS
Gira o mundo sem complacência
Numa rebelião que não venço
Deponho as armas a esta evidência
Nele não me encaixo, nem sei se pertenço…

Mundo que, por demais abrangente
Embala e adormece os meus sentidos
Apagando os meus passos tão subtilmente
 Deixa um rasto de pedaços distorcidos

Mas, por mais que pareça inatingível
 Sei que a Deus nada é impossível
Quando o Seu olhar para mim se ergue

Porque, até o clamor mais silencioso
Soará a um grito vitorioso
Quando a ELE, tudo é entregue.


BARRAFLORES03A
RENASÇO
Renasço em cada canto
Em cada lugar
Renasço no vento que me abraça
No sol que me acende como fogaça, ardente
Renasço inesperadamente
No degelo dum olhar…
Renasço no desalinho espontâneo dum gesto
Beijando a minha alma sedenta...
Renasço na brisa dos meus silêncios
Soprando as cinzas da minha tormenta.
Renasço em cada tombo
Nos rasgos de fel a cada investida
Na palavra que me provoca um rombo
Quando me colhe, desprevenida.
Mas não me rendo...Nem me assombro...
E até acho...
Que me ergo de cada queda
Muito mais fortalecida...


BARRAFLORES03A

SENHOR...
Senhor, obrigada pela Tua Palavra
que se cola e me molda
 ajustando sem me apertar.
Obrigada
pela Tua vontade sobreposta à minha
e por esta inquietante liberdade
Que a Tua verdade, em mim sublinha...


BARRAFLORES03A

COBARDIA
Às vezes...
Descanso na margem do rio que sou
E por momentos
Invento mil razões para não sair de onde estou...
Mas tudo não passa de mera cobardia
Para me convencer de que é melhor ficar
Do que lutar e seguir
Esta Luz que me guia…

BARRAFLORES03A

TUDO VALE A PENA
Tudo vale a pena...
Se cá dentro uma etérea vontade
Me arrebata e me faz consumir
  carregado num sublime sopro que arde
numa entrega a que deixo de resistir.

 Tudo vale a pena... 
Se uma lágrima se transforma em sorriso
E os braços se abrem para um abraço
Desce à terra um pouco do paraíso
  Enviado por Deus num inebriante enlaço.

 Tudo vale a pena... 
Quando um olhar já gasto me fala
O que a boca não consegue e cala
Numa linguagem de amor dolente

 Balbucio firme, ainda que sem jeito
Palavras que emocionada, guardo no peito
"Jesus e Maria amam-nos profundamente!"


BARRAFLORES03A

DAR TUDO
Não me detenho no que ficou
Está lá atrás, é passado
E neste presente, aqui e agora
Há uma insatisfação persistente, dolente
Que me consome e devora…
Igual a Marta me inquieto
Naufragando no tempo que não pára.
Neste corre-corre
Há sempre algo que morre
Antes de nascer.
E como ferida que não sara
Não se ignora, de tanto fazer doer…
São palavras retidas, gestos abortados
Sopros empurrados
Por ventos de cobardia…
E neste “tanto querer”, vencido
Cai uma lágrima frustrada
Que queima como brasa…
“Dar tudo” é tão pouco
Para o tanto que queria fazer
Quando finda mais um dia
O “Dar tudo” é uma miragem
Mera utopia, vontade inacabada
Anseio dar tanto
e parece que não dou nada
Sinto-me vazia…


BARRAFLORES03A

ASAS DE SILÊNCIO
Sou…
Pouco mais de nada
Não trouxe comigo estrada
Nem caminho delineado
E como gota de água
Fluo nesta corrente
Diluída num mar de gente
Tantas vezes encrespado…

Sou filha da maresia
Permeável em cada filamento
Por mais longa que seja a travessia
Não desvanece nem perece
a tocha e a rocha
onde me sustento

É na tormenta mais atroz
Quando tudo se parece finar
Que a Palavra se faz chão e céu
Alma e voz...
e nas asas deste silêncio
 há um tudo em mim, a renovar...



BARRAFLORES03A

ÉS TU SENHOR?
Quem me rasga o silêncio?
És Tu Senhor?
Calei para Te escutar
E não perscruto o mais ínfimo rumor…
Estás aí Senhor?
Serás este descompasso
Acelerando a minha alma?
Serás a serena mudez
Que acolhe a minha pequenez
Numa doce e saborosa calma?
Serás a madrugada
Onde me firmo e entardeço?
Serás a cor da minha alma cinzelada
E o Autor desta transformação
Que reconheço…
Só podes ser Tu, Senhor.
Este fogo de amor que me inflama
Ao qual todo o meu ser, se rende
Numa entrega que me sossega
Tão intensa que me reacende.
És Tu, Senhor!
Que numa enxurrada silenciosa
Despejas no meu coração
Palavras, gotas de luz e vida
Caindo embriagadas na minha mão.
Sei que és Tu, Senhor!

BARRAFLORES03A

O MEU RASTO

Procuro no meu rasto
O que a minha memória desbotou
E das marcas circunscritas dos meus passos
Restam pedaços que o tempo não levou.

Peço-lhes que me falem de mim
Sem qualquer pudor ou cuidado
Desbravando do principio ao fim
Cada pedacinho por mais fragmentado

E contam-me de passos firmes e incertos
Tropeços, espinhos, travessias, desertos
que se vistos apenas à luz da razão...

Ter-se-iam perdido como palha ao vento
Deles não sobraria nenhum fragmento
Para contar porque piso o Teu precioso chão…

BARRAFLORES03A

ENQUANTO...
Enquanto o sol espreitar no horizonte
Abrindo a fresta dos meus sentidos
E o vento acariciando a minha fronte
Soe como melodia aos meus ouvidos…

Enquanto o mar me cobrir de rebentos
Temperando as dores que não me desfaço
E a espuma que se dissolve em fragmentos
Alise a areia por onde passo…


Enquanto uma gaivota me prender o olhar
E a luz do céu me inebriar
O meu horizonte não será miragem.

Faço da Palavra a minha ponte
E ainda que das alegrias a dor desconte
Valerá a pena seguir viagem.



