Lagoa da Sancha. Ao fundo o mar do Norte
A necessidade de contacto com o mar é um dos – muitos – pontos que temos em comum, por isso deixamos que a vontade nos guie até ao areão grosso da nossa praia de eleição – Praia do Norte – e vamos “correr a costa”.
O olhar aguçado e experiente pelas muitas incursões feitas, conhecem de cor as dunas doiradas, os lagos, lagoas e poços; cada rocha, cada recanto; Os nossos ouvidos interpretam de cor a melodia das ondas soando num cântico indomável, convidando a um silenciar total, enquanto no horizonte passam velas libertas em busca do açoite dos ventos…
Nesta invulgar extensão de beleza quebra-se o silêncio pelo ranger dos nossos passos que se enterram quase até aos tornozelos e pelo piar constante das gaivotas que se espreguiçam em voos rasgados confirmando que o céu é para quem tem asas e que a nós, resta-nos arrastar o cansaço pelas falésias e dar asas à imaginação através dos seus trajectos.
Esta sensação de pequenez cimenta-se na constatação de que somos apenas mais uma entre milhões de espécies viventes. Insignificantes grãos de areia partilhando um pedaço de universo.
Ninho de maçaricos
Neste “correr de costa” a nossa atenção foi direccionada para um casal de maçaricos que piando aflitos no ar, comunicavam – entre si – numa linguagem codificada. Pelos movimentos, soou-nos a um alerta mútuo provocada pela nossa presença intrusa.
Os maçaricos (pequenos pássaros que chocam os seus ovos em cima de moitas no cimo da praia) de forma clara adoptaram uma estratégia inteligente para nos dissuadir de prosseguir. Depois dum frenético bater de asas poisaram os dois, e, enquanto um caminhava à nossa frente sempre à distância para nos despistar, o outro seguiu para o cimo da praia em direcção ao ninho para resguardar o seu bem mais precioso.
Olhamo-los, primeiro com surpresa e depois com respeito.
Seres tão pequenos, camuflados e quase imperceptíveis na diversidade imensa da natureza e capazes de gestos tão grandes, verdadeiras lições gratuitas de defesa e preservação da vida ainda que em formação.
Tudo isto se encontra à distância dum olhar mais atento, que por sua vez nos amolece a alma e nos abre o espírito para absorver da natureza mãe os “nutrientes” que nos alimentam e fazem pulsar mais forte a razão da nossa existência.
E nós, “grandes” seres dotados de raciocínio, diminuímos num todo quando renegamos o nosso poder instintivo, aquele que nos trás a espontaneidade das decisões e dos gestos que são – no fundo – o catalisador natural que transforma as pequenas em grandes coisas, saciando a nossa fome de viver…
Basta-nos tão pouco para ser felizes…porque complicamos? Talvez porque não somos como os maçaricos…
Dulce Gomes
Olá amiga Dulce,
ResponderEliminarAdorei o seu texto. Também aprecio a natureza e observar o que de tão belo nos oferece e ensina.
Nos últimos dias também temos andado a efectuar umas incursões semelhantes mas a norte de Sintra:)).
Entre pinhais e mar assim vamos passando uns dias muito agradáveis.
Um beijinho e tudo de muito bom.
Ailime