É constante a colisão com os contrastes. Quanto mais atentos estivermos a eles, maior será o impacto.
Por imposição da minha vida acabo o ano assim mesmo: colidindo com os contrastes!
A nossa progressão faz lembrar uma viagem com vários apeadeiros, onde saltamos de estação para apanhar o próximo comboio.
Estou no trem da meia-idade e trago na bagagem vivências acumuladas e recheadas de contrastes que não descarto, sob pena de deles necessitar como exemplo futuro para mim e para os outros.
Esta etapa intermédia tem o seu quê de confortável…
Dou-me ao luxo de mirar a janela da vida com um sorriso, de antever situações, advertir os mais novos, acompanhá-los nos seus sonhos e ser também eu, figurante deles. Mas também me acresce de responsabilidades e deveres...
A experiência deu-me traquejo e muniu-me de alguns antídotos que me defendem de determinadas situações que não desejo, mas deparo-me com outras para as quais não tenho capacidade para contornar ou dar resposta imediata. Como todo o percurso intermédio, há o antes e o depois, e se por um lado sou espelho onde os jovens se podem reflectir supostamente para tirar ilacções, por outro revejo-me naqueles que já apanharam o último comboio. Na recta final, eles são o confronto com o meu provável futuro e por mais que contraponha com os argumentos da incerteza e me agarre firmemente à confiança que deposito em Deus, não fico isenta daquela sensação de “friozinho no estômago “ que me deixa um travo amargo em relação ao desconhecido.
São estes os contrastes do meu presente!
Paralela a esta subtileza evasiva de sentimentos que não contorno, sou confrontada com a necessidade e obrigação de ter que fazer, de me dar e doar. De estar à altura para receber, aparar os estilhaços e minimizar os estragos do que colide contra mim. Contrastes que levam a que tenha que me desdobrar, saltando de carruagem conforme as necessidades.
Se por um lado vibro e dou graças pela brisa fresca trazida pelos mais novos, por outro quase me apago ao ver a degradação a que um ser humano pode estar sujeito e a consequente tristeza para onde a mesma os atira impiedosamente. Quem fica indiferente? Quem não se deixará arrastar por esta corrente tanto mais vertiginosa quanto mais se aproxima do seu final?
E são estes contrastes que me levam a pedir a Deus que me dote de sentimentos de piedade e de amor para me capacitar ao cumprimento do que me estiver destinado. Mas que o faça com alegria e não com um arrastado pesar. Porque é fácil recuar, viver e partilhar da alegria de quem tem ainda muitas carruagens para apanhar, mas muito difícil saltar à frente, ver e acompanhar a última viagem daqueles que amamos e que de nós dependem para que a mesma seja menos dolorosa e feita com mais dignidade.
Não sei o que irei encontrar quando me apear nem como será o meu próximo trajecto. Sei no entanto, que aqui e agora é urgente ter os pés firmes e uma mão auxiliadora na carruagem de trás e outra na da frente, mas ter dois braços abertos para abraçar todos ao mesmo tempo.
Para levar esta missão até ao fim, conto com um Amigo que não falha. Aquele que ao contrário de mim não hesita em descer do Seu pedestral para me confortar e abraçar.
Obrigada meu Amigo Jesus, por todas as paisagens que já me mostraste ao longo da minha viagem.
Obrigada quando me fizeste recuar ou avançar.
Obrigada pelas nuvens escuras que pairaram no meu trajecto, porque elas mostraram quão importante é a Tua Luz.
Obrigada pelos sinais que foste deixando como pontos de referência para que não me perdesse.
Obrigada quando me fizeste recuar ou avançar.
Obrigada pelas nuvens escuras que pairaram no meu trajecto, porque elas mostraram quão importante é a Tua Luz.
Obrigada pelos sinais que foste deixando como pontos de referência para que não me perdesse.
Obrigada Jesus pela vida que renasce a cada novo dia. Plenos de constrates que não são mais que degraus que me fazem progredir na viagem que me ofertaste como dádiva.
Dulce Gomes