BARRAFLORES03A

MANHÃ DE CHUVA
Estou no vento que escutas e sentes
No arco-íris que olhando, te extasia
No mar de prata duma rua sem gente
E nos salpicos das ondas, cheirando a maresia.


Estou na nuvem que corre veloz
No cantar da ave que te desperta
Estou na mensagem que te embarga a voz
Quando o silêncio se enche da Palavra certa.


Estou nos montes, vales e rios
No horizonte delineado como um fio
Onde o sol se esconde para lá do céu.


Estou nas coisas que crês porque vês
Nas outras que, porque não vês não crês
Estou em tudo, porque “O TUDO” Sou Eu!

BARRAFLORES03A

INVERNO DA VIDA
Temo ser um dia...
Como árvore oca, de essência desprovida
E a minha folhagem anunciando o seu fim
Ao tocar o inverno da vida
Para sempre se desprenda, caindo de mim.


Temo que meu Tronco definhe em veloz desvario
Donde outrora jorrava a seiva viva e quente
Escorra agora entre soluços um ténue fio
Que não aquece nem sacia um esvair demente.


Temo vegetar nas sombras da minha memória
Visualizando entre as nesgas do meu tino
Onde as sobras dos estilhaços da minha estória
Contem o desfecho desse mesmo desatino


Temo que meus galhos engelhados no tempo
Esqueçam de vibrar com o cântico do vento
E não mais se deslumbrem, contemplando o céu


Temo ser alma escura em dia ensolarado
Temo as palavras sem chama como rastilho apagado
Perdidas no deserto duma mente que desapareceu…

Temo não saber mais quem sou
Nem onde estou enraizada
Temo não saber para onde vou
E de me manter viva, morta de nada…



UM SÓ E DEUS
Somos verso dum poema inacabado
Palavras que sempre ficam por dizer
Passos em curso num caminho já trilhado
Página dum livro ainda por escrever.

Somos a semente rasgando o solo
Buscando o sol num doce vaivém
Somos ave que se agita num voar tolo
Chama que arde porque o amor a sustém.

Somos mar e rochedo, suave batida
Onda que se estende na areia, entorpecida
Confiando em segredo, sonhos só seus

Somos ventos amenos e temporais
Que se cruzam e completam de tão desiguais
Porque colhem a brisa soprada de Deus.



(D)ESCREVENDO

Apetece-me escrever para ti!
Apesar do risco de não expressar o que sinto
e ainda que receie perder-me
entre as linhas tortas e vagas
deste meu coração/labirinto...
Prossigo.
Quiçá, irei divagar ou
talvez chegar à conclusão,
que apenas saiu um turvo rabisco,
inconclusivo e sem sentido,
da minha mão.
E tal como nuvem que o vento arrasta
irei consentir que se vá e se perca,
como caligrafia desbotada,
saída duma caneta meio gasta...
Mas também pode acontecer
que igual a poeta inspirado,
dos meus dedos desvairados
jorre um poema de amor...
Fidedigno e narrador da chama que ainda arde
e onde, ainda que peque por tarde
pouco ou nada fique por dizer...
Mas supondo que assim não seja
pensas que acaso o lamento?
Claro que não!
Porque se estiveres atento
Vais sentir bem no fundo, no “teu dentro”
Que minha alma beija o teu coração.


BARRAFLORES03A

TURBILHÃO QUE ME EMBALA
Neste baloiçar em que me balanço
Entre a luz e o escuro breu
Mergulho dentro de mim
Para descobrir quem sou eu…

Como saltimbanco sem rumo
Sorvo num trago a minha utopia!?
Escuro/luz, desnorte/aprumo
É a vida que não renego e me inebria.

Neste vaguear em turbilhão
Silencio e escuto o meu coração.
Quem és Tu? Voz que me fala?


Voz à qual minha alma se rende
Num mar de emoções que se acende
Como um baloiçar que me embala...


BARRAFLORES03A

FOLHAS RESSEQUIDAS

Senhor
Que cada tempestade que se abate sobre mim
Arranque pela raiz as folhas ressequidas
Do orgulho, da vaidade,
Do meu “eu” insuflado…
Vaticinando esse fim
Seja a Tua Palavra o arado
Lavrando o chão onde jazem inertes.
Transmutando a matéria caída
Numa ceifa onde colho
Sementes renovadas de vida...

BARRAFLORES03A

INSÓNIAS
Despede-se a noite silenciosa e lenta
Espreguiçando sem pressa na escuridão
Ainda a cortina cerrada se adensa
Fustigando o negrume em saudação

Aos poucos rompia a cor da aurora
Matizando o céu a negro e fogo
O sono teimou em tardar na hora
E nesse entardecer, era dia de novo

Uma ave ensaiou o seu canto
Com acordes roucos, soando a pranto
Num aconchego cúmplice que me circunda

A brisa salgada e o rugido do mar
Vivificam o fôlego do meu respirar
Semente de vida que me fecunda

 BARRAFLORES03A

TRAÇOS VIVOS 
É densa a neblina que me reveste
Tecendo fios de luz envergonhados
Por entre a folhagem ondulante do cipreste
Focam o meu caminho de raios doirados

Trazem a Palavra que em mim condenso
Rompendo o véu de bruma, cinzenta
Asas em chama que escrevo por extenso
E rasam a minha alma de suave tormenta

Sigo os traços vivos deste rumo
Emaranhado novelo em desaprumo
Onde pernoito, madrugo e espero...

Sejam eles o pincel da minha essência
Tingindo de fortaleza esta dormência
Porque seguir-Te, é tudo o que mais quero. 

BARRAFLORES03A

REDES PRONTAS 
Barco de velas içadas ao vento
Cavando sulcos nas ondas exaltadas
Sente o sopro que lhe sopra o tormento
E desliza na brandura duma paz santificada

Para trás o deserto é já miragem
Que não dói nem lamenta e aos poucos se apaga
A linha do horizonte traça a viagem
Definida pela esperança ao sabor duma vaga

E no imenso lençol salpicado
Mergulha expectante no tapete de espuma
O presente liberta a mordaça do passado
O futuro é de luz na cinzelada bruma.

