O SOL DE CADA DIA

Porque é que um dia é mais importante do que o outro, se a luz de cada dia vem sempre do sol? Eclesiásticos 33,7

Esta foi a Palavra que “saltou” aos meus olhos, caindo como uma reprimenda.

Para além de estar um dia sem sol, também eu – fruto de algumas nuvens negras – tenho andado pouco ensolarada, coisa que me quebra a inspiração e a vontade de “arrepiar caminho”.

Ultimamente pareço ter sido assaltada por uma onda de ineficácia nos gestos e atitudes e para agravar, sinto-me impotente para enfrentar uma maresia crescente de provações que me abalroam, funcionando como um sinal de stop ao Sol que sei existir dentro de mim, muito embora pouco brilhe e transpareça por estar velado pelos desassossegos da vida que absorvo por ser demasiado permeável.

É neste encontro entre o que sou e existe em mim e o que transpareço, que sustento a minha reflexão.

Temos dificuldade em apreciar o Sol quando invisível e deixamo-nos ensombrar pelo negativismo das questões. Pomos em causa  o facto dele existir por e também para nós, para nos aquecer e temperar. Dificuldade em achar que até num dia de chuva, Ele resplandece por detrás das nuvens carregadas, clareando o nosso caminho.

Mais adiante ainda neste capítulo, leio assim:

“ Diante do mal está o bem, diante da morte está a vida, e diante do fiel está o pecador. Considera, portanto, todas as obras do Altíssimo que, duas a duas, estão todas, uma em frente da outra.”Eclesiásticos 33,14-15

Três lições tendo como base os opostos que se cruzam...

SABER TIRAR O BEM DO MAL; há sempre algo a aprender até com as maresias tempestuosas porque depois delas tudo se renova e ganha mais substância. "Aceita tudo o que te acontecer e sê paciente nas situações dolorosas, porque o ouro é provado no fogo e as pessoas escolhidas no forno da humilhação" Eclo 2,4.
A paciência e a tolerância é portanto uma virtude com a qual somos provados e que agrada ao Senhor.

DIANTE DA MORTE ESTÁ A VIDA; acaso uma planta quando morre não deixou a sua semente espalhada na terra que a irá fazer florescer? E quantas mortes não são vida? E a vida que esperamos em Cristo para além da morte? Aquela vida eterna que foi prometida para todos os que n`Ele crêm.
DIANTE DO FIEL ESTÁ O PECADOR: Esta dualidade existirá sempre em nós, seja no confronto com os que nos cercam, ou num conflito muito íntimo com o nosso interior como pecadores que somos. O esforço para mantermos a nossa fidelidade tem que ser permanente e vigilante. Esta vigilância faz-se buscando o Sol da Palavra, permitindo que Ela penetre e se espalhe, ganhando espaço às nossas trevas até as erradicar.

“Todas as obras do Altíssimo que, duas a duas, estão todas, uma em frente da outra.”

Nesta frase recebo o “xeque-mate”que me leva a uma só palavra: confiança.

Confiar é acreditar que o Sol permanece cá dentro ainda que oculto, como um pronúncio de que não tarda a revelar-se com todo o seu esplendor, rompendo por entre todos os meus poros, aproveitando a minha permeabilidade, tantas vezes fraqueza, para ressurgir de novo numa outra "frente" deixando para trás a que passou.
Bem e mal, morte e vida, fiel e pecador. Os opostos cruzam-se, chocam, mas hão-de eclodir partículas que nos engrandecem, compostas de sabedoria e discernimento que nos ensinam e impulsionam a continuar a caminhar por entre tempestades com a confiança que se seguida irão soprar ventos de bonança. 
Porque...
"O Senhor cuida daqueles que O amam. Ele é o escudo poderoso e sustentáculo forte, abrigo contra o vento sufocante e abrigo contra o ardor do meio-dia, protecção contra os obstáculos e socorro contra as quedas" Eclesiásticos 34,16-17

Obrigada Senhor pelo Sol da Tua Palavra. 

Dulce Gomes