Nesta moldura descreve em arco
O desfecho colhido em cada ida
Sara os rombos marcados no casco
Preparando as redes para o mar da vida

BARRAFLORES03A

SEM INSPIRAÇÃO 
Apetece-me...
Escrever só por escrever
Deixar a tinta correr
Alastrando a folha vazia
E num desfile preguiçoso e lento
Sejam meus dedos rebentos
Brotando sem grafia.
Escrever só por instinto
desnudada de pretensão
Sem ter em conta linhas ou pontos
Rimas ou frases elaboradas
Sem me importar se estarão
as vírgulas bem ou mal aplicadas...
Sem me indignar
Nem reclamar sobre o que escrevo
muito menos me interrogar
Sobre se devo ou não devo...
Quero só que flua ao acaso
Como quem esparge
Sementes de existência
Sentindo que o meu coração reage
a cada nova reticência...


BARRAFLORES03A

EU SOU O NATAL. ACREDITA!

Faz silêncio e medita…
É Natal! Acredita!
Dias de luz, cor e sonhos sem limites
De paz e amor, partilha e fraternidade
E a visita dum sentimento que me rasga por dentro:
A saudade!
Mas esse sentir, eu rejeito porque dói demais.
Tem o condão de me abrasar o peito
e de me arrastar a eito para o centro dos vendavais...
Mas dizia eu: É Natal!
Mãos cheias de compras, pressa, agitação
Respira-se no ar o desejo de camuflar a solidão
De esquecer e ser feliz
Ou até recuar no tempo e voltar a ser petiz.
Mas, que Natal?
Olhando para o lado alguém dorme no chão…
Numa cama de sacos, roupa de buracos
E mantas de papelão
Com o frio lhes sugando a alma
Soltam entre soluços pedaços de ilusão…
Mas tenhamos calma…É Natal!
Tempo de sorrisos e simpatia
Um lar quente, aconchego e fartura
E muita magia no ar iluminando a noite escura.
E aos poucos este efémero fulgor
Adormece e quase se esquece a cor amarga da dor.
Mas é Natal!?
Então e os que não têm lar e vagueiam perdidos
sem terem para onde ir?
Tão iguais e tão diferentes, esquecidos por toda a gente
sem forças nem meios para subsistir?
E os que estendem os braços
E não acham outros para enlaçar…
Os idosos de mãos trémulas e olhar vago
Implorando por um afago que tarda em chegar…
E as crianças sem um brinquedo
Amadurecidas à força pelo medo
De quem lhes rouba o direito de sonhar.
Ai é Natal…
São as guerras, o ódio o rancor
Contrastando com a frenética euforia
E neste misto de frio e calor
Arrefeço num gelo que me paralisa e esfria…
Mas sim, é Natal!
Palavra que no seu sentido verdadeiro
Aquece o meu coração por inteiro
Trazendo ao mundo uma luz infinita
Essa luz é Jesus, nosso Salvador
Que escreve com letras de amor:
“Eu sou o Natal. Acredita!”


BARRAFLORES03A

MAR DE AMOR
Vestes-Te de mar azul radioso
Para poder chegar de mansinho aos meus pés
Em ondas de amor, manso e glorioso
Sopras-me bonança na mutação das marés

Curvo-me na areia e o sabor a sal
Afaga meu rosto amassado no tempo
Como onda planando numa entrega total
Corro como rio na crista do Teu vento

Sou gota minúscula e sem expressão
Sou mísera partícula pairando na vastidão
Deste mar de amor em que navego

Porém, no Teu mar sinto que sou tanto
Ainda que frágil, tudo suplanto
Tão pouco sou, mas tudo Te entrego.

BARRAFLORES03A

DESALENTO
Rebusco cá dentro
A minha força, a minha fé
Como antídoto ao desalento.
Mas hoje perdi o pé.
E meu caminhar lento
Não me deixou prosseguir…
Retrocedi sem desistir!
Apenas fiquei presa
Na prensa que me esmaga.
E assim triste e tensa
Procuro-Te…
Mas meu pensamento divaga.
E oscila entre as graças que me dás
E a mágoa que o dia me trás…
Hoje estou desanimada.
Mas apesar de tudo, quero dizer-Te:
"Meu Jesus, obrigada.
Porque sem Ti, nada valho.
Sou nada!"

BARRAFLORES03A

APENAS PÓ...
Queria ser ave, beber vento, esvoaçar,
sentir o sol nas penas, levantar voo e migrar.
Queria...
Que num roçar breve desafiando a gravidade,
minhas asas tocassem ao de leve em ti, minha verdade.
Nesse céu feito estrada onde porventura me aceitas,
recebe pedaços de nada, duma humanidade que não rejeitas.
Mas não sou ave, sou só gente...
E às vezes por mais que tente ludibriar a minha pessoa,
aterro abruptamente,
mas entrego humildemente tudo o que me magoa.
Agradeço sem saber se mereço ver assim tão além
e apesar da decepção, que advém de tudo o que constato,
aceito sem aparato, porque sei que não estou só.
tenho faróis de brilho, um caminho por onde trilho,
da decepção resta apenas dó...e o dever de algo fazer
por aqueles que menos fazem,
mas não ficará por dizer, que somos todos iguais,
o príncipe, o mendigo, o rico, o sem-abrigo...
Todos se desintegram como os demais.
E um dia seremos apenas pó...

BARRAFLORES03A

CATA-VENTO
Como cata-vento vivo em estado de alerta
basta um uivo dum lamento e tudo em mim desperta.
Colho ventos, tempestades que aprendi a adivinhar
se sinto a brisa forte dum vento que sopra de norte,
é porque algo está para chegar.
Mas eu aguento, sou cata-vento...
Leio o sinal do monte, o círculo da lua
a linha do horizonte, toda a verdade nua e crua.
já tremi de frio, dei poiso a ave ferida
escutei o seu cantar que mais parece lamentar
a má sorte da vida.
Tudo isto já fiz...
Mas às vezes sou tão feliz por escutar cada lamento
que meus braços escapam por um triz
a tanta força do vento...
Quanto amaina a tempestade há um misto de alegria
que se entrelaça na saudade.
Que o vento volte a uivar num qualquer dia cinzento
faz-me bem o seu queixar.
Afinal, sou cata-vento...
 
BARRAFLORES03A

DIA DE INVERNO
Abri a janela e espreitei o novo dia, ensonada
mas a chuva que me molhou junto à brisa fria
deixou-me irritada.
Fechei-a
mas fiquei de olhos no céu tão escuro e pardacento
as nuvens impelidas pelo vento
pintavam no céu um abstracto momento...
aos poucos o mau humor desapareceu
corajosa, abria-a de novo
mas desta vez absorvo cada gota na cara
sinto que o frio me trespassa mas louvo esta graça
como uma coisa rara.
Ouvindo o rugido do mar, senti o cheiro a maresia
espraiei o meu olhar para ver se o via...
Lá estava ele imponente, maravilhoso
justificando porque se sente assim tão majestoso.
Eu, ali continuava...o céu, o mar
olhando mais perto vi o baloiçar das árvores
num discreto murmurar, enquanto uma ave passou a cantar.
Senti-me egoísta na minha pequenez
por não saber apreciar aquilo que Deus fez.
Como ser ingrato pedi perdão
dando graças, ali fiquei em plena exaltação...

  BARRAFLORES03A

DESERTO
Teus pés pisam terra árida
sem vida
Tua boca acusa a sede
O cansaço
Sentes teus passos em vão...
Nada se te apresenta
Na mão nada tens
Ao longe nada avistas
No chão nada vês.
Mas eu peço que não desistas.
Apenas te pergunto:
-Porque não crês?
Sei que árido não é
o teu coração...

 BARRAFLORES03A

CREPÚSCULO
Quantas serão as formas
que o nosso coração tem de amar?
São incontáveis!
Como insondáveis são
os desígnios que o fazem bater...
Hoje bateu mais forte
Ao olhar o norte.
Espreguiçando no horizonte
De mão dada com o mar
O sol vermelho fogo
Despedia-se vagaroso
Num lento acenar.
Crepúsculo reluzente
Que aos poucos se esvaía
Pontinho minúsculo
Incandescente
Que por fim ficou ausente...
Era a noite, a sobrepor-se ao dia.
Maiúsculo...
Só este apego imenso
À terra onde pertenço
De desmedido apreço para mim.
Sinto-me filha deste mar
O resto não saberei explicar.
Entenderá
Quem a ama como eu
Tanto assim...

BARRAFLORES03A

RETALHOS
Olhei o espelho, sem olhá-lo bem.
Alguém se assomou…
Era ninguém!
Só me vi a mim e o reflexo do que sou.
Olhei-me de revés,depois de frente
Pergunto-me o porquê,
De através dele me ver tão diferente…
Em pose quase cruel espelha as marcas da minha pele…
Perante meu olhar marcado
Sinto que canta vitória,
Esquece que só reflecte,
Traços, vivos pedaços da minha história…
Retalhos de vivências em que me envolvi e envolvo
As boas ficam, as outras dissolvo...
Mas fico mais forte para começar de novo.
Cada nova ruga ou cabelo prateado
É uma lágrima que enxuga, meu rosto molhado.
Então meu espelho
Escusas de me julgar e olhar com desdém,
Meu corpo tem limites que minha alma não tem…
Acusa os sinais do tempo que não quero fintar,
Não sinto desalento,
Nem me magoa cá dentro
Porque estou onde e como quero estar.
Assim o que vês não condiz,
Porque apesar de fatigado,
Meu coração renovado, é mais feliz…
Sabe melhor amar!

BARRAFLORES03A

A FÓRMULA
O que é ser feliz? E como se consegue sê-lo?
Haverá uma fórmula especial, alguém saberá respondê-lo?
Tentasse eu responder há algum tempo atrás
E diria querer uma varinha de condão,
Que soltasse uma magia
E fizesse acontecer tudo o que me satisfaz...
Ó pura ilusão!
Presentemente e alguns anos volvidos
Vejo como eram inconsistentes
Alguns desejos tão apetecidos...
A vida se encarregou de me ensinar
Sem por isso me isentar de dor,
Que a melhor fórmula de ser feliz
É saber amar, aceitar e viver
Com um coração de amor!
Então hoje sou feliz?
Não o sou certamente em todos os minutos do dia
Nem tenho tudo o que um dia quis,
Mas preciso de muito menos para sentir alegria
E posso dizer que sim. Sou feliz!
Exorcizei os meus medos
Sinto-me bem quando dou e recebo
E não digo em segredo a palavra "AMOR".
Aprecio coisas que outrora não via,
Aprendi outras que desconhecia
E tudo ao meu redor têm outro sabor.
E neste viver de paixão
Não preciso de fantasia muito menos de magia,
Nem varinha de condão!



AMO-TE FILHA
É bom ver-te chegar
Trazes o sorriso da saudade
Que esforço por abafar…
E um abraço selando no infinito
O eco dum grito
Num coração de mãe a transbordar…
A ausência não mata nem desata
este laço que nos une...
E se em cada partida indesejada
Uma lágrima se verteu
Há vida em cada chegada
No retorno de um pedaço
Que de mim se desprendeu…



PARA TI FILHA, QUE EU AMO
Alinhavo estratégias, traço objectivos.
Solto rédeas
E digo para comigo que tudo mudou
E é normal.
Mas é tal este apego que me tira o sossego
E quase me leva para lá do racional.
E apesar da camuflagem e dos planos,
Há um desejo quase insano
Que me mantém suspensa, mas me activa também…
Que me mimes com a tua presença
Sem de mim te desprenderes…
Porque eu, por mais que viva
Jamais deixarei de me inquietar
E serei sempre cativa
Desta estranha forma de amar.
E quanto ao meu apego…
Nem sei se não consigo
Se não me quero desapegar…




CORAÇÃO DE MÃE
Por vezes perco a fortaleza.
Desarmo da destreza que me caracteriza.
Sigo de olhar apagado
esboço um sorriso forçado
e a minha passada é imprecisa...
Gosto de me achar heroína.
De me convencer, que a vida
de tudo me vacina.
Ser arrojada, mulher/mãe, ser forte.
Apregoar-me calejada às maresias
e aos ventos que sopram do norte.
Mas perante a saudade
meu coração de mãe
perde a valentia.
E até a minha alma
outrora alegre,
fica sem vida, triste e sombria.
Perece, ao vaivém persistente
deste sentimento indesejado
 que sem regras se alastra,
percorrendo impiedosamente
um coração que se desgasta
mas permanece calado...



BARRAFLORES03A

TROPEÇO
Tropeça constantemente
Cai desamparado no chão.
Corpo frouxo, dormente
Que de exausto,
Declara rendição.
Inerte,
Numa apatia insensata,
Afoga-se lentamente,
Emaranhado em mágoas
Num nó, que não ata nem desata.
Nesse inevitável tombo
Há uma mão que se estende,
Leva uma alma que não se rende
E um espírito ileso, sem rombo…
O coração amplifica
Esse estender de mão,
O corpo aos poucos trafica,
Reage e multiplica
Ao poder da doação...

BARRAFLORES03A

DISCRETO LAMENTO 
Passos firmes num caminhar discreto
Peito recalcado de camufladas emoções
Entendem-se numa comunhão, como que em dialecto,
Tudo o que vai em cada um, dos seus corações…
Em conivente cumplicidade, o sol já de partida.
Saem lamentos com a naturalidade,
De quem sabe que esta amizade
Não tem muralha, porta nem chave.
E é nessa verdade que soltam retalhos de vida…
Fecham-se em círculo de mãos unidas
Salgando a areia entre abraços,
Sabem que a primazia da maré cheia
levará ao fundo as dores contidas
E no regresso, seus pés são plumas
Que avançam em firmes passos…

 
BARRAFLORES03A

O PLANO DE DEUS
Deus nos toca das mais variadas formas.
Algo que acontece, uma Bíblia aberta, alguém que nos fala
e a nossa fé desperta.
Mas não nos iludamos, Deus toca a eito.
Só precisamos dum coração aberto
E Deus se instala, cá dentro do peito...
Não somos escolhidos, nem seres especiais
Mas ao escolhermos Deus, há dons escondidos
Ou talvez adormecidos, que deixam de ser nossos
E passam a ser seus,
Mas para Deus somos todos iguais.
Pedras vivas do Seu Templo que ele conhece tão bem,
Um a um Ele nos sonda e se estivermos ao dispor,
Deus nos move com tanto amor, que precisamos partilhar,
Repartir com alguém.
Aqui e ali nos envia, nos comanda e nos guia
Como mensageiros seus,
Limitemo-nos só a ir, sem ousar escolher ou excluir
Porque o plano não é nosso,
Mas sim de Deus!

BARRAFLORES03A

PERMANECE EM MIM
Permanece em mim…
Um estado de graça, um sentir que me transcende
Uma vontade que não se rende, numa alegria que me trespassa.
Um querer sem receio, um desejo sem freio,
um frenesim que me apaixona.
Um sentimento liberto, a certeza do certo
Numa alma que se abandona.
Permanece em mim...
A pretensão, de dar vida à palavra
Como terra que se lavra para dar boa semente.
Permanece este anseio,
Que fecunde este semeio num ser mais indiferente.
Permanece em mim… A paixão.
Uma utopia de união que alcanço no teu amor…
Permanece o dever do pregão
Que leio no coração estando ao teu dispor…
Permanece em mim…
Este desejo profundo que solto e difundo,
Que insiste e persiste
Permanência que não contenho
Nesta forma de empenho que em mim resiste…

BARRAFLORES03A

 PALAVRAS
Senhor, peço-te silêncio.
Perdoa-me a contradição, pedi-te tantas vezes o dom da expressão...
Pedi-te uma boca sem bloqueio nem receio que se soubesse expressar...
Mas hoje, Senhor, peço-te o dom de saber calar.
Cala-me do fútil, do inútil, do intolerante
Do arremesso, da falta de senso, do discurso arrogante...
Cala-me do jeito mordaz
Que nem sempre é capaz de ter um bom efeito
De frases sem raciocínio
Que levem ao declínio do que sinto no peito...
Rejeito a palavra pretensiosa que de acutilante faz doer
Rejeito ser voz que dói porque me mói
E sofro por ver sofrer...
E me faz arrepender...
Quero abster-me da opinião como juizo de valor,
Quem sou eu para julgar? Sou apenas pecador!
Por isso te peço Senhor, dá-me o dom de saber calar.
Que falem meus olhos num olhar terno
Meus ouvidos escutem com submissão
Minhas mãos se estendam num gesto fraterno
Mas minha boca se abra com contenção...


BARRAFLORES03A

EM BUSCA DE TI...
Em busca de Ti…
Palmilhei vales e montes
Bebi de várias fontes, dei-me e recebi.
Em busca de Ti…
Encetei novos passos
Atei-me em novos laços, quantos caminhos percorri.
Em busca de Ti…
Contemplei o infinito
Ensaiei um novo grito, procurei no horizonte.
Em busca de Ti…
Fui ao fundo do mar
E na esperança de te encontrar subi ao mais alto monte.
Em busca de Ti…
O mundo calcorreei, mas não Te encontrei, tampouco te vi.
Desalentada
Meio perdida, meio achada, resolvi silenciar.
Quem sabe se calada não te ouviria aproximar?...
Que miserável ousadia, ousar que viesses a mim,
Como foi que ousei querer, que me aceitasses assim…
Frágil e imperfeita
Imatura e insatisfeita de coração indistinto.
De pensamentos inquietantes
Passos vacilantes como presa em labirinto.
Foi então que percebi o motivo da inquietação
Eras Tu revolvendo as profundezas do meu coração.
Que se manteve fechado e indisponível para Ti
Tu bateste e não entraste porque eu não o abri.
Meus olhos velados não te viram
Meus ouvidos tapados não te ouviram.
Estava cega, não te vi
Mas Tu meu Jesus estiveste sempre aqui...

BARRAFLORES03A

SOU RIO
Sou rio que corre fluído.
Abraço a margem, sigo viagem
Num só sentido.
Mas temo a enxurrada
Que me polui e me trava
Com sedimentos poluídos
Eu não progrido, fico parada.
Neste travão
Que me leva ao limite, à exaustão
Sou ribeira estagnada a definhar.
Espero que breve
Se eleve o meu caudal
E meu leito
Embalado num vento a seu jeito
Corra livre e leve
E que possa por fim, amarar
Sentir o sabor do sal
E fundir-se com o mar...

BARRAFLORES03A

AMIGO
Sentado no chão, ele espera paciente
Estende a sua mão trémula e carente.
Eufóricos, de passo apressado nem o vêem ali ao lado.
Será ele transparente?
Ela vai ao seu encontro sem pressa de se aproximar
 Mas de maneira envolvente detém-se no seu olhar...
Olhos tristes, vazios de quem pouco espera da vida
As rugas do seu rosto espelham uma vida sofrida.
Que precisará ele? Uma moeda para sobreviver?
Uma bebida para o aquecer?
Que teria acontecido ao longo do seu caminho que o fez ficar assim, tão sozinho?
Absorta em mil questões nem se sentiu aproximar
Saiu dessa inconsciência quando o ouviu chamar:
“Senhora uma moedinha”
Num autómato gesto, ela ficou ali, tão perto…
Falaram de JESUS e da vida desencantada que leva como uma cruz. Sobrou-lhe a fé e mais nada.
Quando ela se afastou, ele chamou de novo. Ela parou.
“Senhora! Que Deus te guie”
Hesitante, ela balbuciou:
“Já me guiou, meu amigo.Até ti!”

BARRAFLORES03A

MADRUGADAS
Sou folha em branco, sem conteúdo nem frases em desalinho.
No entanto não sustenho meus dedos, que desenfreados percorrem de mansinho e sem medos as minhas alegrias, tristezas, dúvidas feitas de constantes incertezas e outros sentimentos que tais.
Contudo, o que mais me custa é saber que existe, uma compreensão diminuta do que sou, do que faço...
Nesses momentos atraso o meu passo e pergunto-me:
"Afinal quem sou? Para onde irei? Sei lá, às tantas nem sei"!
Mas minhas mãos não se compadecem e continuam desobedecendo. Teimam em me expor, em falar de mim
Remexendo sem pudor quase como castigo...
Nesta demanda a dois tons, solto um: "chega, já basta!"
Mas que adianta se meu “Eu” não comanda?
E quando me apercebo, lá estou de novo
 Peregrina da madrugada onde me abrigo
Feita de insónias e sonos rendilhados...
Ah, rendo-me, perdi!
Deixo de resistir e sigo este fraseado de rimas e pontos
 De vivências e contos com os quais sofro
E sou por vezes feliz.
Entre folhas amachucadas
Descrevem fragmentos que são tão meus e fazem parte de mim…
Entrego minhas mãos nas de Deus
Quem sabe não terá que ser assim...

BARRAFLORES03A

PROVAÇÕES
De que me serve interpelar porque me prega a vida "partidas"?
Prefiro mais desvendar que lição posso tirar
De cada partida da vida.
Em tempos me amotinei e na revolta encontrei
O escape ao meu motim
Mas a primeira lição foi aceitar com resignação que a vida
 É mesmo assim.
Tenho dias em que me afundo!
Quando à mesa há um lugar vazio de quem amo mas partiu
E meu coração fragmentado, mirra de despedaçado.
Quando alguém está triste ou adoece
E no meio da aflição só me resta uma prece.
Quando a injustiça me agride e avassala
Quando sou incompreendida e a minha compreensão resvala...
Quando me dou sem limites e não entendem o meu empenho
Quando falo com verdade e recebo desdenho...
Quando sofro por um amigo e choro o seu pranto
E tento e não consigo correr ao seu encontro…
No meio destas contradições tirei tantas lições…
Quanto aprendi...
Aprendi que há várias formas de amar
Aceito cada uma sem as julgar.
Que a vida é uma viagem que acaba sem levar bagagem…
Que a amizade floresce conforme nosso amor cresce.
Que o ressentimento trava o perdão
O orgulho a humildade
Sem fé não há aceitação
Tampouco haverá verdade.
Por isso aceito o que me corrói
Sofro mas não me destrói…
São provações que a vida me oferece.
Dádivas do meu Senhor que por me ter tanto amor
Me ensina que sofrer fortalece.
 
BARRAFLORES03A

ESPELHO DA ALMA
Que bom seria que houvesse
Um espelho onde resplandecesse
O que está interdito ao olhar
E na tela transparente
Refletisse só o que a alma sente
Sem expressão na face para a mascarar…

Quanta beleza refletida
De sorriso e cores embelezada
Seria sombra enegrecida
Escura como pó de terra queimada

E essa beleza que o espelho distorce
Por não enxergar mais além
É o reflexo de que ele contorce
Toda a beleza que a alma contem.



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HINO AO AMOR DE DEUS
Senhor
Sou tão parca de sabedoria
Fraca e limitada
Perco-me em contendas e lamentos
E lanço aos quatro ventos
Que tenho a alma atribulada…
E desta nudez revestida
Mergulho-me na solidão
A luz torna-se confusa, distorcida,
Faz com que me feche ao mundo
Interrogando o meu coração…
Porque me sinto assim
Se sei que não estou só?
Bem cá no fundo de mim
Há um renovado jardim
Onde a Tua Palavra prolifera
Como o raiar duma nova aurora
Num madrugar primaveril...
E por mais lenta que seja a espera
E que tarde o Teu chegar
Sei que em tudo serei vencedora
 Que vale a pena confiar:
Porque nem a tribulação ou a angústia
Nem a perseguição ou a fome,
a nudez, o perigo, ou a espada…
Nada, mas mesmo nada, me poderá,
do Teu amor, Jesus, separar.
Porque os meus passos são Teus.
Que mais Te hei-de dizer
Se em Cristo está o Amor de Deus
E se eu Te encontro em mim
Quem me poderá vencer?




BARRAFLORES03A

LUZ...
Sabes Senhor...
Tem dias que esmoreço
Olho para mim e não me reconheço...
A Luz fica escondida
Velada pelas distrações, futilidades
Ou desencantos da vida...
E eu, fraca que sou
Envolvo-me nesse manto sombrio
Que me transporta para onde não quero
e me prende aonde estou…
Não vou ao Seu encontro
Não A procuro...
Deixo que se intrometa entre nós
Um muro, que custo a transpor…
Então eu não sei Senhor
Que só n`Ela encontro
Meu porto seguro?
Que só essa Luz
Me abre num sorriso, num abraço…
E que basta dizer, sim
Para que Ela me percorra
E escorra por entre os dedos...
Seja a minha voz?
Então eu não sei
Que Ela vive dentro de mim?
E que para a manter acesa
Basta rejeitar e pôr de lado
este acobardado motim?
Que eu não entardeça na espera
Deste esperar atroz
Porque antes que soubesse, já eras
Luz da minha luz
morando dentro de mim
Dando Voz à minha sumida voz…



BARRAFLORES03A

INVERNO DA VIDA
Temo ser um dia...
Como árvore oca, de essência desprovida
E a minha folhagem anunciando o seu fim
Ao tocar o inverno da vida
Para sempre se desprenda, caindo de mim.

Temo que meu Tronco definhe em veloz desvario
Donde outrora jorrava a seiva viva e quente
Escorra agora entre soluços um ténue fio
Que não aquece nem sacia um esvair demente.

Temo vegetar nas sombras da minha memória
Visualizando entre as nesgas do meu tino
Onde as sobras dos estilhaços da minha estória
Contem o desfecho desse mesmo desatino
  
Temo que meus galhos engelhados no tempo
Esqueçam de vibrar com o cântico do vento
E não mais se deslumbrem, contemplando o céu

Temo ser alma escura em dia ensolarado
Temo as palavras sem chama como rastilho apagado
Perdidas no deserto duma mente que desapareceu…

Temo não saber mais quem sou
Nem onde estou enraizada
Temo não saber para onde vou
E de me manter viva, morta de nada…



BARRAFLORES03A

AUSÊNCIAS
Abraço as ausências sem protecção.
Enlaço-as.
E num desarrumo
Revolvo tudo o que guardei.
Passo a memória pelos rostos esbatidos
Se os disser esquecidos
Mentirei...
Torna-se inglória
Cada etapa que julgo vencida
Quando penso chegar a um final
Espera-me sempre
Mais um ponto de partida...
São cheiros e lugares
São frases, sorrisos, abraços
São sombras bailando num passado
Do qual não me desfaço
E que a saudade aviva.
Abre-se de novo a ferida que o tempo não sarou
Volta ao coração a presença
Que num lamento
Diz à distância o que não apagou...
São laços onde me atei e ainda ato
Deles não me desato
Porque nem sei se me quero soltar
E apesar da lágrima caída
Volto às ausências da minha vida
Porque ainda as sei amar...

BARRAFLORES03A

CONTRASTES

Não. Não me batas à porta
Hoje não estou para ninguém
Tranquei-me por dentro e sigo absorta
Numa busca incessante onde me sinto bem

Não estou sem vida, apenas inerte
Dum mundo que se agita e me faz fugir
Envolta em silêncio, só meu coração reflecte
Sem força nem vontade de daí sair

Se dou vida ao meu corpo minha alma definha
Se a deixo voar, ele entorpece
Nesta indefinição silenciada e tão minha
Quedo-me da paz, tudo o mais desfalece

Nesta apatia em que me afundo
Minha alma canta, meus olhos choram
Canto o meu mergulho límpido e profundo
Choro os que à superfície comigo não foram

Contrastes só meus e em mim guardados
Porque não quero nem saberia explicar os porquês
São tantos os detalhes amordaçados
Que não irias entender, porque não os sentes nem vês...

BARRAFLORES03A

"O QUADRO DA VIDA"
Cada dia é uma tela em branco
 sem expressão.
Cabe-te a ti minha querida
fazeres dela uma obra de arte...
Lê o teu coração.
Estão lá as cores da vida
 essência por ti colhida
derramada com amor por Deus.
Transporta-as para o teu dia.
E pinta,
pinta a pincel...
A beleza do mar estonteante
As searas nos campos, verdejante
O branco, paz, candura
O azul do céu celeste
Ou o verde do forte cipreste,
mas também as nuances de prata
que se desprendem da noite escura.
E pinta,
pinta de qualquer cor...
de rosa, cinza, vermelho-fogo
lilás, castanho ou amarelo
Pinta com tal fulgor
que as tuas mãos mesmo cansadas
 e transpiradas de suor
prossigam determinadas
Na paleta multicolor,
transformando o neutro
em algo sublime e belo.
E se uma lágrima cair
no teu pincel alado
Jamais te faça desistir.
É apenas para salpicar
com um tom e cheiro a mar
a beleza desse teu quadro.


BARRAFLORES03A

LUZ DE OUTONO
Esconde-se o sol preguiçoso
num apático sono.
É outono!
Envolvo-me nesta melancolia e
saio de mim.
Deixo-me trautear pela melodia que escuto...
Levito à mercê do que sinto
e entro neste labirinto, de silêncio absoluto.
Quem me lê ou vê que pensará?
Louca? Utópica? Que importa o que serei?
Sinto-me andorinha
buscando a luz e a vida em nova paragem...
Tal como ela sigo as coordenadas, os traços no céu
ambas partimos com destino e sem bagagem...
Eu, carrego apenas a luz que Deus me deu,
trago-a nas mãos (minhas asas).
Com elas vou tão além que
quase toco o infinito.
Não! O mundo não me retém
não permito que tal aconteça.
Se um dia calarem meu grito
que antes, eu pereça...
Continuo em debandada
e como andorinha
sou do mundo, emigrada...

BARRAFLORES03A

ABRAÇO-TE DIA
Abraço-te dia
Quando lento me despertas
Trazendo o cunho da vida.
Suavemente me ergues
Ao romper da alvorada
Sopras as minhas velas apáticas
e contorcidas,
Entrego-as a ti, de mão beijada.
No horizonte, desponta o sol
Riscando o céu de raios doirados...
São eles a ponte para chegar à minha alma
E apagar tudo o que nela resta
De tons cinzelados...
Ensolarada
Solto brados de louvor
Deixo-me ir, ao sabor
Duma prece ou poesia.
Ornamento-as com Jesus
Que afasta de mim a noite sombria.
E num abraço
Abraço-te também, Maria...
Bom dia, dia!


BARRAFLORES03A

ESTA SAUDADE
Porque me atormentas saudade
E me atacas sem piedade
Quando te penso derrotada?
Colhes-me sem pré-aviso e num momento impreciso
derrubas o meu escudo.
Deitas por terra, tudo!
Até as armas com as quais contra ti, luto...
Ah, tão astuta esta invasão dolente
que me oprime sem que eu a queira,
aceite ou afugente.
Olhando-me friamente, acho-me tão louca
num choro (quase) sem razão...
Verto lágrimas como um rio, frio
que me gela e inunda.
Num gesto de raiva profunda
Seco-as com a palma da mão.
Pergunto-me porque vacilo?
E me vergo sempre, ainda que inconsciente
a este sentimento, como uma redenção...
Neste sentir exacerbado, chamo-me de tola e exagerada.
Se sinto saudade é porque amo e se amar glorifica
Porque me sentirei derrotada?


BARRAFLORES03A

SENHORA DAS GRAÇAS
Mãos abertas para o mundo
Derramando graças, dádivas de amor
Ofertas-te a nós num abraço profundo
Revelas-te a todos em glorioso esplendor.

Olhar benevolente guardando a terra
Dissipando a dor que sem Ti, é sombria
Aplacando a ira dos corações em guerra
Apaziguando-os da raiva, numa suave melodia.

Avê Maria! O Senhor é Contigo
Bendito o Teu manto que nos protege
Feliz aquele, que de Ti é cativo
E que por teu amor caminha e se rege.

Avê Maria! Acérrima defensora
Dos pobres, fracos e oprimidos
Atenta a todo que com fervor Te implora
Ergues do chão os que estão caídos.

Bendita sejas pela intercessão
Quando a nossa oração cansada se cala.
Bendita sejas, porque na solidão
Teu regaço é a mão, que com amor nos embala.

Bendita sejas, nossa Senhora
Mãe do céu e redentora
Auréola de paz, de amor, nossa luz...

Louvada sempre sejas, Maria
Imaculada, Estrela que nos guia
Sem se cansar, até Jesus.

BARRAFLORES03A

FORÇA LUZENTE
 Que não se calem os silêncios que me falam
Em palavras sonantes que não digo
Onde as minhas mãos predestinadas, embalam
Traindo os segredos que trago comigo.

Que não se vá esta força luzente
Que me despe das vestes onde me escondo
E pondo a nu, o que não olho de frente
Me expõe a verdade sobre a qual, tombo.

Que não se extinga a penumbra da noite
Nem a lua, as estrelas, no céu gravadas.
Nem o deslizar das nuvens que num açoite
Enchem a minha noite de cores ensolaradas.

Que não se perca em mim por mais que doa
O saber abraçar tudo o que magoa
Ou a capacidade de verter uma lágrima contida.

Que não se perca em mim a vontade de sorrir
De olhar o sol, de amar, ou apenas ir

 À luta, em todas as curvas da vida.

BARRAFLORES03A

IMÓVEL
Imóvel, vagueio
pelas pedras repisadas do meu caminho,
recorto os pensamentos
entre os dias felizes e os mais cinzentos,
revendo cada espinho...
Estupidamente,
detenho-me sempre no que me dói.
Numa atitude quase masoquista
a minha mente traí o meu querer
e numa ousadia de conquista
calca sempre onde me faz mais doer...
Cada cicatriz mal sarada
que à força tento ignorar
não abre de novo por um triz
porque não me deixo avançar.
Respiro fundo...
Abro os olhos para o mundo
numa tentativa de me acordar.
Já desperta,
Inalo o perfume da vida
consentindo que me pinte de mil cores
lentamente adormeço as minhas dores
E renasço em cada ferida...
Invade-me a estranha certeza
De que uma luz de rara beleza
Se esgueira, 
incidindo neste breu.
    Fazendo de mim alguém mais forte
Vislumbro de novo o meu norte
E sei melhor quem sou eu.


BARRAFLORES03A

SE EU FOSSE POETA
Abro espaço no meu dia e voa a minha alma sem meta.
Numa velocidade estonteante, dotados de exactidão
seguem meus dedos pelo papel num incontrolável desafio.
Ora mel, ora fel numa estocada certeira
atingem sem piedade nem pré-aviso,
toda a minha verdade numa declarada guerra
de provocação..
Implacáveis, seguem caminho pelas veredas do que sou,
Chegam subtilmente de mansinho, onde guardo a minha essência.
Embora com prudência perco as forças,
não opondo resistência a esta forma de me descrever...
Leio um desfile de palavras que não ouço mas fazem eco em mim...
Traduzem lutas sem certezas e certezas pelas quais luto,
ataques e auto-defesas nem sempre conseguidos de modo mais astuto...
Sei contudo, que tudo somado é um contributo
Para que eu possa crescer...
Se fosse poeta inspirado, poderia florear a minha pessoa
Pintar de tom rosado até os recantos mais escuros
E fazer das minhas dúvidas um canal sempre seguro.
Porém sei que não posso nem devo
E aceito-me assim por mais que me doa
Tal e qual sou, sinto e me descrevo...


BARRAFLORES03A

QUANDO O MEDO VIER...
Quando o medo vier...
Altiva o olhar, num sereno face-a-face
Mantém o porte, recusando vassalagem
Que se neguem teus braços a um qualquer enlace
Deixa que se vá, cedendo-lhe a passagem...

Quando o medo vier...
Que não espere de ti suprema rendição
Nem o fortaleças dando-lhe protagonismo
Que não te absorva a sua escuridão
Nem tombes nas sombras do seu abismo.

Não chores sobre as trevas dos seus escombros
Sacode a cinza pesada dos teus ombros
Faz-te guerreira, empunhando a espada.

Fere-o de morte com investidas de glória
Resplandecente de luz, gritarás vitória
E do medo, restará apenas nada.


BARRAFLORES03A



BARRAFLORES03A


2 comentários :

  1. hoje estou muito triste sempre que tenho essas tristesa aparece alguma coisa que afasta tristesa mais este site encontrei muitas coisas que me emocionou estou chorando pergunto DEUS por que tudo comigo eu so queria intender sempre no meu silencio ja passei pra alguns amigos deve estar triste como eu 07 06 2012 hora 00:10

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  2. É bom saber que há alguém que fica melhor depois de passar pela minha poesia.
    Obrigada por deixar registado o seu pensamento.
    Abraço

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As palavras de amizade e conforto podem ser curtas e sucintas, mas o seu eco é infindável.
Madre Teresa de Calcutá